Uma mulher negra teve a casa invadida pela Brigada Militar do Rio Grande do Sul sem qualquer justificativa na tarde do dia 18 de agosto. A universitária Dilce de Campos, de 35 anos, é mãe de três filhos, um deles portador de Síndrome de West, e relata que os militares constrangeram as crianças com armas de fogo enquanto ela estendia roupas no varal. A mãe diz que a Brigada Militar não possuía mandado de busca e apreensão, documento exigido pela Lei nº 13869/2019.
“Quando entrei na minha casa vi os três policiais abordando meus filhos, com uma linguagem de baixo calão, palavrões, mesmo se tratando de crianças. Entraram na minha casa sem mandado, sem nada. Eu não tenho nenhuma passagem pela polícia, tampouco meus filhos, que são estudantes do ensino regular”, relata a mulher.
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A universitária diz que outros policiais aguardavam do lado de fora enquanto três realizavam a vistoria nos cômodos de sua residência. Os menores, João Vitor, de 15 anos, Guilherme, 10 anos, e o caçula Murilo, de 8 anos, que é cadeirante e possui deficiência auditiva e visual, foram interrogados pela Brigada de maneira agressiva, segundo ela.
A mulher lembra que apenas perguntou aos militares as razões da invasão e se era necessária a abordagem hostil às crianças. Segundo a Dilce, os policiais afirmaram que “era procedimento”.
“Eles usavam zombaria para falar com meus filhos. Não acho justo. Meus filhos são crianças e eles [militares] podem combater o crime sem usar de agressividade ou zombaria com civis. Me silenciaram na frente dos meus filhos e eu tive que ficar calada porque sei que se eu falasse mais alguma coisa eles iam me agredir na frente das crianças”, ressalta a mãe.
Dilce acredita que a invasão ocorreu por ela morar em uma região de submoradia, na periferia de Caxias do Sul, bairro Cruzeiro, local em que ocorrem crimes, como tráfico e uso de drogas. No entanto, para ela, isso não justifica a invasão. “Para mim, isso é racismo estrutural. Tu é favelada, negra, separada, e eles acham que podem tudo, mas somos gente de bem”, salienta.
Denúncia
Após o ocorrido, Dilce entrou em contato com a Brigada Militar pelo 190 para entender o que aconteceu. Segundo ela, o soldado que atendeu à solicitação afirmou que não tinha conhecimento de tal operação e, com muito custo, afirmou que “se invadiram a sua casa, senhora, é por que você está devendo alguma coisa”.
A mulher negra então conseguiu um advogado e abriu um boletim de ocorrência junto à Polícia Civil, denunciando a invasão e hostilidade dos militares. “Registrei queixa contra a conduta da Brigada, mas estou com medo. Eles são agressivos. Ver meus filhos naquela situação constrangedora não foi fácil para mim”, desabafa.
“Meus filhos ficaram perplexos. Nunca haviam passado por uma situação dessas. Vou em frente com o processo e pretendo também entrar em contato com a corregedoria. Não vou deixar barato”, finaliza.
A Alma Preta Jornalismo entrou em contato com a Brigada Militar do Rio Grande do Sul e também com a Secretaria de Segurança Pública do estado para repercutir as informações. Até a publicação desta matéria, os órgãos não se pronunciaram. Caso respondam, o texto será atualizado.
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