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Periferias de São Paulo registram temperaturas até 8,8°C mais altas que áreas de alta renda, revela pesquisa

Estudo da USP mostra relação entre urbanização desigual, vulnerabilidade social e microclimas extremos nos bairros paulistanos, com impactos diretos na saúde da população
Termômetro no centro de São Paulo marca altas temperaturas.

Termômetro no centro de São Paulo marca altas temperaturas.

— Paulo Pinto/Agência Brasil

19 de maio de 2025

Um estudo da Universidade de São Paulo (USP) revelou que bairros periféricos da capital paulista registram temperaturas significativamente mais altas do que regiões centrais. A diferença chega a 8,8 °C no verão, resultado de um processo de urbanização desigual que molda microclimas distintos na cidade. 

A pesquisa foi desenvolvida por Fernando Rocha Reis, mestre em geografia física pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH-USP), com orientação de Caroline Freire, doutoranda em climatologia.

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A dissertação analisou como a configuração urbana, a cobertura vegetal e a infraestrutura impactam a sensação térmica em bairros de perfis socioeconômicos distintos. O trabalho comparou dados de temperatura e umidade entre os distritos da Vila Jacuí, na Zona Leste, e do Jardim Paulista, na região de Pinheiros. 

Os dois extremos foram escolhidos com base no Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) e no Índice Paulista de Vulnerabilidade Social (IPVS).

Diferenças estruturais e climáticas

Os resultados mostram que áreas com menor IDHM, como a Vila Jacuí (0,736), concentram construções com pouco espaçamento, uso intenso do solo e reduzida arborização. Já o Jardim Paulista, com IDHM de 0,942, possui áreas mais sombreadas, maior vegetação e estrutura urbana com maior ventilação natural.

Higrômetros instalados em pontos estratégicos dos dois distritos registraram temperaturas mais altas e menor umidade na Vila Jacuí em todas as estações. No inverno, a diferença de temperatura chegou a 7,9 °C; no verão, alcançou 8,8 °C. A coleta de dados foi realizada entre julho e agosto (representando o inverno) e entre janeiro e fevereiro (representando o verão).

Efeitos na saúde e no bem-estar

A desigualdade térmica observada preocupa pesquisadores por seus efeitos sobre a saúde da população. “Pode gerar, inclusive, uma questão de saúde pública se as pessoas são expostas a essas condições por muito tempo”, afirma Caroline Freire em relato ao Jornal da USP. 

O aumento do calor em áreas vulneráveis, somado à precariedade habitacional, eleva os riscos de doenças respiratórias, cardiovasculares e outras complicações relacionadas ao estresse térmico.

Fernando Reis destaca em entrevista ao Jornal da USP que não se trata apenas de medir temperaturas, mas de entender como a população sente essas variações. “Queria saber como as pessoas sentem essas diferenças de temperatura de forma desigual”, explica.

Soluções baseadas na natureza

A pesquisa também investigou o impacto das hortas comunitárias mantidas pelas Mulheres do GAU (Grupo de Agricultura Urbana) na Vila Jacuí. Os dados indicam que essas áreas verdes reduziram em até 5,9 °C a temperatura local em relação aos seus entornos imediatos. Para os autores do estudo, tais iniciativas configuram Soluções Baseadas na Natureza (SbN) e devem ser estimuladas por políticas públicas.

Além de atenuar o calor urbano, as hortas geram renda e promovem segurança alimentar para as comunidades onde estão inseridas. A valorização de áreas verdes nas periferias, segundo o estudo, é uma estratégia viável para mitigar os efeitos da desigualdade climática nas grandes cidades.

Urbanização e emergência climática

A dissertação conclui que a forma como a cidade de São Paulo se expandiu acentuou desigualdades não só sociais, mas também ambientais. A relação direta entre vulnerabilidade social e exposição ao calor extremo é um alerta para planejadores urbanos e gestores públicos. 

O estudo propõe que o planejamento das cidades considere as particularidades climáticas locais e os impactos diferenciados da urbanização sobre a população.
A pesquisa completa está disponível na íntegra neste link.

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  • Giovanne Ramos

    Jornalista multimídia formado pela UNESP. Atua com gestão e produção de conteúdos para redes sociais. Enxerga na comunicação um papel emancipatório quando exercida com responsabilidade, criticidade, paixão e representatividade.

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