A vegetação campestre do Pampa Sul-Americano sofreu uma perda de 20%, o que representa uma devastação de 9,1 milhões de hectares de campos nativos, entre 1985 e 2022. O bioma é composto por mais de um milhão de quilômetros quadrados entre Brasil, Argentina e Uruguai.
A constatação se deu por meio de uma análise de imagens de satélite captadas pela MapBiomas Pampa, rede colaborativa formada por especialistas dos três países.
Quer receber nossa newsletter?
Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!
Nas áreas mapeadas, 66% estão na Argentina (72 milhões de hectares), 18% no Brasil (19,4 milhões de hectares), e 16% no Uruguai (17,8 milhões de hectares). O Pampa Sul-Americano ocupa 6,1% da América do Sul.
Os dados mostram que a vegetação nativa cobre menos da metade do Pampa (47,4%), sendo a maioria correspondente à vegetação campestre (32% do território), que é tradicionalmente utilizada para a pecuária.
No entendimento dos pesquisadores, esse é um caso singular que junta “a produção animal e a conservação da biodiversidade geralmente integram sistemas produtivos com notável sustentabilidade ambiental”, diz o relatório.
Apesar disso, quase metade (48,4%) da região já teve a vegetação nativa convertida para o desenvolvimento da agricultura, pastagens plantadas ou silvicultura. As áreas de agricultura e silvicultura aumentaram 15% no período, o que significa um incremento de 8,9 milhões de hectares.
Em área, o avanço da silvicultura foi menor: 2,1 milhões de hectares. Mas isso representou um crescimento de 327%. Já a vegetação campestre nativa, que é a base para a produção animal, sendo a vocação natural do bioma, caiu de 44 milhões de hectares em 1985 para 35 milhões de hectares em 2022.
No entanto, o documento aponta que os espaços de pecuária estão sendo convertidos à produção agrícola, pastagens plantadas ou à silvicultura, o que já ocupa quase a metade (48,4%) da região. A avaliação constatou que as áreas de agricultura e silvicultura aumentaram 15% no período, correspondente a 8,9 milhões de hectares.
Brasil no mapa do desmatamento
Em entrevista publicada pela Agência Brasil, o biólogo Eduardo Vélez, integrante da equipe MapBiomas Pampa, compartilhou sua aflição com o resultado da análise.
“Quando começa a ficar muito descaracterizado a gente fica em situação muito crítica. O Pampa, hoje, só perde para a Mata Atlântica em termos de descaracterização. É o segundo bioma mais destruído. Na Mata Atlântica estabilizou, no Pampa ainda não. Isso nos preocupa muito. É como se o Brasil não olhasse para o Pampa”, destacou.
O Brasil registrou a maior perda proporcional de vegetação campestre, totalizando 2,9 milhões de hectares. Para se ter ideia da dimensão, vale destacar que o número equivale a 58 vezes a área do município de Porto Alegre.
Essa diminuição representa uma perda de 32% da área existente em 1985 em apenas 38 anos, onde o principal vetor dessa mudança é a expansão das áreas agrícolas para o plantio de soja.
O uso agrícola do solo aumentou 2,1 milhões de hectares entre 1985 e 2022. A silvicultura, por sua vez, expandiu seu território em mais de 720 mil hectares nesse período – um aumento impressionante de 1.667%. Em 1985, a área total ocupada pelos campos era de nove milhões de hectares e passou para 6,2 milhões de hectares em 2022.
“A gente esperava que estabilizasse nos últimos anos e se mantivesse a área de agricultura e de vegetação natural, mas [a devastação] continua a cada ano. Tem consequências ambientais porque estamos perdendo biodiversidade, muitas espécies ameaçadas e em vias de extinção, especialmente plantas, além da perda de infiltração da água no solo e maior contaminação por agrotóxicos”, apontou o biólogo.