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Perspectiva negra: TikTok vira o aplicativo do momento em tempos de pandemia

18 de maio de 2020

Rede social que permite edição de vídeos de até 60s vira passatempo para quem pode ficar em casa

Texto: Juca Guimarães I Edição: Simone Freire I Imagem: arquivo Larissa Nunes

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“É o lugar onde posso acompanhar as tendências, principalmente, no campo da música. É uma fábrica de hits, as pessoas fazem as dancinhas, fazem as dublagens e as músicas ficam muito populares”, diz a atriz, compositora e cantora Larissa Nunes, que elogia as facilidades da rede social TikTok pra sua área de atuação. “Nessa semana, por exemplo, os dois primeiros lugares da parada Billboard são de remix [novas versões] de canções que estouraram no TikTok”, explica, referindo-se às músicas “Savage Remix”, da cantora Megan Thee Stalion com participação da Beyoncé e a música Say So da cantora Doja Cat.

A rede social TikTok teve um crescimento espantoso de usuários em 2019 e, agora, em tempos de pandemia da Covid-19, o novo coronavírus, virou uma sensação por ser bem simples de usar e permitir uma edição rápida de vídeos de até 1 minuto, com a opção de incluir música.

Em abril deste ano, Larissa lançou “Quando Ismália Enlouqueceu…uma mixtape de confinamento”, um trabalho independente com dez composições próprias e batidas do Eric Beatz, sobre a quarentena, relacionamentos, redes e o isolamento. O álbum, que também faz uma reflexão sobre a vida de pessoas negras em tempos de pandemia, está nas principais plataformas de música.

“Eu noto que pessoas pretas estão usando muito mais o TikTok. Uma tendência que eu gosto é aquela coisa de colar no fundo da tela um bairro e a galera fala o que tem no bairro, é como um tour virtual. Vi uma galera preta fazendo isso. É muito legal”, disse a atriz que está em isolamento social há 60 dias em casa. Nunes também está no elenco da série Coisa Mais Linda, da NetFlix, no papel de Ivone, irmã da personagem Adélia, que é interpretada por Pathy Dejesus.

Sucesso do App

De acordo com a consultoria Sensor Tower, que monitora o mercado de aplicativos móveis, no último quadrimestre de 2019 foram 219 milhões de instalações, a melhor marca desde 2016, fechando o ano com quase 740 milhões de instalações. A consultoria estima que a rede tem 1,65 bilhão de usuários. No ano passado, a rede, que foi criada na China, superou o Instagram e o Facebook em total de novas instalações.

Para Iacy Correia, gerente de redes sociais (community manager) e mestre em Comunicação e Territórios pela Universidade Paul Sabatier, na França, o sucesso do TikTok está associado à dinâmica de surgimento de amadurecimento das redes sociais.

“Aconteceu o mesmo boom de crescimento estrondoso com o Facebook e o Instagram. As pessoas querem conhecer e interagir. Um fator de popularização em favor do TikTok é o conteúdo de curta duração, rápido e de fácil assimilação. Você entende rápido o vídeo. É fácil, a mensagem foi dada”, disse.

No mundo das redes sociais, as boas ideias são absorvidas e adaptadas pela concorrência e a tendência é que o entusiasmo pela novidade diminua. Um exemplo, segundo Correia, é o que aconteceu com o Snapchat. “É natural que aconteça. O storie do Facebook tem a mesma função do Snapchat. E, hoje, o Snapchat é uma rede pouco usada. Não que tenha se tornado obsoleta. Mas quando foi lançado era febre, todo mundo queria ter”, disse.

De acordo com a especialista, o TikTok é uma rede de grande potencial de sociabilidade e também para a autoestima dos negros. “Toda rede social é feita para ver algo e ser visto. O princípio é compartilhar algo,que pode ser uma informação ou um ponto de vista. O TikTok, assim como outras redes sociais, faz isso. Ele pode ser usado como uma ferramenta para ampliar o discurso de autoestima dos negros”, explica.

“Mas é também necessário muita cautela”, diz Correia, que ressalta que há motivos para ficar em alerta. “Nos EUA foram feitas denúncias sobre incentivar o narcisismo e a hipersexualização dos usuários. Além de casos de racismo”, comentou.

A quarentena para combater a Covid-19, não foi o motivo para o sucesso do aplicativo, que já era uma febre mundial, mas é um fator de consolidação da popularidade do TikTok. “As pessoas estão com mais tempo para fuçar o aplicativo e descobrir como usar. Virou uma válvula de escape para interagir com outras pessoas”, disse.

O rapper baiano Nouve é fã de redes sociais e aumentou o uso de aplicativos durante o isolamento social. “Eu fiquei empolgado com os desafios, os challenges, feitos por artistas internacionais que eu acompanho. Outra coisa que me chama muito a atenção são os post de comédia. É um jeito de reduzir a bad da quarentena e rir um pouco”, disse.

Outra ponto que fez o rapper se interessar mais pelo TikTok é a possibilidade de “monetizar” a experiência de uso do aplicativo. O TikTok tem uma espécie de moeda própria que os usuários podem comprar e enviar para outros usuários. Também é possível ganhar dinheiro com propaganda de produtos e ações de marketing.

“Eu usava um outro aplicativo que também gerava algum valor e consegui até pagar umas contas. O TikTok me cativa também por isso. Em outras plataformas o “curtir” não vira dinheiro. No TikTok é bem divertido e tem uma possibilidade de sair algum dinheiro”, comentou.

No passado, durante a expansão do aplicativo o TikTok também criou campanha de recompensa em dinheiro, o TikBônus, para quem fazia o download o app e convidava mais usuários.

Quem aparece

No geral, a atriz Larinu (foto) estranha os critérios dos vídeos que são indicados pelo própria plataforma para os usuários. “A maioria são pessoas brancas que moram muito bem. Dá para ver a pessoa e o ambiente, são casas grandes, jardins grandes e quintais grandes. Isso é muito recorrente. Quando é mais escrachado ou même, você até vê uma ou outra casa mais simples ou de classe média, mas os vídeos que são distribuídos para divulgar a rede são sempre de pessoas ricas. Essa coisa de classe é bem presente”, disse.

A atriz Larissa Nunes gosta de usar o TikTok

Uma explicação para isso pode ser a própria política adotada pelos controladores da plataforma. “O site The intercept Brasil fez uma matéria falando sobre os moderadores do TikTok. Existe um documento que detalha as características corporais e ambientais que são consideradas pouco atraentes na lista de razões para não impulsionar as postagens”, disse Larinu.

De acordo com a matéria exclusiva do The Intercept, que teve acesso a documentos internos do TikTok, essa moderação é feita nos vídeos recomendados na seção “para você” no aplicativo. O TikTok foi criado pela empresa ByteDance em 2016. No ano seguinte, a empresa comprou uma plataforma de vídeos curtos que era muito popular na Ásia, chamado Musical.ly e fizeram uma fusão das opções de uso.

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