PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

Marisqueiras do litoral norte de PE fazem campanha para garantir sustentabilidade

Iniciativa é da organização quilombola Casa Iyá Marisqueira, originário do Quilombo de Cueiras, no município de Igarassu; ao todo, 25 famílias de povos tradicionais e ribeirinhos, que tiram o sustento diário do Rio Timbó, serão beneficiadas com a campanha

Texto: Victor Lacerda / Edição: Lenne Ferreira / Imagem: Reprodução/Coletivo Casa Iyá Marisqueira 

Marisqueiras do litoral norte de PE fazem campanha para melhorias no sustento durante a pandemia

4 de maio de 2021

O desemprego e alta nos preços dos alimentos representam preocupações diários para a população de baixa renda do país. Uma realidade que também marca o cotidiano de comunidades tradicionais como o Quilombo de Cuieiras, no litoral norte de Pernambuco. Ao todo, 25 famílias que vivem da mariscagem e da pesca há 303 anos, hoje, lutam para manterem as formas o sustento e buscam melhorias nas condições de trabalho junto ao Rio Timbó, fonte de alimento. Para contribuir com a sustentabilidade da comunidade, o Coletivo Casa Iyá Marisqueira lançou uma campanha on-line de arrecadação como forma de ajudar a população a manter sua soberania alimentar. 

Intitulada “O Rio Timbó é das Ìyás Marisqueiras!”, a campanha – que segue até o dia 25 deste mês – tem como meta arrecadaro o valor de R$10.000, mas, até o momento, só arrecadou R$235. Para a coordenadora pedagógica do coletivo responsável, Magu, as coordenadoras da área da maré, Elizama e Marinalva, as coordenadores da área da agricultura, Michele, Iracema e Codó, e a secretária geral, Roberta, é de suma importância a arrecadação para a continuidade da auto suficiência quilombola no âmbito alimentar, cultural, educacional e econômico, por isso o apelo.

Quer receber nossa newsletter?

Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!

“Nossa vida enquanto marisqueiras e pescadoras têm sido desvalorizada há décadas e afetada pelo modo de vida ocidental que se concentra nas cidades, engolindo nossas tradições e destruindo as possibilidades de auto sustentação das comunidades. E isso só se agravou com a crise da pandemia do coronavírus” aponta o coletivo em texto vinculado à campanha. 

Em conversa com a Alma Preta Jornalismo, Magu explica o porquê da autonomia ser um dos pilares centrais da vivência matriarcal dentro do quilombo. “Todo o esforço é para nos organizarmos melhor e termos autonomia. Apesar de estarmos precisando de cesta básica, ainda existem alguns parceiros que fazem doações para gente. Já a campanha é voltada para instrumentalizar a gente. Uma possibilidade de desenvolvermos nossa independência, algo que prezamos desde sempre, como produzirmos o nosso próprio alimento. Nossos antigos conseguiam abastecer a nossa comunidade com o que vinha daqui mesmo e o dinheiro gerava aqui dentro. É isso que nós queremos, que é retomar essa condição que tínhamos”, pontua.

Leia também: Campanha valoriza conhecimentos e vivências dos quilombolas

Outros valores como a irmandade entre as famílias, valorização dos princípios e saberes ancestrais do território, o respeito aos mais velhos, a centralização da mulher na família e a preservação do meio em que se vive também estão ativamente presentes em Cueiras. Todos pilares auxiliam, também,  na luta a favor da preservação do Rio Timbó. Desde 2002, a área foi reconhecida como de proteção, mas sofre constantes ameaças pela intervenção de grandes empresas que jogam dejetos no estuário como forma de impedir o acesso da população tradicional aos locais de pesca e mariscagem.

De acordo com Magu, a falta de meio de locomoção da comunidade até o centro de Igarassu fortalece ainda mais o desejo de independência.  Ainda segundo a coordenadora pedagógica, tendo em vista as condições atuais, a população local tem de se adequar a um ritmo que não leva em consideração as necessidades emergenciais, como acesso a compra de alimentos. “Aqui, no quilombo, nós não contamos com um supermercado ou mercadinho. Toda a feira, quando não há o que precisamos aqui dentro, precisa ser feita na cidade, como a gente chama. O problema é que fica a dez quilômetros daqui e a gente nunca teve transporte até lá. Só no meio do semestre de 2019 que conseguimos um ônibus para a comunidade, mas ele só está disponível de segunda à sexta para gente em três horários do dia, às sete, meio-dia e cinco horas da tarde, limitando as nossas necessidades”, denuncia.

Entre tantas possibilidades com o apoio financeiro, a campanha também trará oportunidade da construção de uma sede de taipa, exemplo de bioconstrução, para a organização quilombola. Para o Coletivo Casa Ìyá Marisqueira, o teto possibilitará a  realização, de forma mais consistente, as produções de beneficiamento dos catados e pescados, e a venda desses produtos, para além de viabilizar reuniões,  cursos e oficinas internas, entre outras atividades, sempre aderindo ao protocolo de prevenção a covid-19. 

Para maiores informações e saber quanto e como ajudar as Iyás Marisqueiras do litoral norte de Pernambuco, basta acessar o link. Na página oficial do coletivo no Instagram, conteúdos sobre a vivência local seguem sendo publicados. Para acompanhar, acesse aqui.

Leia também: Em protesto, indígenas de Pernambuco derrubam construção de igreja evangélica

Apoie jornalismo preto e livre!

O funcionamento da nossa redação e a produção de conteúdos dependem do apoio de pessoas que acreditam no nosso trabalho. Boa parte da nossa renda é da arrecadação mensal de financiamento coletivo.

Todo o dinheiro que entra é importante e nos ajuda a manter o pagamento da equipe e dos colaboradores em dia, a financiar os deslocamentos para as coberturas, a adquirir novos equipamentos e a sonhar com projetos maiores para um trabalho cada vez melhor.

O resultado final é um jornalismo preto, livre e de qualidade.

Leia Mais

PUBLICIDADE

Destaques

AudioVisual

Podcast

papo-preto-logo

Cotidiano