A taxa de extrema pobreza entre negros (pretos e pardos) representa mais do que o dobro se comparado com os brancos, segundo a Síntese de Indicadores Sociais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O levantamento mostra que em 2020, a extrema pobreza atingiu 7,4% dos pretos e pardos, enquanto a pobreza foi presente na vida de 31% desta população; já entre os brancos, o indicador marcou 3,5% e 15,1%, respectivamente.
Os dados mostram que mulheres negras tinham as maiores incidências de pobreza (31,9%) e extrema pobreza (7,5%) no período. O arranjo domiciliar chefiado por mulheres pretas ou pardas, sem cônjuge e com filhos menores de 14 anos, concentrou a maior incidência de pobreza: 17,3% dos moradores desses arranjos tinham rendimento domiciliar per capita inferior a US$ 1,90 e 57,9%, inferior a US$ 5,50.
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“Em 2020, o país tinha 7,3 milhões de pessoas (3,5% da população) com rendimento mensal per capita de até R$ 89, abaixo da linha de pobreza extrema do Bolsa Família. Considerando-se a linha de extrema pobreza do Banco Mundial (renda de US$1,90/dia, ou R$155 mensais per capita), encontramos 12 milhões de pessoas (5,7% da população). Já abaixo da linha de R$ 261 per capita, havia 22 milhões de pessoas (10,5%)”, diz o informe
Para se enquadrar na pobreza, segundo a síntese, há a linha de elegibilidade do Bolsa Família (R$ 178 per capita), que concentrava 13,6 milhões de pessoas (6,5% da população); a linha do Banco Mundial de US$ 5,50/dia, que estava em R$ 450 mensais per capita e reunia 50,9 milhões de pessoas (24,1%), e a linha de meio salário mínimo utilizada para o Cadastro Único do Governo Federal, que estava em R$ 523 per capita e incluía 61,4 milhões de pessoas (29,1%).
Sem os benefícios sociais, o recorte por cor ou raça mostram que os índices mais do que dobram para pretos e pardos: a taxa de extrema pobreza sem os programas é de 17,0% e, para brancos, de 7,6%. “A diferença passaria, então, de 3,9 pontos porcentuais para 9,4 p.p. Mulheres pretas e pardas alcançariam a taxa de pobreza mais elevada entre os grupos (42,4%)”, aponta levantamento.
Taxa de ocupação e rendimento
Os dados mostram também que devido à pandemia de Covid-19, a taxa de ocupação no Brasil foi a menor da série histórica: 51,0%, o que também contribui para a pobreza no país. A taxa de informalidade empregatícia entre pretos e pardos no período analisado era 44,7%, ante a 31,8% de brancos. Além disso, os negros representavam apenas 53,5% da população ocupada, mas trabalharam 64,5% mais horas do que os brancos.
Eles também ocupavam vagas de emprego no setor da agropecuária (60,7%), na construção (64,1%) e nos serviços domésticos (65,3%), atividades com rendimentos inferiores à média em todos os anos da série histórica.
Na comparação com 2019, os efeitos da pandemia no mercado de trabalho afetaram mais os grupos vulneráveis, em situação de pobreza e com menor escolaridade. Os contingentes de mulheres (-10,9%) e de pretos ou pardos (-10,5%) sofreram as maiores reduções nas ocupações, considerando todos os níveis de instrução. Houve também grande queda de pessoas ocupadas sem instrução ou com o ensino fundamental incompleto (-19,0%).
Em média, a população branca garantiu um rendimento mensal de R$ 3.056, 73,3% maior que o da população negra (R$ 1.764) em 2020. No recorte de gênero, os homens obtiveram rendimento de R$ 2.608, 28,1% maior do que o para as mulheres (R$ 2.037).
Homens pretos e pardos morreram mais pela Covid-19
No ano passado, a Covid-19 foi a causa da morte notificada de 209,7 mil pessoas no país, sendo 200,6 mil mortes registradas com cor ou raça. Desse total, foram identificadas 101,9 mil pessoas brancas e 98,7 mil, pretas ou pardas. No entanto, homens pretos e pardos morreram mais da doença, no primeiro ano da pandemia, do que homens brancos. Já entre as mulheres, houve um maior número de vítimas brancas, segundo diz o levantamento.
Em todas as idades, homens pretos e pardos foram as principais vítimas da Covid-19 (28,7% das pessoas com identificação de cor ou raça), morreram mais que os brancos (28,4%). Por outro lado, ocorreram mais mortes de mulheres brancas (22,4%) do que pretas e pardas (20,4%). Essa diferença entre homens e mulheres por cor ou raça se deve à sub-representação de pretos e pardos na faixa etária dos 70 anos ou mais, em razão da menor expectativa de vida desse grupo social, pobreza e maior mortalidade pela Covid-19 entre os idosos.
“A variação do número de óbitos está relacionada ao estilo de vida individual, pobreza e às condições de vida de grupos sociais. Pretos e pardos têm menor acesso à serviços de saúde e, portanto, menores condições de prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças”, finaliza o informe.
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