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Caso Scank: acusado de matar grafiteiro baiano está foragido

A principal suspeita é que Jailson Galdino, mais conhecido como Scank, e um amigo tenham sido confundidos com rivais de uma facção enquanto pichavam um muro no bairro do Imbuí, em Salvador
Imagem mostra Scank, um jovem negro retinto e que sorri. Ele está com uma regata vermelha e boné preto.

Foto: Arquivo pessoal

24 de outubro de 2023

Após três anos do assassinato do grafiteiro, pixador e artista visual baiano Jailson Galdino, o responsável pelo crime, identificado como Paulo Sérgio da Cruz, está foragido. O pedido de prisão preventiva foi decretado em maio deste ano pelo 1º Juízo da 2ª Vara do Tribunal do Júri de Salvador e até o momento ele não foi encontrado.

Jailson Galdino, mais conhecido como Scank, foi morto em fevereiro de 2020 enquanto pichava um muro no bairro do Imbuí, em Salvador (BA). A principal suspeita é que Scank e um amigo, que também era pixador e sobreviveu ao ataque, tenham sido confundidos com rivais de uma facção criminosa que atua na região.

Segundo informações do processo, ao qual a Alma Preta teve acesso, Paulo Sérgio da Cruz foi denunciado como um dos responsáveis por agredir os grafiteiros, atirar contra Scank e roubar o celular da vítima.

Paulo Sérgio foi identificado após a Polícia Civil rastrear o aparelho roubado e ser reconhecido como um dos autores do crime pelo amigo de Scank, que também foi agredido e conseguiu fugir. De acordo com denúncia apresentada pelo Ministério Público da Bahia (MP-BA), também há indícios de que o acusado integrava uma facção criminosa.

Em fevereiro de 2021, Paulo Sérgio foi apresentado no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), em Salvador, em cumprimento de busca e apreensão pela investigação da morte de Scank.

Durante o interrogatório, ele afirmou que recebeu o celular em troca do conserto de uma bicicleta e que jogou o aparelho no lixo após a tela quebrar. Paulo negou participação no homicídio de Scank e disse que no dia do crime estava na porta de casa sozinho.

Na última audiência sobre o caso, em maio deste ano, o juiz Vilebaldo José de Freitas, do 1º Juízo da 2ª Vara do Tribunal do Júri de Salvador, citou a ausência do acusado para o prosseguimento do processo e determinou a próxima audiência para março de 2024.

“Este processo já tem uma duração superior a três anos e o acusado, além do seu advogado, devidamente intimados não compareceram a esta audiência, trazendo, desta forma, empecilhos para a tramitação normal do feito”, cita um trecho do termo de audiência.

Procurado pela reportagem, o advogado citado no processo como defendor do acusado disse que não o representa mais. Segundo ele, na época do crime ele foi contratado apenas para revogar a prisão de Paulo Sérgio da Cruz e não foi mais procurado.

O crime

No dia do ocorrido, Scank e o amigo Lúcio* tentavam fazer uma arte em um muro deteriorado na Rua Jorge Amado, no bairro do Imbuí, quando foram abordados pelo denunciado e mais cinco homens que o agrediram e falaram para eles “respeitarem a favela”.

De acordo com relatório da Polícia Civil, os grafiteiros “possivelmente foram confundidos com integrantes de bando rivais e acharam que eles (vítimas) iriam pintar siglas de facções criminosas”.

Em seguida, as vítimas foram levadas para uma rua escura e Scank foi morto com um tiro. Lúcio* contou que só conseguiu fugir porque um carro passou pela rua e os agressores acharam que era uma viatura da polícia e fugiram. Em depoimento, o sobrevivente disse que chegou a ligar para o telefone de Scank, mas quem atendeu foi outra pessoa.

No dia do assassinato, Leonice Galdino, mãe de Scank, prestou depoimento na 1ª Delegacia de Homicídios e disse que a morte do filho não tinha qualquer ligação com rixa ou torcida organizada e que ele estava “na hora errada em lugar errado, tendo se encontrado com pessoas que covardemente tiraram sua vida”.

Ela também relatou que o filho confeccionava camisas, bolsas, blusas e quadros para vender e tinha “muita esperança de vencer na vida como grafiteiro”, sendo que ele também a ajudava a vender quentinhas.

Com a morte de Scank, Leonice, conhecida como Nice, se tornou uma ativista para manter vivo o legado do artista através da venda e divulgação do trabalho do filho. Ela faleceu em setembro de 2023.

À reportagem, o advogado Paulo Sérgio Nobre de Queiroz, de Jonatan de Souza Moreira, irmão de Scank, analisa que os grafiteiros foram vítimas da violência da facção, definida por ele como “Estado Parelelo”.

“Eles foram, provavelmente, confundidos. Eles estavam pichando o muro do ‘Bate Facho’ (comunidade na região) e o pessoal que comanda o Estado Paralelo naquela localidade achou que Scank e (…) eram inimigos e foram atacá-los. Eles foram vítimas dessa violência”, diz o advogado.

Quem era Scank

Oriundo do Subúrbio Ferroviário de Salvador, Jailson Galdino de Souza Santos começou a se interessar pela arte ainda na infância, quando passou a se inspirar pelas escritas nos muros da cidade e foi na escola, durante as aulas de desenho, que teve o primeiro contato com o graffiti.

Conhecido pela criação de caligrafias em diferentes estilos, passou a espalhar o seu trabalho pela capital soteropolitana em 2009, quando tinha 17 anos. Em 2019 foi selecionado para a “Cow Parade”, maior exposição itinerante de graffiti do mundo, onde pintou uma vaca estilizada com a sua caligrafia e as cores da bandeira da Bahia que foi batizada de “Baianinha”. A obra foi comprada em leilão pelo Esporte Clube Bahia.

Em 2019, Scank foi selecionado para a “Cow Parade”, maior exposição itinerante de graffiti do mundo, em que estilizou a obra “Baianinha”. Foto: Arquivo Pessoal

Em fevereiro de 2021, quando o assassinato de Scank completou um ano, familiares e amigos lançaram uma exposição virtual com as obras do artista, além de trabalhos inéditos que seriam exibidos em uma exposição internacional.

* Nome fictício utilizado para preservar a identidade da pessoa citada.

  • Redação

    A Alma Preta é uma agência de notícias e comunicação especializada na temática étnico-racial no Brasil.

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