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Diversidade não é só contratar mais pessoas negras, dizem especialistas

Estudo mostra 118% de aumento na contratação de estagiários e trainees, entre 2019 e 2020; especialistas dizem que é preciso investir na fixação dos trabalhadores e na inserção nos cargos mais altos

Texto: Flávia Ribeiro | Edição: Nataly Simões | Imagem: Christina Morillo/Pexels

Diversidade nas empresas: imagem mostra jovens negras em uma mesa de reunião

Foto: Christina Morillo / Pexels

26 de fevereiro de 2021

O ano de 2020 foi atípico. Além da pandemia da Covid-19, as pautas raciais ganharam as manchetes mundiais impulsionadas pelo movimento Black Lives Matter, amplificado após o assassinato de George Floyd, em maio, nos Estados Unidos. O aumento da visibilidade de pautas raciais pode ter impulsionado a busca por profissionais negros. No ano passado, várias empresas do Brasil lançaram programas de seleção exclusivos para a inserção de pretos e pardos. Seja por interesse real, ou apenas por maketing, as empresas precisam conhecer os fatores que envolvem a diversidade.

“O primeiro passo é entender o cenário atual da empresa para identificar os problemas e traçar soluções. Também é muito importante, nesse primeiro momento fazer o trabalho de treinamento e conscientização com as lideranças da instituição. Com os problemas identificados, as soluções apontadas e a liderança engajada, podemos garantir a implementação desses programas da forma mais efetiva possível. Para programas de inclusão, é preciso entender, de fato, as necessidades do perfil da vaga, e também a realidade e as demandas dos grupos historicamente vulneráveis para que as exigências para a contratação não sirvam apenas para excluir esses candidatos”, comenta Luiz Fernando Ferreira, coordenador de comunicação da EmpregueAfro, consultoria de Recursos Humanos focada na Diversidade Étnico-Racial.

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Ferreira comenta que desde o assassinato de Floyd houve um crescimento no número de empresas que procuraram os serviços da consultoria, mas reitera que é preciso adotar medidas reais de mudança no ambiente corporativo. “Os treinamentos das lideranças e dos demais profissionais da empresa são necessários para preparar a empresa para a implementação dos programas de diversidade e inclusão e também para tornar o ambiente mais acolhedor e receptivo para esse novo público”.

Segundo o especialista, não basta dizer que incentiva a candidatura de grupos vulnerabilizados e manter as exigências comuns a outros grupos sociais. “Programas de seleção exclusivos são a única forma de garantir a inclusão de profissionais negros. Além disso, como aponta o MPT [Ministério Público do Trabalho], esses programas são ações afirmativas de reparação histórica, uma vez que a população negra foi historicamente excluída do mercado de trabalho e sofre até hoje com a desigualdade de salário e a dificuldade de ascensão profissional, quando comparada à realidade de pessoas brancas”, pondera.

Contratações de jovens negros e negras crescem 118%

As iniciativas levantadas pela EmpregueAfro foram confirmadas por um estudo da Cia de Talentos, empresa de processos de atração, seleção e desenvolvimento de jovens e média gestão, que analisou os dados de 60 companhias. O levantamento mostrou que entre 2019 e 2020, o número de contratações de jovens negros e negras nos programas de estágio, trainee e jovens executivos aumentou em 118%.

Mesmo com os dados positivos, é necessário que as empresas invistam para que a inserção abranja todos quadros. “As empresas tornam-se parceiras na luta antirracista, adquirem reconhecimento em âmbito da responsabilidade social corporativa, constroem ambientes diversos e alcançam melhores resultados financeiros. Contudo, é necessário pensar, em planos de diversidade, inclusão e permanência em todos os níveis, pois os indicadores demonstram que os cargos acima do nível de gerência contam com um número baixíssimo de negros (as) e principalmente de mulheres negras”, pontua Ednalva Aparecida de Moura dos Santos, diretora de Educação e Diversidade no Instituto Ser Mais.

No instituto, também houve aumento de demanda para investimento em desenvolvimento humano e profissional para jovens negros, bem como, para o encarreiramento profissional, sobretudo em grandes empresas. Entretanto, investir em diversidade é algo mais complexo do que postar fotos nas redes sociais.

Além disso, a diretora pontua que apesar de ganharem cada vez mais espaço nos debates, há diferença entre diversidade e inclusão. Diversidade é ter consciência e valorizar as diferenças, reconhecer que existe um país composto por pessoas diferentes, nos aspectos identitários, culturais e que em alguns aspectos perpassa pela orientação social, garantindo a pluralidade e os direitos humanos de cada cidadão (a). Inclusão é ter a consciência da ausência de determinados grupos e/ou pessoas na estrutura organizacional, seja na escola, no ambiente de trabalho e/ou outras instâncias.

“As empresas começaram a investir nessas pautas, por meio das áreas de responsabilidade social e atualmente evoluíram na criação de iniciativas, coletivos e núcleos compostos por colaboradores de diferentes senioridades, para construção de pautas antirracistas e inclusivas, além de metas de desenvolvimento, contratação e encarreiramento, na perspectiva dirimir o racismo institucional criado no último centenário”, finaliza Ednalva.

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