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‘Distribuição de alimentos é a manutenção da fé e do axé’, diz pai de santo

O terreiro Ilê Ase Omi Ewe Ajase e Caboclo Folha Verde, localizado na periferia da Zona Norte de São Paulo, realizou nesta semana mais uma distribuição de cestas doadas pela campanha “Se tem Gente com Fome, Dá de Comer”

Texto e Imagem: Roberta Camargo | Edição: Nataly Simões

Imagem mostra pai e mãe de santo negros, vestidos com roupas brancas, segurando uma bandeira preta da Coalizão Negra por Direitos, com cestas de legumes e frutas ao fundo

6 de maio de 2021

Localizado na periferia do Jardim Peri, Zona Norte da capital paulista, o terreiro Ilê Ase Omi Ewe Ajase e Caboclo Folha Verde concentrou arrecadações de cestas de alimentos da campanha “Se tem Gente com Fome, Dá de Comer”. na quinta-feira (5). Foram 100 cestas com frutas, legumes e verduras orgânicas, que serão doadas às famílias que também receberão um vale compras.

“O terreiro é uma extensão da comunidade, a gente se torna uma referência por oferecer o alimento para sanar a fome dos outros”, declara o pai Marcelinho de Logunedé.

A ativista Adriana Moreira, da Coalizão Negra por Direitos reforça a importância da distribuição de alimentos em terreiros e o papel da alimentação para as religiões de matriz africana. “Historicamente, o povo de santo sempre teve uma relação de respeito e cultivo ao sagrado e com a terra. Retomamos princípios ancestrais aqui”, explica.

Em conversa com pai Marcelinho e mãe Shirley de Osanyin, Adriana reforçou o significado da parceria. “É uma entrega que fortalece os vínculos com o povo de santo e  é de fundamental importância tê-la”, afirma.

cestas verdes texto 03Na parceria da Coalizão com o terreiro Ilê Ase Omi Ewe Ajase e Caboclo Folha Verde, o diálogo foi sobre os planos para o futuro | Foto: Roberta Camargo/Alma Preta Jornalismo

Mãe Shirley de Osanyin conta que o trabalho realizado pelo terreiro vai além do espiritual. “É um lugar que presta acolhimento e com aliados como a Coalizão Negra por Direitos, a gente acredita que vai caminhar sempre no sentido de ajudar cada vez mais pessoas vítimas da fome”, conta a ialorixá.

A mesma perspectiva é compartilhada pelo ativista Douglas Belchior, da UneAfro Brasil, que compõe a Coalizão. “É uma campanha que tem construído relações de fortalecimento da luta política contra o racismo no Brasil inteiro e isso precisa incluir o povo de santo”, considera.

“O terreiro tem um poder civilizatório”

“A gente tem um espaço de acolhimento para oferecer, principalmente para a juventude preta. O terreiro tem um poder civilizatório”, destaca pai Marcelinho, que antes da pandemia realizava eventos ligados à educação e cultura no terraço do terreiro.

O espaço, chamado de Terraço 18, já abrigou mostras de arte negra e saraus. Segundo o pai, a arrecadação e distribuição de alimentos, é uma das formas de manutenção da fé e do Axé durante o período de isolamento social. 

Mãe Shirley relembra que se houvesse menos preconceito arrecadações de alimento como essa poderiam ter proporções ainda maiores e contemplar mais famílias. “Essas doações são muito importantes para mostrar o poder da união. E ainda tem muita gente na fila de espera”, conta. 

cestas verdes texto 01O terraço do terreiro existe há cinco anos na região do Jardim Peri, em São Paulo.  O espaço é dedicado à prática do acolhimento através de cultura e educação. | Foto: Roberta Camargo/Alma Preta Jornalismo

Apesar das dificuldades potencializadas pelo preconceito, os trabalhos para atender pessoas em situação de vulnerabilidade alimentar se mantêm. “Se a gente parar, seremos atropelados por tanta intolerância. A gente se utiliza disso para fazer valer a nossa ancestralidade e o que o Axé tem para oferecer de bom”, afirma a parceira de pai Marcelinho, que dá ênfase para o poder do terreiro na periferia. “A gente tem um modo de vida para ensinar para a sociedade tecnologias que garantem a sustentabilidade do Axé, através das trocas de Exú”, conclui o Ògá.

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