A jovem Ariana Santos, de 20 anos, continua internada em situação delicada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Geral Roberto Santos, em Salvador. Ariana está na unidade desde o dia 23 de junho, quando foi atingida por um tiro na cabeça durante uma ação da Polícia Militar da Bahia, no bairro de Sussuarana, região periférica da capital baiana.
O caso aconteceu quando a jovem e a irmã voltavam de moto de uma festa, por volta das 23 horas. Ariana estava na garupa da moto de um amigo e caiu após ser baleada. A família dela informou que o tiro foi disparado pela polícia, que nega o fato e alega que os disparos foram feitos pelos suspeitos que perseguiam. A mãe de Ariana, Vanessa, disse ainda que os policiais que socorreram a jovem disseram no hospital que ela tinha sofrido uma queda.
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Em entrevista exclusiva à Alma Preta, Vanessa contou sobre os momentos difíceis que Ariana tem passado no hospital e relatou que a jovem teve uma pneumonia e precisou passar por um procedimento cirúrgico para respirar melhor. Conforme a mãe, a bala alojada na cabeça da filha ainda não foi retirada já que, segundo os médicos, “ainda é muito cedo para fazer algum procedimento porque eles esperam como ela vai reagir aos tratamentos”, contou Vanessa.
Durante a conversa, a mãe de Ariana também revelou que os comerciantes do bairro onde ocorreu o caso têm sido coagidos a não fornecerem imagens de câmeras de segurança para a família do garoto que estava na moto com Ariana, apontado como um dos suspeitos pela polícia.
“Eles foram buscar as câmeras no mercado, mas não conseguiram porque o pessoal está sendo coagido. O pessoal do mercado, padaria, escola, eles estavam sendo coagidos a não entregar as câmeras”.
Por causa do trauma do caso, o garoto de 18 anos que pilotava a moto que levava Ariana deixou de trabalhar e está assustado. A família da jovem também nega que ele seja um dos 12 suspeitos apontados pela polícia.
“Ele ainda está um pouco amedrontado devido ao que aconteceu. Inclusive, ele está sem trabalhar porque ele é um menino de bem, trabalhador. É do trabalho para casa. Eu não entendo por que está acontecendo isso e não tem nada a ver com o que eles [a polícia] falam. Tanto que eles estão sempre mudando de versão”.
A repercussão do caso, que revoltou familiares e conhecidos de Ariana, provocou um protesto no bairro Novo Horizonte, onde ela mora, no último dia 28 de junho. Nos cartazes, os manifestantes escreveram frases: “Saia sempre de máscara e colete” e “Na Sussuarana, polícia mata mais do que a covid”. A família pretende fazer outra manifestação para que outros jovens e famílias não passem pela mesma situação.
Para a mãe, lidar com a saudade da filha alegre e ativa dentro de casa tem sido difícil para toda a família. “É difícil. Eu sirvo a um Deus vivo que tem me dado paz, me dado tranquilidade, mas tem hora que bate um desespero, saudade de ver uma menina saudável aqui brincando, conversando, me ajudando na casa… A falta fala mais alto. Eu creio que estou em paz, porém, muitas vezes a gente se pergunta o porquê. Estamos com o coração em paz e confiante no momento”.
PM nega versão da família
A versão da Polícia Militar foi que, no dia do ocorrido, policiais da 48ª Companhia Independente de Polícia Militar (Surruarana) faziam rondas na Praça Almiro Pinho, no bairro, quando avistaram 12 suspeitos em seis motos, que teriam atirado contra os agentes. Em nota, a assessoria informou que os policiais deram voz de parada para o grupo e atiraram para o alto. Logo depois, disseram que encontraram Ariana no chão e a socorreram. A PM comunicou que a Corregedoria está investigando o caso.
A Defensoria Pública da Bahia também apura o fato.
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