Diante da crise financeira e desemprego agravado com a pandemia da Covid-19, foi registrado o aumento no número de pessoas com moradia que dorme nas ruas e vão em busca de alimentação por não ter renda, ou seja, que passaram a viver em situação de rua. O cenário foi identificado por um levantamento da Defensoria Pública da Bahia, que aponta que a maior parte dessa população é composta por pessoas que ficaram desempregadas e que, apesar de terem moradia, se mantiveram nas ruas por não ter comida em casa, dinheiro para pagar um transporte ou por vergonha de voltar para casa sem nenhum alimento.
“Foi uma mudança muito nítida no perfil das pessoas que ocupavam as ruas antes, que na sua grande parte não tinha para onde voltar e, durante a pandemia, quando a gente percebe pessoas que têm um domicílio, porém estão desempregadas, sem alternativa, e utilizando a rua como estratégia de sobrevivência”, relata Sandra Carvalho, assistente social que há 18 anos atua com a população em situação de rua.
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Por meio dos atendimentos, o projeto também identificou a manutenção da situação de rua em pessoas que recebem recurso de assistência social. Na capital baiana, o valor do auxílio do ‘Benefício Eventual’ é de R$ 300, valor insuficiente para manter gastos com alimentação e aluguel, por exemplo.
Em Salvador, alguns dos pontos que apresentaram maior aumento no número da população em situação de rua durante a pandemia foram a Praça da Piedade, Viaduto do Politeama, Aquidabã e Largo dos Mares. Segundo o projeto Pop Rua em Movimento, desenvolvido pelo Núcleo de Atendimento Multidisciplinar da População em Situação de Rua da Defensoria Pública, em média, são atendidas 150 pessoas em situação de rua por mês desde o início da pandemia.
De acordo com o último censo nacional da população em situação de rua, de 2008, a capital baiana contabilizava quatro mil pessoas nessa condição. No entanto, dados de 2020 do Censo Suas, realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), o número dobrou, passando para oito mil pessoas em situação de rua em Salvador. No entanto, o quantitativo representa apenas aqueles que deram entrada no CADÚnico, cadastro voltado para a inclusão de pessoas em situação de vulnerabilidade para inclusão em programas de assistência social.
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