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Dia Internacional da Mulher surgiu de luta centralizada nas mulheres brancas

Revoltas de operárias norte-americanas e europeias deram origem a data
A imagem mostra mulheres protestando com cartazes. O Dia Internacional da Mulher surgiu a partir de protestos de operárias europeias.

Foto: Reprodução

8 de março de 2024

O Dia Internacional da Mulher, celebrado em 8 de março, surgiu a partir de revoltas de operárias norte-americanas e europeias por melhores condições de trabalho, igualdade salarial e direito ao voto. A data foi oficializada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1975 e há anos é questionada por ativistas negras e demais movimentos de mulheres por ter na sua origem pautas centralizadas na luta das mulheres cis brancas.

A criação do Dia Internacional da Mulher se dá por conta de décadas de engajamento político, revoltas e greve dessas mulheres brancas para o reconhecimento de suas forças de trabalho e direitos. Não há um acontecimento específico que originou a data.

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Em 1910, na cidade de Copenhague, capital da Dinamarca, o II Congresso Internacional de Mulheres Socialistas reuniu operárias de diversos países da Europa. Clara Zetkin, membro do Partido Comunista Alemão, era engajada em campanhas de defesa de mulheres no âmbito trabalhista e propôs a criação do Dia Internacional da Mulher, mas sem estipular um dia específico. A sugestão era fruto do feminismo que estava em ascensão na época. 

No dia 25 de março de 1911, um incêndio que atingiu uma fábrica em Nova Iorque, nos Estados Unidos, vitimou 146 pessoas, 125 mulheres e 21 homens, sendo a maioria dos mortos judeus. A data foi um marco importante para o estabelecimento da data, mas não a origem.

No ano de 1917, na Rússia, uma revolução ajudou a derrubar a monarquia czarista. Nesse período de agitação revolucionária, operárias do setor têxtil entraram em greve no dia 8 de março, o que foi considerado um feito que antecedeu a Revolução Bolchevique. Esses acontecimentos ajudam a explicar o surgimento da data.

Luta das mulheres negras

Décadas antes, em 1851, a afro-americana abolicionista e ex-escrava Sojourner Truth fez um discurso na  1ª Convenção Nacional pelos Direitos das Mulheres em Ohio (EUA) que trouxe à tona as camadas sociais que colocam as mulheres negras em um lugar de maior vulnerabilidade, expondo os discursos racistas, classistas e sexistas da hegemonia branca masculina e também das mulheres brancas que lideravam os movimentos por direitos iguais.

“Dei à luz treze crianças e vi a maioria delas sendo vendida como escrava, e quando gritei a minha dor de mãe, ninguém, a não ser Jesus, me ouviu! E eu não sou uma mulher?”, questionou Sojourner, na ocasião.

Passados mais de 170 anos do discurso da ativista, mulheres negras ainda chamam atenção para a valorização das interseccionalidades no debate sobre os direitos das mulheres.

Uma das questões levantadas nesse debate é o fato de as mulheres negras serem mais atingidas pela violência que as brancas, devido a fatores como maior vulnerabilidade.

Um levantamento recém divulgado pelo Instituto Sou da Paz, por exemplo, aponta que as mulheres pretas e pardas representam sete de cada dez mulheres assassinadas por arma de fogo no Brasil. 

As negras brasileiras também são mais afetadas pelas desigualdades na educação, no mercado de trabalho, na renda e na representatividade política do que as brancas, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O viés da  interseccionalidade também permeia a luta das mulheres trans. O Brasil é o país que mais mata essa população, de acordo com dados divulgados pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA)

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  • Patricia Santos

    Jornalista, poeta, fotógrafa e vídeomaker. Moradora do Jardim São Luis, zona sul de São Paulo, apaixonada por conversas sobre territórios, arte periférica e séries investigativas.

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