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Mulheres negras são as protagonistas do Fórum de Afrodescendentes da ONU

Eventos oficiais ou paralelos ao encontro tiveram o protagonismo de mulheres negras; Anielle Franco, Sueli Carneiro e Flávia Oliveira foram algumas das participantes de sessão no espaço da ONU
Imagem mostra Sueli Carneiro, uma mulher negra e da terceira idade, no Fórum de Afrodescendentes da ONU

Foto: Pedro Borges/Alma Preta

19 de abril de 2024

Mulheres negras participaram, como protagonistas, da terceira sessão do Fórum Permanente de Afrodescendentes da ONU, que ocorreu entre 16 e 19 de abril, em Genebra, na Suíça. Maioria no encontro, elas lideraram as atividades oficiais e paralelas do encontro, com temas diversos, assuntos mais particulares de mulheres negras, como violência política e sexual, e análises amplas sobre o país, como os rumos da economia nacional. 

Durante o debate sobre “Estratégias para o Empoderamento Econômico da População Afrodescendente”, as participantes Anielle Franco, ministra da Igualdade Racial, Sueli Carneiro, filósofa e cofundadora do Geledés – Instituto da Mulher Negra, e Flávia Oliveira, jornalista e comentarista da GloboNews, apresentaram reflexões sobre as violências sofridas por pessoas negras, em particular as mulheres, e o papel do BNDES e do Estado como garantidor de uma economia que garanta a segurança alimentar.

O encontro, que ocorreu na manhã de quarta-feira (17), também teve a presença de Kellie-Shandra Ognimba, representante do Alto Comissariado em Direitos Humanos, e Gaynel Curry, membro do Fórum Permanente para Afrodescendentes da ONU.

Flávia Oliveira, jornalista e comentarista do GloboNews, recordou o Brasil como nona economia e criticou decisões políticas adotadas no país, como a de subsidiar determinados produtos agrícolas e outros não.

“O orçamento do BNDES em 2023 não teve uma política pública de prosperidade e direcionada para nós. A informação que eu obtive recentemente é de que uma parte significativa desse recurso subsidia a produção de soja e milho, enquanto culturas como alface e feijão não chegam a um 1% do investimento total. É absolutamente fundamental a gente pensar no enfrentamento à insegurança alimentar severa”, afirmou.

Flávia Oliveira, jornalista e comentarista do GloboNews, no Fórum de Afrodescendentes da ONU. (Pedro Borges/Alma Preta)
Flávia Oliveira, jornalista e comentarista do GloboNews, no Fórum de Afrodescendentes da ONU. (Pedro Borges/Alma Preta)

Já Sueli Carneiro, filósofa e representante do Geledés, sinalizou para a necessidade de políticas afirmativas no Brasil, com o compromisso econômico de assegurar investimento na população negra. Ela recordou a existência histórica de políticas afirmativas no Brasil, como a de trazer europeus para o país por meio de uma política imigratória e de inserção na sociedade, com a cessão de terras, políticas de crédito, entre outras medidas.

“A magnitude das desigualdades raciais no Brasil exige um Programa de Desenvolvimento Econômico para a População Negra com metas de curto, médio e longo prazos para iniciar um círculo virtuoso de promoção da mobilidade social das populações afrodescendentes em nosso país que sustente um processo de reparação histórica”, completou.

Na atividade, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, apareceu como ouvinte e logo foi convidada para a mesa pelo mediador da discussão, Iradj Eghrari, consultor internacional do Geledés – Instituto da Mulher Negra.

A ministra sinalizou para a necessidade de construir um novo projeto político no país, enfatizou o pedido da próxima sessão do Fórum ocorrer no Brasil e ressaltou as mobilizações coletivas em torno da pauta antirracista. “Vocês sabem que a gente não faz nada sozinha, que a luta é coletiva. A juventude negra tem o direito de sonhar”, contou.

Imagem mostra a ministra da Igualdade Racial Anielle Franco em evento de afrodescendentes da ONU.
Anielle Franco, ministra da Igualdade Racial. (Pedro Borges/Alma Preta)

O protagonismo de mulheres negras no evento da ONU foi além das agendas oficiais e entre as brasileiras.

 A porta-voz do Fórum é uma mulher, a doutora Juner Soomer, que ocupa o posto desde do dia 1 de janeiro. Juner Soomer faz parte do Conselho Global da Universidade da West Indies, localizada em Barbados e foi a primeira mulher a conseguir um doutorado na disciplina de História no Campus de Cave Hill. Ela foi uma das mediadoras de um dos debates sobre o Haiti durante o encontro e responsável por conduzir as sessões gerais, com a presença de todos os participantes.

A antiga presidente era outra mulher, Epsy Campbell, antiga vice-presidente da Costa Rica. Ela também participou com protagonismo de uma série de debates, inclusive atividades da sociedade civil brasileira, como o evento do dia 18 de abril na Universidade de Genebra, com o tema de discussão  “Violência contra mulheres Afro-Latinas”. 

Epsy Campbell ficou com a responsabilidade de conduzir o debate, com a participação de militantes de países como Colômbia, Peru, Cuba e República Dominicana. O Brasil teve duas representantes, entre elas, Lúcia Xavier, coordenadora da Criola, organização dedicada para  situação de mulheres negras.

Durante a sua colocação, Lúcia Xavier propôs uma série de reflexões sobre a situação das mulheres negras no país, com a afirmação de que a violência é uma marca da política nacional. “A violência tem sido uma prática constante das elites contra qualquer outro grupo social que se atreva a não cumprir a ordem, em não obedecer o status quo. No nosso caso, a violência intrínseca na nossa própria condição de pessoas negras, especialmente de meninas e mulheres negras. Nós nascemos sob o signo da violência. não há nenhum dos estados da nossa região que não tenha sido fundado na violência sexual”.

Violência contra as mulheres afro-latinas foi tema de debate na Universidade de Genebra. (Pedro Borges/Alma Preta)

O protagonismo feminino também esteve presente na agenda organizada pelo Instituto Marielle Franco, o Fundo Agbara e a SETA, Sistema de Educação por uma Transformação Antirracista. O encontro ocorreu no dia 17 de abril, às 18h30 do horário de Genebra, com o tema “Igualdade de Gênero e Raça no acesso aos direitos humanos”. Na plateia, uma predominância de mulheres negras do Brasil e de outras nações da Diáspora, como os Estados Unidos e a Guatemala.

Entre as participantes, Ligia Batista, diretora executiva do Instituto Marielle Franco, criticou a política no país e os elementos excludentes de mulheres negras. “São os elementos do nosso sistema político que fazem com que mulheres negras historicamente não consigam acessar aqueles espaços. A gente tem uma realidade onde historicamente pessoas negras, em particular mulheres negras, não conseguem acessar recursos para fazer campanha eleitoral”. 

A atividade ainda foi marcada por falas de outras mulheres negras da platéia, que expressaram a importância do legado de Marielle Franco por toda América Latina. Houve também manifestações acerca da necessidade de um fortalecimento econômico de mulheres negras, como forma de emancipação perante as desigualdades existentes no Brasil.

Conforme apurado pela Alma Preta, a expectativa é de que o próximo encontro do Fórum Permanente para Afrodescendentes ocorra no Brasil, em 2025. Os indicadores do encontro em Genebra apontam para um novo evento com o protagonismo de mulheres negras.

  • Pedro Borges

    Pedro Borges é cofundador, editor-chefe da Alma Preta. Formado pela UNESP, Pedro Borges compôs a equipe do Profissão Repórter e é co-autor do livro "AI-5 50 ANOS - Ainda não terminou de acabar", vencedor do Prêmio Jabuti em 2020 na categoria Artes.

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