Um levantamento da ONG Habitat para a Humanidade Brasil revela que mulheres negras precisariam de até 184 anos – o equivalente a sete gerações – para conseguir comprar uma casa própria em favelas brasileiras. O estudo “Sem moradia digna, não há justiça de gênero” reúne dados coletados ao longo de cinco anos e expõe como as desigualdades de gênero dificultam o acesso à moradia adequada, ampliando a pobreza e a vulnerabilidade social.
O estudo aponta que o déficit habitacional no Brasil atinge 6,2 milhões de domicílios. Além disso, 26,5 milhões de lares enfrentam inadequações habitacionais, como infraestrutura precária, insegurança fundiária e falta de condições mínimas de moradia, conforme indicam dados da Fundação João Pinheiro. Entre os lares em situação de déficit habitacional, 62,6% são chefiados por mulheres, evidenciando a vulnerabilidade feminina na luta por moradia digna.
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O levantamento destaca que a feminização da pobreza obriga muitas mulheres a destinar 30% de sua renda ao pagamento de aluguel, ao mesmo tempo em que recebem salários menores, trabalham em jornadas exaustivas e acumulam responsabilidades com cuidados não remunerados. A violência doméstica e familiar também agrava essa realidade.
O tempo necessário para conquistar uma casa própria
Segundo o estudo, uma mulher negra precisaria de 184 anos para conseguir comprar uma casa própria em uma favela brasileira. A estimativa se baseia na média salarial dessas mulheres, conforme a Relação Anual de Informações Sociais de 2023, e no preço médio de imóveis em favelas, de acordo com o Censo 2021.
Mesmo considerando um cenário em que essa mulher tenha renda estável, gastos mínimos com deslocamento, alimentação e aluguel, e conte com apoio gratuito para o cuidado dos filhos, sobrariam apenas R$ 31,62 por mês para investir na compra de um imóvel. Com esse valor, levaria sete gerações para alcançar o objetivo.
Impactos da falta de moradia digna
O estudo também aborda as consequências da falta de moradia adequada para mulheres e suas famílias. A insegurança habitacional aumenta a exposição à violência doméstica, compromete a saúde física e mental das mães e afeta o desenvolvimento das crianças. A ausência de uma residência estável dificulta o acesso a serviços básicos e limita oportunidades de trabalho e educação.
Raquel Ludermir, Gerente de Incidência Política da ONG Habitat para a Humanidade Brasil, ressalta que a moradia digna é essencial para garantir qualidade de vida.
“Sem moradia digna, as mulheres pagam um preço alto, que compromete sua saúde, sua possibilidade de estudar, trabalhar e sonhar com um futuro melhor. Um futuro digno precisa ser um direito desta geração, e não apenas da oitava geração daquelas que lutam hoje”, afirma.