Hugo Silva, jovem negro preso no dia 27 de dezembro de 2022, responderá às acusações de ter cometido um assalto em liberdade. A decisão foi dada no dia 22 de fevereiro pelo juiz Kléber de Souza, depois de receber pedido do advogado Ewerton Carvalho.
Na decisão, Kléber de Souza afirmou que o jovem tem trabalho, endereço fixo e não tem antecedentes criminais. Ele ainda enxerga “indícios de autoria” sobre os fatos narrados no inquérito policial, mantém a denúncia do Ministério Público, mas levou em consideração as provas apresentadas pela defesa para revogar a prisão preventiva.
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Hugo Silva e Débora Santos respondem às acusações em liberdade e tem a primeira audiência de instrução e julgamento marcada para o dia 25 de outubro às 14h20.
“A gente buscou anular a denúncia com base na legislação e na falta de elementos centrais no inquérito policial”, explica Ewerton Carvalho, advogado de defesa. Uma das principais ausências no caso é o horário exato do roubo em que Hugo Silva e Débora Santos são acusados de participar. O Boletim de Ocorrência não apresenta esse dado, central para provar a inocência da dupla.
“Com o horário, a gente consegue demonstrar onde e o que eles faziam. Temos mensagens de áudio e vídeo deles durante a noite de 26 de dezembro, até o horário em que são enquadrados, depois das 23h”, relata Ewerton Carvalho, advogado de defesa, que pediu essa informação para a polícia. Questionada pela reportagem, a assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública não indicou o horário do crime. Moradores da região relatam terem visto os criminosos estacionando os carros roubados entre as 22h30 e as 23h do dia 26 de dezembro.
A defesa também questiona o formato do reconhecimento. De acordo com o boletim de Ocorrência, “por não haver outras mulheres no local e horário para se fazer a comparação”, Débora foi a única colocada para ser identificada. Ela é uma mulher negra, de cabelo crespo, e a autora do roubo, uma mulher com “cabelo grande”, sem mais detalhes descritos no B.O. Depois, foi apreendido uma peruca com cabelo ondulado no Gol e as testemunhas que a viram dizem ser uma mulher branca, com cabelos lisos.
O processo diz que o rapaz foi reconhecido em meio a “várias outras pessoas”, sem especificar as características de cada uma delas. A defesa contesta a versão e afirma que ele foi apresentado sozinho para o reconhecimento. De acordo com os acusados, Hugo foi identificado por usar um boné vermelho, a única informação que a vítima do assalto apresentou acerca dos três homens participantes do crime.
O caso
Na noite do dia 26 de dezembro, um grupo de assaltantes formado por três homens e uma mulher, em posse de um veículo Gol, furtado no dia 13 de novembro, roubaram uma caminhonete da marca JAC na Avenida Dona Ruyce Ferraz Alvim, 995, em Diadema. No carro, estavam duas pessoas, mãe e filho, que logo acionaram a polícia.
As duas vítimas utilizaram a localização do celular, que foi a referência para a polícia rastrear o carro. Os agentes de segurança, contudo, localizaram o Gol, alvo de roubo do dia 13 de novembro, e não o JAC, recém roubado. O Boletim de Ocorrência não explica como os policiais chegaram ao JAC, que estava estacionado na Rua Paulo Magnani, 98, a 1,2km da Rua Sul, onde estava o Gol, com o celular das vítimas do assalto daquela noite.
De acordo com as testemunhas, os policiais encontraram o jovem na praça, distante do Gol, o que se difere da versão dos PMs, que afirmam ter visto o jovem mexendo em objetos dentro do carro. Os agentes de segurança afirmaram ter encontrado Débora nas proximidades da Rua Sul, 91, “verificando a movimentação da via”. Os dois negam as acusações.
“É mentira. Hugo estava no banquinho. Ou seja, o Hugo estava sentado longe do carro. Ele estava na mesinha perto da escada, que sai na Avenida dos Signos. O carro estava no bequinho, também na Avenida dos Signos, porém do outro lado. Eu sei que quando eu cheguei lá na hora, ele estava na mesinha e a polícia já estava abordando ele, mas longe do carro”, conta Débora Santos.
Na praça próxima à Rua Sul, onde foi deixado o Gol, usado no roubo do JAC, os moradores perceberam a presença de três pessoas, dois homens e uma mulher. As testemunhas apontam que o Gol escuro foi abandonado no campo de futebol entre as 22h30 e as 23h. Das três pessoas que saíram do carro, os dois homens trocaram as roupas, e a mulher manteve a mesma vestimenta. Um dos rapazes mudou o boné vermelho para um branco, colocou um casaco corta vento branco e vermelho e uma bermuda jeans, o outro homem vestiu uma calça jeans e uma camiseta preta. A mulher, por outro lado, não mudou de roupa. Hugo foi abordado minutos depois.
A Rua Paulo Magnani, onde o JAC foi encontrado, é sem saída e se tornou um ponto de descarte de carros roubados. Por esse motivo, os moradores da região criaram um grupo de whatsapp para monitorar o movimento na rua.
Na noite do dia 26 de dezembro, data do roubo, uma mensagem às 22h56 foi enviada pelos moradores acerca do JAC parado, irreconhecível pelas pessoas da região. Ainda de acordo com relato dos moradores, eles viram dois homens dentro do carro. Os moradores também dizem que outros dois carros, desconhecidos da vizinhança, estavam parados em outros pontos da praça e também levantaram suspeitas.
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