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População negra é a mais afetada por crise de saúde e migratória no Acre

Igarapés e rios transbordaram causando enchentes que desabrigaram pessoas, centenas de migrantes haitianos se instalaram no estado, que é rota de saída do país; além disso, cresceram os casos de Covid-19 e de dengue

Texto: Flávia Ribeiro | Edição: Nataly Simões | Imagem: Marcos Vicentti /Secom Acre

Acre

Foto: Marcos Vicentti /Secom Acre

23 de fevereiro de 2021

Em situação de emergência, o estado do Acre passa por uma situação muito grave: crescimento dos casos de Covid-19, somado a um surto de dengue, enchentes que atingem várias cidades e desabrigaram centenas de moradores, e ainda há uma crise migratória vivenciada principalmente por haitianos que tentam acessar o Peru, mas foram violentamente reprimidos e estão acampados no Brasil.

“Analisando toda essa situação, percebemos que o público preto é o mais atingido em tudo. Há o racismo institucional, racismo estrutural, a ausência do auxílio emergencial que impacta diretamente a vida dessas pessoas. É importante falarmos também do racismo ambiental e do apagamento histórico que a Amazônia sofre e que foi amplificado com a pandemia”, analisa a socióloga acreana Jaycelene Brasil.

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Desde o ano passado os estados da região amazônica enfrentam uma série de problemas além dos impactos da Covid-19. Em novembro, o Amapá passou mais de 20 dias sem energia elétrica após um apagão, isso afetou serviços básicos como o abastecimento de água e de energia elétrica, prejudicando inclusive hospitais e maternidades. Já no início de 2021, o Amazonas passou pelo desabastecimento de oxigênio hospitalar, o que afetou principalmente os doentes da pandemia.

“A propaganda do ‘se puder fique em casa’ não serve para todos os grupos sociais. As pessoas mais atingidas são as que estão na rua, com trabalho informal. O desemprego, desigualdade e inflação impactam diretamente essas pessoas”, destaca Jaycelene, pontuando que o Censo Demográfico de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou que cerca de 72% da população do Acre se autodeclara negra.

Problemas vão além da pandemia

Em relação à dengue, a estimativa da Secretaria Estadual de Saúde era que em dois meses deste ano já havia mais de 8,6 mil casos da doença e mais de 5 mil em análise. A estimativa do governo estadual é de que a dengue seja responsável por 80% dos atendimentos nas unidades de pronto atendimento de Rio Branco.

O inverno amazônico, com transbordamento de rios e igarapés, é um dos fatores que contribuem para os alagamentos, que alcançaram 10 cidades acreanas. Desde a semana passada, o governo estadual decretou situação de emergência e contabiliza cerca de 130 mil pessoas atingidas em todo o Acre.

“Colapsando o sistema público de saúde, quem mais sofre é população preta porque ela ocupa os bairros vulneráveis, sem saneamento básico, onde não chega água potável com frequência. O índice desemprego faz com que as pessoas não acessem produtos de limpezas, tão necessárias, ainda mais nesse período”, destaca a socióloga.

Somado a tudo isso, o Acre também é atingido por uma crise migratória. Jayce explica que desde 2010 o estado começou a receber vários migrantes pela fronteira com a Bolívia, a maioria deles fugiram da crise no Haiti e buscavam emprego no Brasil. Agora, eles tentam fazer o caminho oposto, depois de perderem o emprego em outros estados, principalmente no Sul e Sudeste brasileiros. No entanto, encontraram uma barreira violenta da polícia peruana, que os impediram de cruzar a ponte que separa o município de Iñapari (no Peru) de Assis Brasil, que fica a 363 quilômetros de Rio Branco, capital do estado. “Mais uma vez, vemos o racismo em relação aos haitianos que são, genuinamente pretos e foram reprimidos violentamente. Há cenas de mulheres grávidas apanhando na ponte. A fronteira permanece fechada”, pontua.

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#SOSACRE

Para dar visibilidade à situação vivida noestado, a ganhador do Big Brother Brasil 2018, Gleici Damasceno, se uniu a amigos para fazer uma mobilização. Morando em São Paulo, ela tem acompanhado de perto todas as dificuldades. “Nessa época do ano já ficamos preocupadas com os casos de doenças. Não tem como não acompanhar. Toda a minha família mora lá. Ainda bem que todos estão saudáveis. Mas diante disso, eu e um amigo, o Renê, pensamos em como fazer para ajudar. Falamos com nossos amigos que são artistas e influenciadores que doaram e ajudaram a divulgar a campanha #SOSACRE, de mobilização para levar ajuda às pessoas”, comenta.

Para acessar a campanha, clique na imagem abaixo.

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