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Coalizão Negra critica ‘apartheid de Israel contra a Palestina’

Organização se solidariza com famílias das vítimas de ataques do Hamas e critica ação militar "desproporcional" de Israel na Faixa de Gaza
Colunas de fumaça se erguem sobre prédios como consequência de ataques de Israel à região norte da Faixa de Gaza, em 14 de outubro de 2023

Foto: (Aris Messins/AFP)

14 de outubro de 2023

Neste sábado (14), o grupo de entidades do movimento negro brasileiro Coalizão Negra por Direitos publicou uma nota (abaixo) em repúdio ao que classificou de “apartheid” do Estado de Israel contra o povo palestino. A organização também prestou solidariedade às famílias israelenses vítimas de ataques do Hamas há uma semana.

A nota, que aponta papel do Estado israelense no fomento ao Hamas, enfatiza que Tel Aviv realiza ataques constantes contra a Palestina, causando a morte de civis em diversos momentos ao longo da história. A coalizão relata ainda que membros de organizações do movimento negro brasileiro presenciaram alguns desses ataques em território palestino.

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A classificação de apartheid é adotada por organizações internacionais como a Anistia Internacional, a Human Rights Watch e já foi sinalizada na Organização das Nações Unidas (ONU). Em relatório de 2022, o relator especial da ONU para Direitos Humanos na Palestina, Michal Lynk, apontou que as ações de Israel na região podem ser chamadas de apartheid.

A Faixa de Gaza — porção oeste do território palestino onde vive uma população de cerca de 2,3 milhões de pessoas altamente dependentes de ajuda internacional — está atualmente sob “cerco total” do Exército de Israel, que impede a entrada de alimentos e ajuda humanitária na região. Os israelenses também cortaram o fornecimento de eletricidade e água ao território sitiado, além de impedir a circulação de pessoas. O cerco é criticado pela ONU e diversas organizações internacionais.

As ações israelenses contra a região se intensificaram após ataques do braço militar do Hamas contra cidadãos israelenses — civis e militares — no último sábado (7). O ataque sem precedentes deixou pelo menos 1.300 mortos no país judeu, além de 3.227 feridos. Desde então, além do “cerco total”, Israel realiza intensos bombardeios na região de Gaza deixando pelo menos 1.537 mortos e 6.612 feridos. Autoridades israelenses têm afirmado que os ataques continuarão e ameaçam uma invasão terrestre ao território da Faixa de Gaza.

Leia abaixo a nota da organização na íntegra:

Coalizão Negra por Direitos se solidariza a familiares em luto e repudia o apartheid que o Estado de Israel impõe ao povo palestino

Manifestamos nossa profunda solidariedade ao povo palestino que sofre o desproporcional e continuado terrorismo do Estado de Israel e também ao povo israelense que tem experimentado nos últimos dias a violência dos ataques do Hamas.

É importante lembrar que a guerra deflagrada pelo ataque do Hamas a Israel no último sábado é a ponta de um iceberg de violência extrema vivenciado no território palestino. Em 2014, sob a pretensa de combater criminosos — tal qual os racistas fazem no Brasil — em um ataque a Gaza, o Estado de Israel vitimou mais de 2.000 pessoas palestinas, inclusive mulheres e crianças inocentes, além de destruir hospitais, escolas e itens básicos para a sobrevivência de uma comunidade.

Em julho deste ano, o Exército israelense, considerado um dos mais poderosos do mundo, atacou um campo de refugiados em Jenin (fundado em 1953, o campo de refugiados abrigou quase 18.000 dos 760.000 palestinos que fugiram ou foram expulsos de suas casas quando o Estado de Israel foi criado em 1948). A mídia branca ocidental não costuma dar destaque, mas segundo a legislação israelense, a maioridade penal é de 12 anos — para crianças palestinas—, que são alocadas em prisões com adultos, muitas vezes sem acusação formal ou julgamento.

Além disso, de acordo com a organização internacional Defense for Children International, nos últimos vinte anos cerca de 2.200 crianças palestinas foram assassinadas em decorrência da ocupação e presença israelense, cinquenta apenas este ano. Tudo isso em um contexto em que a justiça é feita por tribunais militares israelenses, sem nenhum tipo de fiscalização externa.

Durante este ataque, representantes do Movimento Negro Unificado e a Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, duas organizações que compõem a Coalizão Negra por Direitos, se encontravam em território Israelense e puderam presenciar o terror que é viver sob ameaça e controle do exército, além das mais diversas violações de direitos contra o povo palestino, como falta de acesso a água, despejos ilegais, onde suas terras são desapropriadas para a construção de assentamentos (condomínios) para judeus, em território Palestino, na Cisjordânia, onde também não há direito à livre circulação. Meses antes, em agosto de 2022, representantes da Casa Sueli Carneiro, que também compõe a Coalizão Negra por Direitos, estiveram na Palestina e em Israel quando puderam testemunhar como a extrema-direita israelense se beneficia com o enfraquecimento do Movimento de Libertação Nacional da Palestina – Fatah e o fortalecimento de grupos extremistas como o Hamas.

Em março de 2023, o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas (CDHNU) aprovou uma resolução crítica a Israel apontando “grave preocupação com relatos de graves violações dos direitos humanos e graves violações do direito internacional humanitário, incluindo possíveis crimes de guerra e crimes contra a humanidade, no Território Palestino Ocupado, incluindo Jerusalém Oriental”.

Na realidade existem diversas resoluções da ONU que denunciam a situação do povo palestino e que são ignoradas pelo governo de extrema-direita israelense, que desde 2009 tem intensificado a política de extermínio, apoiando direta e indiretamente as ações de colonos judeus — supremacistas civis — que vêm praticando atentados contra palestinos, sem que haja punição ou denúncia pública do caráter racista dessas ações.

Dados das Nações Unidas e organismos internacionais, como a Anistia Internacional (2022) e Human Rights Watch (HRW), em 2021, denunciam que Israel aplica um regime de apartheid contra a população palestina, que vem sofrendo com uma verdadeira limpeza étnica através de políticas de morte e expulsão de seus territórios, através da negação de direitos básicos, como acesso à água.

Tal qual a experiência de Apartheid na África do Sul, existem diversos “checkpoints” para permitir, ou não, a entrada de palestinos em suas próprias cidades. Israel controla e decide quem pode transitar em busca de emprego e alimentação, ou mesmo, permitir visitas a familiares que ficaram do lado oposto dos muros construídos em 2006.

Em maio deste ano, vários movimentos sociais do Brasil apresentaram uma carta de solidariedade à Palestina, solicitando a revisão das relações entre Brasil e Israel para pressionar o fim do Apartheid contra o povo palestino, dentre eles a CUT, MST e o Movimento Negro Unificado (MNU).

Tal resolução é referendada pela Anistia Internacional e grupos como o Julho Negro —organicamente negro e feminista, o Julho Negro é um evento de articulação internacional contra a militarização, o racismo e o apartheid no mundo.

Reconhecemos que o que está se passando com o povo palestino não é uma injustiça distante, separada da nossa realidade e que o regime de apartheid é um crime contra a humanidade baseado no racismo e no colonialismo, que tem como um dos efeitos colaterais o fortalecimento de grupos extremistas como o Hamas. Acreditamos que a luta contra o apartheid palestino orquestrado por Israel, também é a luta do povo negro brasileiro e deve ser assumida por todos aqueles e aquelas que defendem a dignidade humana.

Coalizão Negra por Direitos

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