Mulheres negras ainda têm dificuldades para encontrar maquiagem adequada aos seus tons de pele

Apesar do aumento de demanda e de oferta de produtos, as mulheres com pele retinta ainda sofrem com a falta de maquiagens adequadas aos tons de pele

Texto: Flávia Ribeiro | Edição: Nataly Simões | Imagem: Jonas Amador

Há alguns meses a estilista Ana Paula Xongani recebeu um kit com maquiagens de uma marca brasileira. Algo comum entre influenciadores e criadoras de conteúdo digital, mas a experiência trouxe sentimentos ruins à Xongani. Ela, uma mulher negra de pele retinta, demonstrou em um vídeo que nenhuma das bases enviadas se adequavam ao seu tom de pele.

O episódio mostra que atender a diversidade dos tons de peles negras ainda é um desafio para o mercado brasileiro.
Pode parecer futilidade, mas as lembranças trazidas da exclusão mexem com a autoestima de mulheres. A estudante universitária Allyne Maciel, de Belém (Pará), lembra que as amigas trocavam de maquiagens entre si, mas nunca com ela porque os tons nunca a atenderam. Além disso, ela já foi a um salão em que ela mesma teve que fazer sua maquiagem porque o profissional não sabia como maquiá-la. “Tenho percebido que mais profissionais têm trabalhado com a pele negra. Já recebi convites para ser modelo de maquiadoras que estão tentando conhecer melhor a nossa pele e entendendo que somos diversas”, conta.

Mesmo com o inegável aumento de oferta de produtos, Allyne relata que ainda tem dificuldades para achar produtos. “A autoestima da mulher negra foi resgatada. Além disso, como o nosso poder econômico melhorou, mais pessoas estão procurando por serviços e produtos e o mercado começou a atender essa nova demanda. Mesmo assim, hoje ainda é difícil achar para o meu tom e em várias marcas”, detalha.

Ela fala que há poucos anos começou a usar maquiagens porque além da adequação ao seu tom de pele, havia outros problemas como o receio de as bases transferirem e controlarem a oleosidade da pele. “Como não encontrava o tom da pele, então preferia não usar maquiagem. As pessoas falavam muito que eu não era vaidosa, mas a verdade é que não tinha opções. Algumas vezes, eu era reprimida: não podia usar vermelho porque chamava a atenção, não podia usar determinada sombra porque não combinava. Só de uns anos para cá que comecei a usar, mesmo assim não uso cores muito extravagantes”, revela.

Geralmente, marcas estrangeiras tendem a atender com mais facilidade os tons de pele negra, no entanto, o preço é alto. A soluão encontrada por Allyne foi comprar bases de marcas mais em conta para o dia a dia e deixar a de melhor qualidade para ocasiões especiais. “Outro problema é que aqui no Norte também tenho a impressão de que vários produtos não chegam, temos menos opções do que as mulheres do Sudeste, por exemplo. Eu queria usar outras marcas, mas não são vendidas aqui”, complementa.

Opções

Foi pensando nessa lacuna no mercado de make para pele negra que foi lançada a marca Mayore Beauty. “Trazemos produtos de alta qualidade e que atendem as necessidades da consumidora brasileira. Somos a primeira marca nacional a lançar 20 tonalidades de base – produto carro chefe – especialmente para pele negra. Nosso principal objetivo é oferecer produtos inovadores que favoreçam o bem-estar e autoestima, e principalmente para fazer com que o público alvo se sinta incluído e relevante”, afirma Silver Oghayore, CEO da empresa.

As bases têm acabamento mate natural, com vitamina E, ácido hialurônico, resistentes a água e também são veganas. “A partir de um estudo sobre a tonalidade de pele da brasileira, desenvolvemos as bases #MyFit da Mayore Beauty. Nosso objetivo era trazer mais variedade, visto que muitos desses tons não estão disponíveis dentro do portfólio de produtos de marcas nacionais, especialmente as tonalidades para pele mais retintas”, destaca Oghayore, pontuando ainda que além das bases, a marca traz ainda batom (barra e gloss), prímer, corretivo, paleta de sombra, pó facial, máscara para sobrancelhas e cílios, esponja e trio de blush/ contorno/ iluminador.

O CEO da marca explica que o nome Mayore é inspirado em uma palavra nigeriana que significa “retornar com sucesso”, e se inspira no espírito africano de plenitude no sentido holístico “cuide de você mesmo”. “Nosso público alvo inclui todos os gêneros, de 15 a 55 anos. Pessoas que enxergam a maquiagem como um acessório, capaz de agregar de uma forma positiva a vida do consumidor. Apostamos na diversidade e inclusão, por isso temos um time de embaixadores com diversos tipos de perfis, para o consumidor da marca seja amplamente representado”.

Imagens internas: Allyne Maciel / Raissa Lisboa e Mayore Beauty