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‘Fiquei triste demais’, diz adolescente alvo de ataques racistas no Tik Tok

Nicole, de 15 anos, produz conteúdo nas redes sociais junto com a família e tem sido vítima de comentários ofensivos; comunidade negra online ofereceu suporte

Texto: Roberta Camargo | Edição: Nataly Simões | Imagem: Juliana Ferrer

Imagem da estudante e lutadora de karatê com um pente garfo no cabelo cabeça, um fundo marrom e sorrindo

28 de abril de 2021

Com mais de 400 mil seguidores no Tik Tok, a estudante Nicole Cristina de Souza, de 15 anos, foi alvo de ataques racistas na última semana por meio de mensagens enviadas anonimamente. Em um vídeo gravado pela jovem, que ganhou repercussão na redes sociais,  ela responde a uma interação: “Você é muito bonita, só está precisando se cuidar”.

“Como assim eu preciso me cuidar mais? Eu não tô descuidada, meu cabelo é assim. É esse tipo de comentário que ofende”, respondeu Nicole, no vídeo que viralizou no Twitter e no Instagram. 

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Em entrevista à Alma Preta Jornalismo, a dona de casa Ana Cristina Jesus de Souza (35) conta que a ideia de produzir vídeos para o Tik Tok veio da vontade de Nicole de falar sobre comida, plantas e curiosidades.  “Foi nos vídeos de comida que começaram a surgir muitos comentários de pessoas criticando o cabelo dela e a mandando lavá-lo”, lembra a mãe, que supervisiona as redes da adolescente.

Com o crescimento nas redes, Ana revela que surgiram outros tipos de comentários racistas direcionados à filha. “Uma pessoa branca falou pra ela não usar o tom de pele pra subir na vida, mas isso não tem nada a ver. A gente não esperava nada disso”, revela.

TIk toker recebeu apoio da cantora Ludmilla

Entre as respostas do vídeo viralizado, veio o convite da cantora Ludmilla para que Nicole fosse embaixadora de uma marca de cosméticos. A família ganhou produtos e um ensaio fotográfico. Nicole conta que a experiência foi positiva e a fez se sentir feliz e livre.

“Tudo ficou mais alegre. Os comentários me deixaram triste demais. Agora eu aprendi a ignorar”, conta a adolescente, que também é lutadora de karatê e apaixonada por cultura oriental.

A mãe de Nicole está grávida do sétimo filho e conta com orgulho sobre o posicionamento de sua filha mais velha em relação  aos comentários racistas que ela ainda recebe. “Agora a autoestima dela está mais fortalecida, ela é forte e  não vai ligar mais para os comentários”, afirma Ana Cristina.

Recentemente, ela também passou por um processo de transição capilar para demonstrar apoio à filha. “Isso impactou até em mim, porque ela falava que meu cabelo (com química) era melhor que o dela”, relata.

Imagem mostra a adolescente Nicole Cristina e a mãe Ana Cristina. Elas sorriem e usam roupas pretas.

A adolescente Nicole Cristina e a mãe Ana Cristina. Foto: Juliana Ferrer

Rede de apoio online

O criador de conteúdo Roger Cipó esteve entre as pessoas envolvidas na repercussão do vídeo nas redes sociais e na criação de uma rede de apoio para Nicole e sua família. “Eu movimentei uma rede de pessoas e também conversei com responsáveis pela plataforma para que a gente entendesse que se trata de uma menina negra, de 15 anos, e que a plataforma não pode deixá-la desprotegida. É preciso responsabilizar as pessoas que enviaram as mensagens. Racismo é crime”, explica o influenciador digital.

Prestes a completar 16 anos, em junho, a jovem pretende continuar a treinar karatê e a produzir vídeos para internet ao lado da mãe e dos irmãos. “As pessoas abrem mais a boca para criticar do que para dar apoio, mas agora eu não respondo mais e vou seguir naturalmente”, conclui.

Procurada pela reportagem, o Tik Tok Brasil respondeu por meio de nota que a plataforma não permite “discurso de ódio, discriminação ou racismo” e atua para remover esse tipo de conteúdo da plataforma”, de acordo com as Diretrizes da Comunidade. São os criadores de conteúdo de todo o mundo que, segundo eles, incentivam e contribuem para o crescimento da rede.

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