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‘Não queremos falar de morte. Queremos falar de vida’, diz amiga de Kathlen Romeu

A amiga da modelo e designer de interiores assassinada em ação da polícia no Rio de Janeiro nesta semana está “sem chão”; Para ela, a favela precisa ser vista por sua potência em vez de um território onde os corpos negros não têm história e nem direito à vida

Texto: Juca Guimarães I Edição: Nataly Simões I Imagem: Reprodução/Redes sociais

A modelo e designer de interiores Kathlen Romeu, morta pela Polícia Militar do Rio de Janeiro em 8 de junho de 2021

10 de junho de 2021

Kathlen Romeu, de 24 anos, morta atingida por um tiro de fuzil disparado pela Polícia Militar do Rio de Janeiro, era uma pessoa alegre e carismática, conforme relata a amiga Mariana de Paula, de 27 anos, em entrevista à Alma Preta Jornalismo.

Assim como Kathlen, Mariana fazia parte do grupo Comunidade Black, formado por jovens negros do Rio de Janeiro. Mariana pediu para ser madrinha do bebê de Kathlen, junto com outros 20 amigos do grupo, para reforçar os laços entre eles.

“Quando morre um corpo preto, isso afeta todos nós, mas quando atinge alguém que a gente conhece e ama a dor desestabiliza e desestrutura. Eu estou sem chão”, desabafa a amiga.

Mari, como é chamada pelos amigos, diz que a voz de Kathlen parecia com a de um desenho animado. “Estou em choque em saber que não vou mais ver ela fazendo palhaçadas e dançando. Ela era isso, ela era só alegria. Ela era só amor”, recorda.

Leia também: Caso Kathlen: não é perdida a bala que tem sempre o mesmo endereço

Para a amiga de Kathlen, a morte  da jovem, assim como a de todas as outras vítimas da violência do Estado, não pode ser em vão. “A vida dos amigos, dos parentes e de quem mora no Lins foi afetada porque a Kathlen era inspiração para muita gente. No Lins e fora dele também”, reitera.

“É uma sensação de impotência ver essas pessoas negras serem mortas de forma tão violenta e brutal. É como se os nossos corpos já não tivessem vida, não tivessem história ou sonhos. Só o fato da nossa cor ser preta significa que somos inimigos”, acrescenta Mariana.

A criação de políticas de segurança pública para acabar com a violência que atinge, sobretudo, a população negra, é urgente, conforme salienta a amiga da modelo e designer.

“Não quero mais falar de morte. O povo preto tem muita coisa boa para mostrar. O povo é potente, é inteligente, se constrói e reconstrói. O que o povo preto faz na favela nenhum branco vai fazer, não da forma como a gente faz e com a inovação que a gente tem. Queremos falar de amor, de vida, de felicidade e conquistar nossos sonhos”, conclui.

O assassinato

A modelo e designer de interiores estava grávida de quatro meses e foi morta após ser atingida por disparados de fuzil em uma ação indevida da Polícia Militar do Rio de Janeiro na terça-feira (8) ,no Complexo do Lins, Zona Norte da cidade. Kathlen não morava na favela há dois meses e estava no local com a avó a caminho do trabalho da tia. A jovem foi socorrida e levada ao Hospital Salgado Filho, no Méier, mas não resistiu.

A mãe de Kathlen criticou a ação da polícia dentro do Complexo do Lins, em participação em um programa de televisão nesta quinta-feira (10). “Isso não vai parar. E quem está no meio disso? Esse problema não é nosso. Este problema é do estado, que está agonizando. E a gente está pagando a conta”, afirmou Jaqueline de Oliveira Lopes, à TV Globo.

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