Em Salvador, o índice de migração para outras cidades do país tem apresentado um crescimento nos últimos anos. De acordo com informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a capital baiana perdeu mais de 257 mil habitantes ao longo de 12 anos.
Para Tainara Ferreira, bacharel em Ciências Políticas e consultora em relações étnico-raciais, o fenômeno pode ser explicado pelo avanço na concentração de renda na região.
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A cidade, que ocupou a 8º posição no ranking entre capitais mais ricas do país em 2021, apresentou os piores índices de renda e desemprego no levantamento produzido pelo Instituto Cidades Sustentáveis. O estudo, de 2023, apontou que 16,7% da população soteropolitana acima de 14 anos estava desempregada.
A especialista indica que a busca por emprego e condições dignas de vida são alguns dos principais motivos da alta na migração, que afeta majoritariamente as pessoas negras.
“Em uma rápida observação é fácil perceber o quanto de dinheiro há em Salvador, e não é pouco. Enquanto isso, há uma parte significativa do nosso povo que não mede esforços para economizar, pois não tem renda suficiente. E muitos destes, principalmente negros, acabam indo embora de sua terra-natal para São Paulo ou Rio, buscando oportunidades para sobreviverem neste sistema”, ressalta.
A pesquisadora também reforça que o fenômeno se trata de uma consequência histórica do período escravista, que até hoje sustenta graves reflexos para a população negra. “Tendo a ascensão do capital concentrado nas mãos elite formada por brancos – que desde antes já mantinha este poder – o ‘sufocamento’ entre aqueles, oriundos das camadas mais baixas, está se tornando ainda mais evidente”, completa.
De acordo com Tainara Ferreira, Salvador tornou-se palco de um neocolonialismo bem-sucedido, como forma contínua e moderna do sistema racista e explorador sediado anteriormente, como capital brasileira após a invasão portuguesa. “Este êxodo é um projeto super rentável e concretiza o que já foi dito na música: ‘o de cima sobe e o de baixo desce’. Mas para quebrar essa corrente cruel é preciso se levantar, se rebelar, lutar em união em prol de um bem comum. Para isso, é preciso nos conscientizarmos”, completa.