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Multinacional recebeu R$ 1,5 milhão de acordo do Carrefour pela morte de Beto Freitas

EF Education First, maior empresa do ramo de idiomas do mundo, é uma das companhias parceiras para a execução do acordo de R$ 115 milhões assinado pelo Carrefour, trato feito depois da morte de Beto Freitas
Uma faixa com os dizeres "Justiça, Beto vive" está pendurada em uma grade em frente ao supermercado Carrefour em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil, em 20 de novembro de 2020.

Foto: Silvio Ávila/AFP

29 de novembro de 2024

A maior empresa de idiomas do mundo, a Education First (EF), recebeu R$ 1,5 milhão para promover um curso de formação em inglês para pessoas negras. O dinheiro é proveniente do acordo feito por órgãos como o Ministério Público do Rio Grande do Sul e o Carrefour, onde João Alberto Freitas foi espancado até a morte em 19 de novembro de 2020.

A morte de João Alberto, o Beto, como era chamado por pessoas próximas, teve como desdobramento a criação do maior Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) da história do país na área dos direitos humanos, no valor de R$ 115 milhões. Desse total, o trato é de que ao menos R$ 6 milhões fossem destinados para cursos de idiomas.

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Parte do valor de R$ 115 milhões foi para o programa do Carrefour com a EF, chamado de “Fala Mais”. O projeto formou 300 pessoas em todo o país durante o período de um ano. 

Nos documentos do acordo, a proposta era de um curso com cerca de 2 mil horas de aulas. A formação teve início em abril de 2024.

A EF confirmou ter participado do processo para ser uma fornecedora do Carrefour e disse à Alma Preta ser “reconhecida por suas ações e programas em prol da equidade racial, motivo pelo qual foi escolhida para prestar esse serviço ao Grupo Carrefour Brasil”.

A multinacional do setor de idiomas ainda contou que “os alunos conquistaram resultados expressivos, evoluindo 2,5 vezes mais do que a média de outros alunos da EF Education First”.

A EF, companhia global do setor de idiomas, afirma atuar em mais de 110 países e ter 2.500 empresas como clientes em todo o globo. 

No site de divulgação do programa, o grupo Carrefour afirma que o projeto faz “parte do seu compromisso contínuo pela equidade racial” e tem “o objetivo de oferecer bolsas de estudos focadas no desenvolvimento e habilidades de comunicação na língua inglesa, para pessoas que se intitulam pretas e pardas”. 

Em nenhum momento na página de divulgação do curso há uma sinalização de que o projeto é parte do acordo feito pelo Carrefour como desdobramento da morte de João Alberto.

O Carrefour apenas indica que o programa “é uma das iniciativas que fazem parte da agenda e compromisso do Grupo Carrefour no Combate ao Racismo, na valorização da diversidade e inclusão. Investimentos em educação é um dos 8 eixos que sustentam a estratégia do Grupo para inclusão de pessoas negras e para o combate à discriminação”. 

Em nota, o Carrefour afirmou que “assim como em todo o processo de seleção dos prestadores de serviço, a escolha da empresa atendeu aos critérios do TAC e foi realizada após uma avaliação criteriosa que considerou a expertise da empresa no setor e sua capacidade de atender todo o território nacional, possibilitando o acesso a mais pessoas”.

O espancamento de João Alberto Freitas

A morte de João Alberto Freitas em uma unidade do Carrefour em Porto Alegre (RS) em 19 de novembro de 2020, um dia antes da data em que se recorda a Consciência Negra no Brasil, gerou revoltas e manifestações em todo o país.

O acordo, de R$ 115 milhões, firmado entre o Carrefour e uma série de órgãos públicos, entre eles o Ministério Público do Rio Grande do Sul, foi criticado pela Coalizão Negra por Direitos.

“Um Termo de Ajustamento de Conduta não pode ser concretizado numa circunstância em o que está em evidência é um crime de tortura e flagrante assassinato, filmado e amplamente divulgado e assim noticiado em todos os meios de comunicação do país. Não há simples ajuste de conduta para casos de assassinatos por motivação racial somado o agravante de tortura”, afirmou o grupo em nota.

Apesar das críticas, o Carrefour conseguiu a parceria de empresas, universidades, associações e personalidades para aplicar os valores do recurso e tentar limpar a imagem da companhia, arranhada diante da opinião pública depois do assassinato de João Alberto.

  • Pedro Borges

    Pedro Borges é cofundador, editor-chefe da Alma Preta. Formado pela UNESP, Pedro Borges compôs a equipe do Profissão Repórter e é co-autor do livro "AI-5 50 ANOS - Ainda não terminou de acabar", vencedor do Prêmio Jabuti em 2020 na categoria Artes.

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