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“Os negros precisam conhecer sua história e seus direitos”, diz secretária de promoção racial

 Na cidade de  São Paulo, que possui a maior concentração de pessoas negras do país, existem oito centros de promoção de igualdade racial; Elisa Rodrigues defende a valorização da história dos negros para combater o negacionismo

Texto: Juca Guimarães I Edição: Nadine Nascimento I Imagem: Everton Clarindo / SMDHC

Elisa Rodrigues, 67 anos, secretaria da promoção de igualdade para negros em São Paulo

Elisa Rodrigues, 67 anos, secretaria da promoção de igualdade para negros em São Paulo

10 de agosto de 2021

A educadora Elisa Lucas Rodrigues, de 67 anos, foi presidente do Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra do Estado de São Paulo e, atualmente, é secretária-executiva adjunta de Promoção da Igualdade Racial na capital. Ela é responsável pela organização das políticas afirmativas, pautas antirracistas e combate ao racismo na cidade.

“A criança negra, o menino negro e a menina negra, tem que saber que o racismo existe. É triste encontrar a população negra no negacionismo; e não é o da vacinação, não. É aquele que nega que exista o preconceito, diz que somos todos iguais. Não existe isso, nós, negros, somos tratados de modo diferente, existe o racismo e o preconceito. Tudo começa, na minha opinião, pela alfabetização, pelo ensino da nossa história e pelo ensino dos nossos direitos”, afirma Elisa.

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Em São Paulo, 37% dos cerca de 12 milhões de moradores se autodeclaram negros. Atualmente, existem oito centros de referência da promoção da igualdade racial, que atendem todas as regiões. Segundo a secretária-executiva, a meta é ampliar os pontos de atendimento e divulgar mais os serviços.

“Os centros foram criados para atender as demandas de reclamação de discriminação e racismo da população negra, da população indígena e dos povos ciganos; e contam com advogados, psicólogos e assistentes sociais. Antigamente, a gente via um caso de discriminação e o foco era a questão jurídica, o processo judicial. Com a nossa experiência na CPIR ( Coordenação de Promoção da Igualdade Racial), notamos que a primeira coisa que a pessoa que sofre discriminação precisa é de acolhimento. Alguém que a ouça. Pode ser a assistente social, que depois encaminha para a psicóloga. Muita gente chega aqui e chora, chora muito, e depois diz ‘que bom que vocês me ouviram’”, pontua a secretária.

A prefeitura de São Paulo também tem o desafio de enfrentar o racismo e a discriminação dentro da própria estrutura organizacional do município. Um exemplo disso é a imprecisão nos dados sobre o total de funcionários negros e suas presenças em cargos de comando e chefia. Isso cria dificuldades para a elaboração de políticas afirmativas no funcionalismo.

“Hoje, na administração direta da prefeitura, temos 28,6% de pessoas que se autodeclaram negras. Entre os comissionados são 24,2% de negros. Mas temos uma preocupação em relação aos dados porque nem todos fazem a autodeclaração. Vamos fazer uma campanha dentro da prefeitura para que o quesito raça/cor seja obrigatório. Além de melhorar a coleta de dados sobre o recorte racial no funcionalismo municipal, também estamos fazendo jornadas antirracistas nos departamentos de RH das secretarias e subprefeituras. Essa força-tarefa é importante para que a questão racial entre na pauta do dia-a-dia”, coloca Elisa.

Nas últimas eleições, uma das promessas do candidato Bruno Covas (PSDB) para a reeleição era ampliar o quadro de pessoas negras no primeiro escalão da administração. Na época, o prefeito reconheceu que tinha apenas uma mulher negra à frente de um órgão público, no caso a GCM (Guarda Civil Metropolitana). Após oito meses da posse, o cenário apresenta poucas mudanças.

“Aumentou, não na proporção que a gente gostaria. Temos a Ingrid, que é secretária-adjunta da Cultura. Tem alguns subprefeitos negros também. Temos alguns chefes e coordenadores negros em secretarias. Espero que sejam nomeadas mais pessoas negras”, diz a secretária.

Sobre as homenagens a figuras escravocratas e que participaram do genocídio da população negra e indígena, ela defende que sejam feitas consultas públicas para ouvir a opinião dos moradores da cidade, que sejam erguidas mais estátuas de pessoas negras e adiantou a instalação do memorial dos Aflitos, no bairro da Liberdade, para resgatar a história dos negros na cidade.

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