A COP 28 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas) em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, reuniu aproximadamente 70 mil pessoas desde o dia 30 de novembro. Entre os participantes estão pesquisadores e ativistas, cadastrados como sociedade civil, profissionais da imprensa, representantes de governos e de órgãos internacionais como a ONU.
A atuação de todos gira em torno das negociações, ponto central do encontro, onde se debatem as metas de ações para frear o aquecimento global e se cobram a execução ou não delas. Nesse espaço, pessoas negras são poucas, em especial no contexto dos países da América Latina.
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A pesquisadora Letícia Leobet, gestora de projetos em Geledés Instituto da Mulher Negra, acompanha as negociações como observadora e nota a ausência das discussões sobre afrodescendentes.
“A gente encontra uma ausência total da discussão sobre a comunidade afrodescendente. A gente posiciona a discussão para que não seja reduzida a um desafio do Brasil, mas sim entendida como uma questão global”, conta.
Letícia se utiliza do termo afrodescendente por ser a palavra empregada pelos organismos internacionais para se referir à quantidade de 200 milhões de pessoas que vivem nas Américas e em outras partes do mundo, como um reflexo do tráfico de seres humanos durante o período colonial.
A ausência dos afrodescendentes nas discussões foi tema de encontro organizado pelo governo federal, em particular as pastas do Ministério do Meio Ambiente e o Ministério das Relações Exteriores. A conversa ocorreu com representantes da sociedade civil na manhã da quarta-feira (6).
Representantes do Itamaraty, como Daniel Fonseca e Túlio Andrade; do Ministério do Meio Ambiente, Ana Toni; secretária Nacional do Clima e da presidência da república, Adriana Abdenur, responderam a questionamentos da sociedade civil sobre as negociações, que são caracterizadas por serem fechadas, com pouca participação da sociedade civil, e técnicas, com dedicação aos documentos oficiais e às metas dos países.
Entre as perguntas, houve indagações sobre a presença ou não do marcador racial nos textos das negociações, as precarizações trabalhistas no atual cenário, entre outras questões. O governo federal apresentou as tentativas do Brasil de garantir a citação aos povos quilombolas e tradicionais e das populações das periferias e falou da importância da sociedade civil de outros países estarem mobilizadas para assegurar que os pontos do governo federal não sejam apagados e descritos como uma questão particular do Brasil.
Os desafios
Letícia Leobet acredita na existência de um desafio de construir uma articulação a nível global para pressionar os governos nacionais e as cúpulas internacionais para o reconhecimento das demandas dos afrodescendentes. Para a gestora, essa rede tem que ser criada tanto para construir aproximações com os países da América Latina como para tensionar o Norte global.
“A gente está falando de capitanear essas discussões, de puxar essas discussões e estabelecer e fortalecer diálogos com os demais países da região. A gente dialoga com países europeus e os EUA na ordem do tensionamento, para que tragam com mais ênfase e força a discussão sobre afrodescendentes”, explica.
A pesquisadora acredita no papel do Brasil nessa liderança, que deve reiterar as vulnerabilidades desse grupo e a potência para responder aos problemas climáticos.
“Ao mesmo tempo em que, globalmente, nós somos as comunidades mais atingidas pelos impactos climáticos, pelas crises climáticas, por outro lado, nós somos as pessoas na posição de elaborar tecnologias sociais e soluções que poderiam ser empregadas”, conclui.