Na cidade de Maceió, uma jovem negra denunciou ter sido demitida de seu trabalho por utilizar tranças. Em entrevista à Alma Preta, Gabriela Barros, de 21 anos, relatou que, antes da demissão, a ex-chefe havia dado um prazo para que ela retirasse o penteado.
Gabriela, que também é modelo, trabalhava como vendedora na Polibank, empresa de consórcio no centro da capital alagoana. A jovem havia feito as tranças para comparecer a um evento voltado a pessoas negras, no final de semana.
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Na segunda-feira seguinte, a gestora teria informado que o penteado não era permitido na empresa e solicitou que voltasse a usar seu cabelo natural. A modelo conta que, por medo de ser demitida, atendeu ao pedido.
Algum tempo depois, Gabriela fez tranças novamente e foi repreendida pela chefia de novo, durante o horário de almoço. Desta vez, o aviso veio com um prazo de dois dias para removê-las.
“Ela me chamou do nada na hora do almoço e disse que eu tinha dois dias para tirar o cabelo e que, se precisasse, ajudaria. Falou que era um cabelo de hippie e que não era o perfil da empresa. Fiquei totalmente sem reação e sem saber o que fazer”, desabafou.
A modelo relata que decidiu não acatar a solicitação e foi trabalhar no dia seguinte. A gestora teria dito que ela deveria voltar para casa e retorna para o trabalho sem o penteado no dia seguinte, na frente dos colegas de equipe que estavam presentes.
Quando foi trabalhar no outro dia, ainda com as tranças, a jovem foi chamada pela chefe para uma conversa em particular, que gravou com seu celular. Nos áudios, aos quais a Alma Preta teve acesso, a mulher ameaça demitir a jovem caso ela não retirasse.
“Eu te avisei na quinta-feira que se você viesse com a trança seria direto pra casa. Eu já te avisei. Você teve sexta, sábado, domingo e hoje você veio para empresa. E você sabe que eu não aceito. É para tirar essa trança hoje. Se for para vir amanhã para a empresa, nem venha com essa trança. Eu estou te avisando, beleza?”, declara a chefe.
A gestora ainda diz que o penteado ficaria bonito caso Gabriela se vestisse como uma colega de trabalho branca ou então, de uma forma “padrão”.
“Você não precisa entender o motivo e também não precisa ficar constrangida […]. Aqui na minha empresa eu não aceito e você precisa entender. […] Se você se vestisse de uma forma padrão, ai sim ia ser bonita a trança. Se você se vestisse igual à Júlia*, mais social, aí eu aceitaria seu cabelo. Você não tem um estilo social”.
À reportagem, o advogado Pedro Gomes, que atua no caso, ressalta que não há justificativa plausível para proibir um cabelo trançado e destaca o caráter racista da demissão.
“Proibir uma pessoa negra a usar um cabelo extremamente associado a sua personalidade, a sua ancestralidade, aos aspectos da sua própria vivência e como você se vê como pessoa, é absolutamente reprovável”, aponta Gomes.
A Alma Preta tentou contato com a empresa Polibank, mas não obteve retorno até a publicação. O espaço segue aberto para manifestações.