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Igor Normando é eleito prefeito de Belém e fortalece oligarquia Barbalho no Pará

Candidato emedebista obteve 56,36% dos votos contra o bolsonarista Éder Mauro no segundo turno.

Foto: Igor Normando. Foto: Reprodução/Redes sociais

27 de outubro de 2024

Igor Normando (MDB) foi eleito prefeito de Belém com 56,36% dos votos neste domingo (27), segundo turno das eleições municipais. Ele enfrentou o candidato bolsonarista Éder Mauro (PL), que obteve 43,64%. A vitória de Normando fortalece a oligarquia da família Barbalho na política paraense, já que Igor é primo do governador do Pará, Helder Barbalho.

O emedebista contou com um amplo apoio de partidos de diferentes espectros políticos para derrotar o candidato da extrema-direita. Entre as siglas estão PT, PSOL e PCdoB, além de Everaldo Eguchi, candidato derrotado à Prefeitura Belém pelo PRTB — mesmo partido de Pablo Marçal em São Paulo. A coligação de Normando ainda inclui PSB, PDT, União Brasil, PSD, Federação PSDB/Cidadania, PP, PRD e Mobilização Nacional.

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Igor Normando é deputado estadual e foi vereador de Belém de 2013 a 2019, sendo conhecido por sua atuação na defesa animal. Mas foi a função de secretário de Cidadania no governo de Helder Barbalho, de 2023 a 2024, que o prefeito eleito utilizou na campanha municipal. 

A Secretaria de Estado de Articulação da Cidadania (Seac) coordena as Usinas da Paz, complexos comunitários que se tornaram referência nacional de cidadania e assistência social nas periferias. Os espaços oferecem diversos serviços gratuitos à população, como cursos profissionalizantes, emissão de documentos, reforço escolar e outras ações de esporte, saúde e lazer.

A iniciativa foi reivindicada por Igor durante a campanha eleitoral, nos programas de televisão, debates e entrevistas, como exemplo de gestão pública. Entretanto, das nove Usinas da Paz em funcionamento no estado, nenhuma foi entregue enquanto Normando esteve à frente da Seac. Outros seis complexos estão em obras e devem ser entregues até o final de 2024.

Vitória fortalece hegemonia dos Barbalhos na política paraense

A vitória de Igor Normando também fortalece a oligarquia da família Barbalho no Pará. Primo do governador do estado, Igor Normando reelegeu seu irmão, Renan, vereador de Belém. Além disso, o pai de Helder, Jader, é senador e ex-governador; sua mãe, Elcione, é deputada federal; e seu irmão, Jader Filho, é ministro das Cidades do governo Lula.

Mas não é só na política que a família Barbalho está arraigada. Um levantamento da Terra, de setembro de 2023, apontou que, atualmente, a família Barbalho ocupa 20 cargos no governo do estado e em órgãos de controle, incluindo o Tribunal de Justiça do Estado do Pará (TJPA), o Ministério Público de Contas dos Municípios, o Tribunal de Contas dos Municípios e a Corte de Contas do Estado.

A esposa de Helder, Daniela Barbalho, foi eleita, em março do ano passado, conselheira do Tribunal de Contas do Estado (TCE-PA), que é responsável por julgar as finanças do governo do marido dela.

Campanha foi marcada pelo boicote dos Barbalhos a Edmilson

Um outro aspecto na campanha deste ano em Belém foi o boicote dos Barbalhos ao atual prefeito e candidato derrotado à reeleição, Edmilson Rodrigues (PSOL). Edmilson terminou o primeiro turno em terceiro lugar, com 9,78% dos votos válidos.

Edmilson foi eleito em 2020, com apoio indireto de Helder, em um embate contra o bolsonarista Everaldo Eguchi, então pelo Patriota. A aliança com o governador também foi fundamental para garantir para Rodrigues a maioria da Câmara Municipal.

Porém, a partir do início deste ano, com o rompimento já público, o governador realizou boicotes para prejudicar o prefeito, como apontaram denúncias de vereadores da base de Edmilson.

Um dos mais marcantes foi o do transporte, grave problema de Belém. No último ano, Edmilson iniciou o processo de renovação da frota dos ônibus, que deveriam ser entregues pelas empresas até março deste ano, mas esses veículos não foram colocados para circulação.

O vereador Fernando Carneiro (PSOL) usou as redes sociais para denunciar que 51 desses ônibus estariam guardados nas garagens das empresas. De acordo com Carneiro, o governador, em briga política com a prefeitura, pressionou os empresários para impedir o acesso dos ônibus à população.

“Eles não estão rodando porque o governador do estado está brigando com a prefeitura, ele não quer que você ande nesses ônibus, porque acha que se andar nos ônibus vai beneficiar Edmilson Rodrigues, prefeito de Belém”, afirmou o vereador.

Fernando Carneiro ainda disse que os 51 ônibus chegaram há cerca de três meses em Belém e que o próprio governador intercedeu junto às empresas para que elas não apresentassem os novos veículos. “Enquanto governador, pessoa física, o Helder pode fazer campanha para quem ele quiser, é um direito assegurado pela democracia, mas o que ele não pode é privar a população de andar de ônibus com ar-condicionado para favorecer politicamente o seu primo”, concluiu.

Igor Normando será o prefeito de Belém na COP30

O prefeito eleito Igor Normando assumirá o governo de Belém durante a COP30, Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, que ocorrerá na capital paraense em novembro de 2025. Belém já se prepara para receber o evento, com obras que somam mais de R$ 4 bilhões, segundo o G1, incluindo seis da prefeitura e sete do governo do estado.

Igor deve enfrentar as críticas sofridas por Helder em relação aos megaprojetos para a COP30, que vão na contramão do debate ambiental pregado pela conferência da Organização das Nações Unidas (ONU). Um deles é a Avenida Liberdade, que trará impactos negativos e irreversíveis a comunidades tradicionais que vivem às margens da obra e a uma das poucas áreas verdes restantes em Belém.

Sobre isso, em entrevista à Alma Preta, a vereadora eleita Vivi Reis (PSOL) declarou: “A COP30 em Belém, sob a atual gestão de Helder Barbalho, será um evento fechado para o povo, com foco em grandes projetos que apenas beneficiam o agronegócio e os setores empresariais que destroem a Amazônia”.

  • Fernando Assunção

    Atua como repórter no Alma Preta Jornalismo e escreve sobre meio ambiente, cultura, violações a direitos humanos e comunidades tradicionais. Já atua em redações jornalísticas há mais de três anos e integrou a comunicação de festivais como Psica, Exú e Afromap.

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