PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

‘Fomos pegos de surpresa’: moradores de periferia de SP denunciam desapropriação de 300 famílias

À Alma Preta, liderança da comunidade do Areião conta que os moradores não foram devidamente informados sobre processo de desapropriação movido pela Enel
Foto mostra reunião geral na comunidade do Areião, na Zona Oeste de São Paulo, em 26 de maio de 2025.

Foto mostra reunião geral na comunidade do Areião, na Zona Oeste de São Paulo, em 26 de maio de 2025.

— Verônica Serpa/Alma Preta

27 de maio de 2025

Moradores da comunidade do Areião, no Jaguaré, Zona Oeste de São Paulo, se mobilizaram na segunda-feira (26) contra uma reintegração de posse no local.  Pela manhã, cerca de 80 pessoas realizaram um protesto na marginal Pinheiros, que suspendeu temporariamente o rodízio de carros na capital paulista.

A manifestação foi reprimida pelo Batalhão de Choque da Polícia Militar do Estado de São Paulo (PMSP), que utilizou gás de pimenta e balas de borracha contra a população.

Quer receber nossa newsletter?

Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!

Para Rômulo Alves, uma das lideranças da comunidade, o ato chamou atenção para o processo de desocupação da área, que tramitou sem o conhecimento da maioria da população. De acordo com a Defesa Civil do Estado de São Paulo, o Areião possui uma área de 1,8 mil metros quadrados, onde vivem 1,5 mil famílias.

Em entrevista à Alma Preta, o líder comunitário explica que o protesto se referia à ordem de desapropriação de uma área específica da comunidade, que pertence à Enel e abriga cerca de 300 famílias. Os moradores têm até o dia 31 de julho para deixar o local.

A área é requerida judicialmente pela empresa desde 2008, no entanto a comunidade alega que não foi informada sobre os trâmites no decorrer do processo.

Toda a comunidade corre risco de desapropriação

A liderança ainda conta ter sido informada de que, além da disputa com a Enel, toda a região do Areião integra o Plano de Intervenção Urbana (PIU) Arco de Pinheiros da Prefeitura de São Paulo. Com isso, a previsão é que toda a comunidade do Areião seja desapropriada em breve.

O programa, implementado por meio da Lei nº 18.222/2024, visa realizar diversas alterações em uma extensa área da Zona Oeste da cidade, incluindo bairros como Jaguaré, Vila Leopoldina, Lapa e Butantã.

“A gente ficou sabendo hoje que existe um projeto de habitação nesta região do Jaguarezinho. É uma iniciativa chamada PIU, que engloba diversas comunidades. A gente foi pego de surpresa porque só sabíamos que a área da Enel seria reintegrada. Mas hoje a gente vê que existe um plano para todas as comunidades desta região”, explicou a liderança.

Segundo Rômulo, não foi oferecido nenhum tipo de seguro-aluguel ou imóveis para que as famílias pudessem se realocar dentro do prazo estipulado. A Enel teria oferecido apenas um caminhão para realizar as mudanças.

“Se na constituição diz que toda pessoa tem direito a moradia, como que eu tiro as pessoas de um lar e entrego ao relento? Isso é importante para que os governantes entendam que quando eles quiserem desapropriar uma família, primeiro devem pensar onde colocar”, reflete.

Agora, a comunidade se articula para garantir o direito à moradia da população, que habita a área há cerca de 30 anos. Em reunião geral, os moradores coletaram assinaturas que serão encaminhadas ao Conselho Participativo Municipal (CPM) da Lapa.

“Isso não é justo. O juiz tem direito à moradia. O doutor também tem. Aí, quer dizer que o pobre tem direito a caminhão? Não concordo”, completa Rômulo Alves.

A reportagem questionou a Enel sobre a possibilidade de pagamento de auxílio-aluguel ou outro tipo de amparo às famílias que serão removidas. Em nota, a empresa informou que há um processo de reintegração em andamento, com determinação judicial para desocupação voluntária.

“A Enel Distribuição São Paulo informa que parte da Comunidade encontra-se em área particular da companhia. Nesse sentido, informa ainda que há um processo de reintegração de posse em andamento com determinação judicial para desocupação voluntária. A distribuidora reforça que o local possui restrições técnicas e de segurança para a instalação ou construção de moradias, em função da rede elétrica no local.”

Apoie jornalismo preto e livre!

O funcionamento da nossa redação e a produção de conteúdos dependem do apoio de pessoas que acreditam no nosso trabalho. Boa parte da nossa renda é da arrecadação mensal de financiamento coletivo.

Todo o dinheiro que entra é importante e nos ajuda a manter o pagamento da equipe e dos colaboradores em dia, a financiar os deslocamentos para as coberturas, a adquirir novos equipamentos e a sonhar com projetos maiores para um trabalho cada vez melhor.

O resultado final é um jornalismo preto, livre e de qualidade.

  • Verônica Serpa

    Graduanda de Jornalismo pela UNESP e caiçara do litoral norte de SP. Acredito na comunicação como forma de emancipação para populações tradicionais e marginalizadas. Apaixonada por fotografia, gastronomia e hip-hop.

Leia mais

PUBLICIDADE

Destaques

Cotidiano