A vacinação infantil contra a Covid-19 no Brasil começou na sexta-feira passada (14) em São Paulo com a imunização do Davi, menino de oito anos de idade e indígena da etnia Xavante. Diante do avanço da vacinação nas crianças, volta à discussão o debate sobre a importância da imunização para esse público e a preocupação de alguns pais sobre os efeitos adversos da vacina.
O Ministério da Saúde recomenda que as crianças de cinco a 11 anos com comorbidades, deficiências, indígenas e quilombolas sejam o grupo prioritário para receber as doses. São utilizadas as vacinas da Pfizer e a da Coronavac, liberada pela Anvisa nesta quinta-feira (20) em crianças e adolescentes de 6 a 17 anos. O Governo de São Paulo está fazendo também um pré-cadastro opcional para agilizar o atendimento nos locais de imunização.
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Segundo Naiá Ortelan, epidemiologista do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (CIDACS) e com experiência em Nutrição Materno-Infantil e Promoção da Amamentação, a vacinação é a forma mais eficaz de prevenir a contaminação do vírus responsável pela Covid-19.
“É bom ressaltar que, quanto maior o número de infectados, maior é a probabilidade de surgirem novas variantes e novas cepas desse vírus. Então, quanto maior o percentual da população estiver vacinada, menor a probabilidade das novas cepas surgirem”, explica a epidemiologista.
De acordo com Adriano Vendimiatti Cardoso, médico, escritor e divulgador científico, é muito difundida a ideia de que a Covid-19 costuma dar menos sintomas nas crianças, mas isso em comparação com os adultos. Entretanto, quando se compara os quadros de Covid-19 em crianças com outras doenças de infância, se percebe o quão grave o vírus é. Além de que a forma como a criança vai lidar com o vírus depende de seu quadro de saúde anterior e da situação de vulnerabilidade em que ela se encontra.
“Se a gente for olhar para os últimos dois anos, a Covid foi uma das maiores causas de adoecimento, internações e mortes nas crianças no mundo todo. Um dos campeões desses números é o Brasil. Se você for pensar em todas as doenças que são infectocontagiosas, nenhuma matou mais crianças que a Covid no ano de 2021”, pontua o médico.
No Brasil, foram 1449 crianças de até 11 anos mortas pela Covid-19 desde o início da pandemia, segundo a nota pública de membros da Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização da Covid-19. “É interessante colocar também que mais de 2/3 das mortes de crianças no Brasil são de crianças pretas, pardas ou indígenas, o que mostra como essa população, até pela questão socioeconômica, está mais vulnerável”, ressalta o médico.
Diante da variante ômicron, a mais transmissível das cepas do novo coronavírus identificada até então, e da proximidade do retorno às aulas, o perigo de não vacinar as crianças aumenta ainda mais segundo os especialistas. “As crianças já tem naturalmente uma certa resistência em relação à Covid. Elas pegam menos. O problema é a ômicron. A ômicron está vencendo sobremaneira essa capacidade das crianças. Ela é mais virulenta que qualquer cepa que já surgiu até agora. Então, ao meu ver, as crianças poderiam estar frequentando as escolas com tranquilidade depois da segunda dose da vacina. Até que isso se complete, talvez, poderia ser feito um caminho híbrido”, explica Cardoso.
Medo dos efeitos adversos da vacina
Nesta semana, a prefeitura de Lençóis Paulista, em São Paulo, suspendeu a vacinação infantil da cidade por sete dias para investigar o caso de uma criança que teve parada cardíaca 12 horas após a aplicação da dose. Pouco depois, descartou-se a ideia de que a vacina seria causadora do efeito, mas, sim, um quadro clínico da criança anterior e desconhecido pelos pais. Situações como essa acabam também despertando mais medos e dúvidas dos pais em relação aos efeitos adversos da vacina em seus filhos.
“Os pais sempre souberam que existe reação da vacina. Eles nunca tiveram medo, porque isso talvez nunca foi colocado de maneira tão errada. A vacina nova não é uma vacina experimental ou desconhecida. Por diversas vezes, pais aqui no Brasil deram para seus filhos uma vacina que acabou de sair. Só que eles não tinham medo disso, porque nunca foi colocado esse medo na cabeça deles como é colocado hoje e com cunho político”, ressalta Cardoso.
Apesar da preocupação de alguns pais, um levantamento da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) revela que mais de 80% dos entrevistados da pesquisa ‘VacinaKids’, realizada entre 17 de novembro e 14 de dezembro, têm a intenção de imunizar os filhos contra a Covid-19.
De acordo com o médico Adriano, as reações adversas mais comuns da vacinação infantil da Covid são dor no local da aplicação, uma possível febre leve por um ou dois dias e dor no corpo. Reações graves, como miocardite, são muito raras no mundo, acontecendo uma vez a cada milhões de pessoas imunizadas.
A epidemiologista Naiá Ortelan também destaca que um estudo recente feito pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos revela que, em cerca de 8.7 milhões de doses aplicadas em crianças de cinco a 11 anos da Pfizer, 4249 reportaram algum tipo de efeito adverso, sendo que 97,6% não eram sérios. Menos de 3% reportaram casos graves de efeitos adversos e, ainda assim, eram crianças com quadros clínicos fragilizados anteriormente. “Os maiores efeitos adversos seriam esses de fato, delas terem dor no braço, um cansaço, dor de cabeça talvez febre, vômito”, destaca a epidemiologista.
O médico Adriano ressalta não existir nenhum caso na História de vacinas que causaram sequelas a longo prazo e também não existe nenhum caso reportado desde o início das vacinações em massa para a Covid-19. “Não existe a possibilidade de sequelas pela vacina, da criança ter alguma coisa a longo prazo. Em contrapartida, isso não é verdade para o vírus. Nós não sabemos quais serão os efeitos nas crianças daqui a cinco a 10 anos por ter contraído Covid”, finaliza.
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