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Didi, o treinador negro no futebol do século XX

4 de julho de 2018

Com diversos prêmios nacionais e internacionais, Didi teve carreira no futebol como jogador e treinador, e ficou conhecido por inventar a técnica folha seca, que tinha o poder de mudar o rumo da bola e confundir adversários

Texto / Thalyta Martins
Imagem / Acervo histórico

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Valdir Pereira, conhecido pelos fãs como Didi ou “Mr. Football”, foi jogador e treinador de futebol que viveu seus anos de glória no século passado. Ele nasceu em Campo dos Goytacazes, no Rio de Janeiro, em 1928. O ícone morreu de câncer no mesmo estado, em 2001.

Jogou pelo Brasil nas Copas de 1954, 1958 e 1962 e foi campeão com a equipe nas duas últimas. Em 1958, ele foi eleito pela imprensa europeia como o melhor jogador da Copa desse ano.

Didi também teve carreira bem sucedida no Fluminense, de 1949 a 1956, e no Botafogo, entre 1956 e 1959. Ele jogou ainda no Real Madrid (ESP) de 1959 a 1960.

Como treinador, Didi, que inventou a técnica “folha seca”, em que uma batida com o lado externo do pé fazia a bola girar em torno de si mesma e modificar sua trajetória, trabalhou em diversos times, entre os quais os próprios Fluminense e Botafogo, River Plate (ARG), Cruzeiro, Atlético-MG, Fortaleza, São Paulo, Bangu e a seleção do Peru, contra a qual ele marcou um gol usando a técnica “folha seca” nas eliminatórias para a Copa do Mundo de 1958.

Inclusive, Didi conseguiu o feito de levá-la à Copa de 1970, disputada no México – a participação anterior dos peruanos fora em 1930, na primeira edição do torneio mundial.

Hierarquia racial nos espaços de controle nos grandes times: a experiência de Didi

Por que o melhor jogador da copa do mundo de 1958 não podia ser treinador? Apesar de ter declarado em entrevista à Folha de S.Paulo, em 1984, que ele e Pelé estavam livres de discriminação e que ele não teve problemas por ser negro, Didi foi alvo de uma crítica que desdenhava de sua atuação à frente da seleção peruana.

Em 1964, o jornalista Thomaz Mazzoni fez o seguinte comentário ao saber que ele aceitaria o cargo de treinador da seleção brasileira caso fosse convidado: “é conhecida aquela anedota do crioulo que só sabia falar na gíria do morro e que um dia foi com o seu patrão à França. Dois meses depois regressou, e quando no cais do porto, quiseram lhe fazer perguntas, respondeu pernosticamente que não entendia: ‘Falé francês, didon, eu só comprempá…’ E acabou apanhando. Assim estão certos craques e técnicos caboclos que têm ido ou estão no Exterior (…) Botam banca de sabidos, de catedráticos.”

Esta, que foi uma das muitas experiências de racismo pelas quais Didi passou, ainda que não admitisse com palavras, o afastou de seu sonho, com o qual foi para o túmulo: treinar a seleção brasileira.

Se estivesse vivo, tal qual o “caboclo” do comentário, mesmo com todas as experiências em outros lugares, Didi apanharia de sua pátria se ousasse sair da posição destinadas às pessoas negras no futebol: executoras do pensamento criado pela hierarquia racial dominante.

A crença coletiva de democracia racial quebra-se frente aos obstáculos postos no caminho de profissionais negros para espaço do poder, mesmo quando se trata de um ídolo que se prepara para ser treinador de um grande clube no país do futebol.

Se Didi não pôde ter a chance de treinar a seleção, o feito dele à frente da equipe nacional peruana é histórico e pode ser considerado análogo ao conseguido pelo argentino Ricardo Gareca, que reconduziu o país a uma Copa do Mundo após hiato de 36 anos – antes de 2018, a última participação havia sido em 1982.

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