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No Recife, lideranças indígenas promovem “Levante Pela Terra”

Mobilização nacional defende os direitos da população indígena sobre os seus territórios; ativistas denunciam retrocesso na gestão Bolsonaro e pedem apoio popular para ampliar o alcance das pautas

Texto: Victor Lacerda I Edição: Lenne Ferreira I Imagem: Equipe Ivan Moraes

levante

30 de junho de 2021

Nesta quarta-feira (30), atos em todo o Brasil somam forças à mobilização nacional do “Levante Pela Terra”, que segue na luta em defesa dos direitos originários e dos territórios indígenas. No Recife, a Associação de Indígenas em Contexto Urbano Karaxuwanassú (ASSICUKA), primeira em contexto urbano oficializada do Brasil, mobilizou ativistas e movimentos sociais para se somarem a um ato pacífico na Praça do Derby, centro da capital. 

Para Ziel Karapotó, presidente da ASSICUKA, a articulação a nível nacional é uma tentativa de frear o retrocesso de direitos e cobrar a implementação de políticas assistivas efetivas. “Pensando em todas essas violências sofridas, nós estamos unindo forças para mostrarmos que estamos insatisfeitos com a gestão e para tentar sensibilizar a sociedade para que todos entendam que tudo que está acontecendo impacta toda a população”, explica em conversa com a Alma Preta Jornalismo.

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Assim como as lideranças pautaram em abril, durante a Sessão do Fórum Permanente de Assuntos Indígenas das Nações Unidas, o líder afirma que a postura do presidente é de exploração e arbitrária, além de favorecer o capital. “Eles [governo federal] querem que nós entreguemos a eles a natureza, nossas matas e nossos rios, para exploração, extração de matéria-prima com foco no capital. Nada mais é que um processo de fruição arbitrária em cima do que resta para nós. No nordeste, por exemplo, existem projetos  como a de implementação de usina nuclear em território indígena, além da venda de terras para privatização. Uma política genocida que se apresenta em muitos âmbitos”, denuncia. 

O ato contou com pintura corporal e cantos, intervenções urbanas e uma assembleia aberta sobre o direito originário à terra.  “Não existe ser indígena sem o direito a terra e o território, isso está veiculado questões espirituais e identitárias de nosso povo, do cuidar da terra e de entendê-la como uma parte de nós. Tudo que está em andamento segue para que a nossa história seja apagada e isso é muito perigoso. Contamos com a população como um todo para que as pautas não sejam esquecidas pela mídia ou escondidas por parte do governo”, finaliza, Ziel.

Leia também: Avanço da Covid-19 em aldeais de Pernambuco preocupa organizações indígenas

Em nota veiculada nas redes sociais, a associação afirma que não vai deixar passar em branco as retaliações do governo Bolsonaro. Para a organização, haverá luta contra o avanço da mineração e do garimpo ilegal em terras indígenas. “Vivemos à beira de um grande colapso ambiental e precisamos acabar com a contaminação de nossa Mãe Terra. Este país inteiro é território indígena e não aceitaremos perder nenhum centímetro de terra. A luta pela Terra é a mãe de todas as lutas”, encerra o documento.

Governo Bolsonaro e retrocessos

Os conflitos entre os povos indígenas e o governo Bolsonaro se intensificaram a partir de falas públicas do atual presidente desde o início de sua gestão e a falta de articulações sobre políticas públicas destinadas aos povos tradicionais. Em suas falas, o gestor chegou a defender que as terras de propriedade dos povos tradicionais fossem de uso de atividades que atingem diretamente o meio em que vivem e impactam em todo o ecossistema nacional, como a expansão da mineração e da intensificação de atividades econômicas que se relacionam com a produção e comercialização de produtos agrícolas. 

Trazendo como eixo central o avanço da economia do país a favor do lucro e de selar relações com empresas privadas, Bolsonaro também declarou ser a favor da ampliação de investimentos em atividades ligadas à pecuária – prática responsável pela  extinção de espécies, aumento da poluição das águas e, por consequência, destruição de ecossistemas. 

No último mês de abril, durante a 20ª Sessão do Fórum Permanente de Assuntos Indígenas das Nações Unidas líderes dos povos, Kanamari, Makuxi, Guarani e Kaiowá, Mura, Maraguá e Karipuna levaram suas denúncias contra o governo brasileiro. De acordo com informações apresentadas pelo Conselho Indigenista Missionário (CIMI) – organização nacional atuante na lutar pelo direito à diversidade cultural dos povos indígenas – as lideranças fizeram acusações severas, dando foco às práticas de genocídio promovidas pelo atual presidente. 

Em seus discursos, ativistas e representantes os indígenas já pautavam a intensificação de conflitos territoriais, além de invasões arbitrárias em seus territórios. O descaso na atenção à saúde durante a pandemia de covid-19, como a falta de mapeamento de aldeias vitimadas pela COVID-19, que tem desproporcionalmente afetado os povos indígenas brasileiros, também foi colocado em pauta a nível internacional.

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