A sensação é que as velas acesas não emitiam quase nenhum calor. A temperatura no totem público que marca a hora e a temperatura registrava 17ºC. Dezenas de pessoas participavam da vigília contra o genocídio do povo negro, em frente ao MASP (Museu de Arte de São Paulo), tradicional ponto de manifestações da capital paulista. O ato foi convocado pela Coalizão Negra por Direitos.
Cartazes e discursos sobre o assassinato frequente de corpos negros pelo Estado e a necessidade de união e organização de luta entre negros e brancos pela agenda antirracistas marcaram a vigília.
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“A luta do povo negro contra o genocídio vem de muito longe. Lá atrás, quando surgiu o chamado esquadrão da morte, que aterrorizava a cidade, a primeira vítima foi um corpo negro”, disse Milton Barborsa, o Miltão, co-fundador do MNU (Movimento Negro Unificado).
As execuções de pessoas negras pelo esquadrão da morte, durante o período da Ditadura Militar, foram lembradas por conta dos assassinatos recentes da gestante negra Kethlen Romeu, de 24 anos, morta por um tiro de fuzil disparado pela Polícia Militar do Rio de Janeiro, na terça-feira (8); e do tatuador Gilberto de Lima, 30 anos, executado dia 15 de maio, na favela Felicidade, na Zona Sul de São Paulo, com seis tiros disparados por policiais civis.
“Meu irmão era um trabalhador, era começo da tarde e ele estava andando perto de casa. Foi morto pelo racismo do Estado. Foi morto como são mortos cada vez mais negros nesse país”, lembrou Jefferson Lima, irmão do tatuador que era conhecido como “Gibinha”.
Os cartazes exibidos por jovens que participavam da vigília diziam que não existe “caso isolado” quando se fala em morte nas mãos do Estado e nem “bala perdida” quando se trata de operação policial dentro de favelas. “As balas sempre encontram os corpos negros”, dizia um cartaz, enquanto o frio e o vento da noite paulistana insistia em apagar as velas deixadas na calçada pelos manifestantes.