As mulheres negras são minoria em cargos executivos, mas as que conseguem driblar as desigualdades e ter chances de chegar a essas posições são as profissionais mais engajadas do país. De acordo com uma nova pesquisa, 84% das executivas pretas estão engajadas nas empresas em que trabalham.
O estudo é do Engaja S/A, primeiro Índice de Engajamento de Funcionários no Brasil realizado pela Flash, plataforma de gestão da jornada de trabalho, em parceria com a Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP) e o Grupo Talenses.
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A média geral de engajamento dos executivos entrevistados é de 60%, e dos demais colaboradores é de 33%. A pesquisa ouviu 1.732 trabalhadores de todas as regiões do Brasil, sendo que 481 estão em cargos executivos.
A metodologia idealizada pela FGV avalia 6 dimensões: ambiente de trabalho positivo, trabalho com significado, confiança na liderança, boas práticas de gestão, oportunidade de crescimento e remuneração. Juntas, essas dimensões ajudam a manter os trabalhadores envolvidos com os objetivos da empresa, motivados a contribuir para o sucesso organizacional e dispostos a melhorar seu próprio bem-estar.
“Ao apontar que quase 85% das executivas negras estão engajadas com as suas companhias, podemos concluir que essas profissionais estão, acima da média, comprometidas com os objetivos e valores da organização, motivadas e dispostas a contribuir para o sucesso organizacional. Isso significa que estas profissionais têm potencial de gerar um grande valor para as empresas, tanto pela sua performance individual quanto em cultura, no coletivo, pela maneira que podem vir a se relacionar e influenciar positivamente outros colaboradores”, afirma Alana Mendes, CHRO da Flash.
Executivas negras têm os salários mais baixos
Apesar de serem as profissionais mais engajadas do Brasil, o que também significa que são mais produtivas e possuem maior potencial para gerar valor para as empresas, as executivas negras estão insatisfeitas com algumas práticas corporativas que podem prejudicar o seu crescimento.
Segundo o índice Engaja S/A, as práticas que mais geraram insatisfação foram: remuneração (21,31% de desengajadas), boas práticas de gestão (18,03% de desengajadas), que engloba as atividades que os gestores usam para orientar, apoiar e desenvolver as suas equipes, além dos processos estabelecidos pela organização e alinhamento de objetivos; (18,03% de desengajadas) e oportunidade de crescimento (14,75% de desengajadas).
Entre os executivos entrevistados, as mulheres negras são as profissionais com a pior remuneração. Na faixa de remuneração de R$ 3 a 7 mil, as executivas negras correspondem a 42%, enquanto nos salários de até R$ 22 mil elas são 35%, e nos acima desse valor, 25%. Os homens brancos são os que ganham mais em cargos executivos. Na faixa salarial acima de R$ 22 mil, eles correspondem a 42%.
Para retratar o cenário nacional do engajamento corporativo, a pesquisa teve como objetivo alcançar representatividade nas cinco regiões do país, com médias regionais próximas às da Rais (Relação Anual de Informações Sociais) de 2021, principal fonte estatística sobre o emprego no âmbito da CLT no Brasil.
Apesar disso, ela não reflete totalmente a realidade do mercado de trabalho. De acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres recebem salário 22% menor em comparação com homens. A diferença salarial aumenta quanto mais alto for o cargo ocupado — mulheres em posição de liderança chegam a receber cerca de 34% menos em relação aos profissionais do gênero masculino que ocupam o mesmo cargo.
Perfil da executiva negra no Brasil
O aumento da presença de mulheres negras em cargos executivos nas empresas é algo recente e, segundo o estudo, pode estar conectado ao crescimento dos movimentos de diversidade e inclusão dentro das companhias nos últimos anos. Isso se reflete nos dados do Engaja S/A, que aponta que a maioria é formada por jovens, com menos de oito anos nas empresas.
Além disso, a maioria dessas profissionais têm entre 25 e 44 anos (70%), enquanto apenas 23% das entrevistadas têm mais de 45 anos.
“Nossa pesquisa mostra, também, que 88% das executivas negras entrevistadas têm nível superior ou pós-graduação e 42% trabalham em empresas entre 501 e 1.000 colaboradores, enquanto 43% trabalham em empresas com até 200 e apenas 10% com mais de mil colaboradores”. Além disso, o levantamento indica que 44% das organizações em que trabalham são de Tecnologia e 40% de Serviços, dois setores que possuem empresas com perfis menos tradicionais e engessados, enquanto 7% são indústrias, um segmento mais tradicional e que pode demorar um pouco mais para registrar avanços em relação à diversidade, finaliza Alana.