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Estudo mapeia disparidades raciais na jornada empreendedora nos EUA

Dados mostram que apenas 5% da população negra estadunidense possui o próprio negócio
Imagem mostra um grupo de pessoas em uma mesa, duas negras e duas brancas.

Foto: Pexels/Tima Miroshnichenko

1 de maio de 2024

Pesquisas sobre disparidades raciais no empreendedorismo costumam focar, frequentemente, nas barreiras estruturais aos recursos necessários para se iniciar um negócio. Apesar disso, um novo artigo do Professor David Robinson da Duke Fuqua School of Business, escola de Negócios da Duke University, nos Estados Unidos, argumenta que algumas condições determinantes psicológicas e sociais podem também desempenhar um papel nas fases iniciais da jornada empreendedora, especialmente para a comunidade negra.  

No estudo “Por que não existem mais empreendedores minoritários?“, os professores Robinson e Victor Bennett, da Universidade de Utah, examinaram as possíveis causas por trás das disparidades raciais e de gênero relacionadas ao processo de lançamento de um negócio. 

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“Entender as disparidades raciais vinculadas às atividades de startups tem sido uma questão importante há muitos anos na pesquisa sobre empreendedorismo. Senti que o assunto ganhou mais importância na esteira dos eventos relacionados à morte de George Floyd, em 2020. Foi quando Victor e eu começamos a trabalhar nessa questão pela primeira vez”, destaca.  

Examinando o caminho para startups 

Dados mostram que apenas 5% da população negra dos Estados Unidos possui o próprio negócio, contra mais de 9% da população branca. 

Embora tradicionalmente se acredite que disparidades econômicas e barreiras de acesso ao capital expliquem o gap racial relativo à propriedade de empresas, buscou-se testar como o padrão racial pode afetar potenciais empreendedores em todas as etapas de sua jornada para a criação de uma empresa.

Para isso, os autores basearam-se em pesquisas anteriores de Bennett e do Professor Aaron “Ronnie” Chatterji, da Duke Fuqua. Nelas, verificou-se uma amostra representativa da população dos Estados Unidos sobre tais medidas e também por meio da coleta de dados raciais, disse Robinson.

Os pesquisadores desejavam descobrir se as pessoas negras são mais ou menos propícias a criar ideias de negócios e o nível de confiança em relação ao potencial de sucesso dessas propostas. Eles também mensuraram as mesmas variáveis entre a população hispânica e as mulheres. Ambos os grupos também ficam atrás dos homens brancos em relação ao número de empresas abertas. 

Respostas obtidas com os mais de 51 mil entrevistados por Bennett e Chetterji, entre 2015 e 2017, mostraram que as pessoas negras são mais propensas do que as brancas a considerar uma ideia de negócio. Porém, não indicaram diferenças significativas em relação ao grau de confiança no sucesso da proposta. 

Os pesquisadores perceberam também que, entre os que responderam considerar iniciar um negócio do zero, as pessoas negras são menos propensas a começar um projeto novo.

Para entender o motivo das ideias não avançarem, os professores analisaram quatro estágios fundamentais que os empreendedores atravessam em suas jornadas. 

1 – a “socialização” da ideia, ou seja,  conversar com os amigos ou outras pessoas em sua rede

2 – a “codificação” da ideia, como criar um plano de negócios

3 – Buscar feedback do mercado, como construir protótipos 

4 – Buscar conselhos financeiros e profissionais 

Uma diferença nos primeiros passos 

Os autores esperavam que o acesso ao capital ou a obtenção de um retorno do mercado e orientação profissional poderiam ser as barreiras. “Mas ficamos realmente surpresos de que essa não era a única explicação”, afirmou Robinson.

Na verdade, os pesquisadores não observaram nenhuma diferença significativa entre as populações negra e branca nas fases finais antes da criação de uma startup, incluindo a codificação da ideia e conversas com potenciais investidores.

“As pessoas negras não mostraram nenhuma lacuna clara nas habilidades de informação essenciais necessárias para iniciar um negócio”, disse Robinson.

Segundo ele, onde as diferenças raciais realmente surgiram foi nos primeiros passos da jornada empreendedora, ou seja, quando a ideia é compartilhada com amigos.

Os pesquisadores descobriram que as pessoas negras têm menos probabilidade do que as pessoas brancas de compartilhar a ideia com amigos, embora tenham mais probabilidade de falar sobre ela com especialistas que não conhecem.

Entre aqueles que consideraram uma ideia de negócio e a compartilharam com amigos, as pessoas negras tinham menos probabilidade de eventualmente iniciar um negócio, de acordo com os resultados. No entanto, quando compartilharam a ideia com especialistas que não conheciam previamente, não foram encontradas diferenças raciais na formação de empresas, disse Robinson.

“O que isso sugere para nós é que talvez haja alguns custos sociais ou psicológicos em compartilhar a ideia dentro da comunidade” , disse ele. Robinson destaca também que os dados não permitem que os pesquisadores identifiquem uma causa direta para a lacuna racial.

“Pode haver o medo de falar com conexões pessoais sobre uma ideia que pode não ter sucesso, mas pode haver uma lacuna de conhecimento dentro da própria comunidade”, disse Robinson. “Ou também pode ser que o indivíduo tenha uma convicção mais forte desde o início, e é por isso que eles procuraram uma pessoa especialista estranha para conversar”, destaca.

Os pesquisadores também descobriram que entre as pessoas negras de alta renda que conversaram com especialistas estranhos, a taxa de formação de empresas é igual a das pessoas brancas, enquanto o mesmo não acontece com os respondentes negros de baixa renda, um fato que pode novamente falar sobre uma divisão de riqueza no acesso a informações e financiamento.

Potenciais políticas públicas

Se conversar com um especialista fora da rede de uma pessoa “atenua drasticamente a diferença racial na atividade empreendedora”, então esta pesquisa pode sugerir algumas percepções facilmente aplicáveis para os formuladores de políticas públicas, disse Robinson.

Ações governamentais de baixo custo, como programas de mentoria ou de construção de comunidades, podem fornecer as informações iniciais de que os empreendedores necessitam antes de avançar para etapas mais caras, disse ele.

Ele mencionou o exemplo do programa “1 Million Cups” (1 milhão de xícaras) da Fundação Kauffman, em que aspirantes a empreendedores conversam com especialistas em negócios estabelecidos em suas comunidades.

“Programas como esses podem ser um mecanismo muito eficaz para abordar as diferenças estruturais no empreendedorismo”, disse Robinson. “Se receber um empurrão do especialista é tão útil, então promover mais canais de busca de conselhos poderia ser uma maneira de baixo custo de ter impacto nos resultados empreendedores em comunidades tradicionalmente sub-representadas.”

Para mais informações sobre a pesquisa, acesse aqui.

  • Redação

    A Alma Preta é uma agência de notícias e comunicação especializada na temática étnico-racial no Brasil.

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