Uma ação conjunta entre a Habitat para a Humanidade Brasil e a Gerando Falcões irá realizar melhorias nas moradias de 25 famílias em vulnerabilidade social na Favela dos Sonhos, em Ferraz de Vasconcelos (SP). A iniciativa visa levar dignidade, qualidade de vida e saúde para os moradores a partir de reformas pontuais em suas casas.
Reparos elétricos e hidráulicos, reformas de banheiros e telhados, e abertura de portas e janelas estão entre as intervenções feitas durante a ação, que irá contemplar – prioritariamente – famílias que sejam chefiadas por mulheres, pessoas com doenças relacionadas à precariedade habitacional e famílias numerosas.
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Hoje, no Brasil, há mais de cinco milhões de moradias em favelas, com cerca de 17 milhões de moradores, o que representa 8% da população brasileira, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Atualmente, a Favela dos Sonhos possui mais de 600 moradores, vivendo em cerca de 170 casas, sendo a maioria chefiada por mulheres.
Uma das moradoras é a cabeleireira Raiane Tenório, dona de uma das casas que será reformada. “É muito ruim ficar no barraco de madeira. Acaba tendo muita infiltração, goteira. Minha preocupação é com as minhas crianças. Elas ficavam muito doentes. Eu tenho vontade de melhorar a minha casa cada vez mais e com essa parceria da Habitat, também vou conseguir melhorar meu banheiro”, disse.
Apoio e triagem
A parceria é viabilizada pelo programa Favela 3D, da Gerando Falcões, que trabalha na transformação das favelas em ambientes dignos, digitais e desenvolvidos. Para isso, atua em diversas frentes, com investimento em habitação, saneamento e urbanismo, entre outras necessidades dos moradores das favelas atendidas, como a geração de renda, o acesso à saúde e a criação de espaços públicos no fomento ao esporte e à cultura popular.
“Moradias dignas são uma grande conquista para os moradores da Favela dos Sonhos, que têm direito a um lar cômodo e aconchegante que, em decorrência da ação, promove autoestima e segurança aos habitantes. Estamos utilizando as melhores tecnologias sociais e revertendo em melhorias nas favelas, e a comunidade está cocriando conosco, com o poder público e com os parceiros, soluções inovadoras para quebrar os ciclos de pobreza desses territórios”, afirma Nina Rentel, diretora de Tecnologias Sociais da Gerando Falcões.
O arquiteto e gerente de programa da Habitat, Denis Pacheco, especialista em habitação, pontua que a iniciativa na Favela dos Sonhos é apoiada pela prefeitura, no sentido de empregabilidade e infraestrutura da comunidade.
“A gestão municipal e os empresários de Ferraz de Vasconcelos firmaram um pacto para garantir emprego para os moradores da favela, mas as melhorias habitacionais provém de recursos privados”.
Denis conta que a triagem para selecionar as casas que terão cômodos reformados é feita, basicamente, por meio de dois requisitos: vulnerabilidade social, que inclui renda familiar – e se a moradia é de uma mãe solo, com crianças ou idosos; e a precariedade da casa.
Ele explica que se na família há alguém com problemas respiratórios, por exemplo, e na casa existem locais de muita umidade ou mofo, é feito o diagnóstico junto à família para reformar essa parte em específico, pensando em garantir, em primeiro lugar, a saúde dos moradores. “Melhoria habitacional é uma melhoria cirúrgica para tratar a parte da casa que mais dá problemas para a família.”
Saúde e autoestima
Para Mário Vieira, diretor executivo da Habitat Brasil, “possibilitar moradias dignas nas favelas é uma missão de todos nós que lutamos pela garantia do direito à moradia. As famílias não precisam ter somente uma casa, mas, sim, lares onde se sintam acolhidas, confortáveis e seguras. A parceria com a Gerando Falcões nos ajuda a chegar nesses territórios e ajudar a quem precisa”.
Para Denis Pacheco, que comenta ser uma pessoa com problemas respiratórios, colocar-se no lugar dos moradores da favela é um bom ponto de partida para garantir que as necessidades deles sejam supridas de maneira imediata, garantindo, assim, a saúde e a autoestima dessas pessoas em vulnerabilidade.
“Eu sou uma pessoa que tem rinite, por exemplo, então penso que uma criança com rinite morando em um ambiente insalubre irá impactar sua vida escolar. Então, falamos de prejuízo no ensino”, pondera.
“Tem pessoas que não querem receber visitas em casa por vergonha do banheiro, por exemplo. Então quando ela reforma esse cômodo, há melhoria também na sociabilidade e na autoestima desta família”, analisa o arquiteto.
Para o futuro, Denis afirma que há pretensão de ampliar a ação para outras localidades, pois, segundo ele, os direitos, como educação, trabalho, entre outros, só são possíveis a partir de moradias dignas.
“Onde existe demanda é um bom terreno para esse tipo de programa, mas o poder público precisa estar envolvido, afinal, a melhoria habitacional é do portão para dentro. O poder público precisa co-participar, principalmente no que tange à infraestrutura da comunidade”, finaliza.
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