Marcos Correa de Moraes Verardino, capitão da PM e integrante do 1º Batalhão de Choque participou da primeira morte oficial da Operação Escudo. No dia 28 de junho, ele atuou em ação na Rua Albino Marques Nabeto, que culminou com a morte de Fábio Oliveira Ferreira, de 40 anos. A ação, ordenada pela Polícia Militar de São Paulo, é uma resposta à morte do policial da Rota, tropa de elite paulista, Patrick Reis, em 27 de junho.
Os policiais relataram no Boletim de Ocorrência que realizavam uma patrulha, comandada por Verardino, com a presença de outros três cabos, identificados como Cosmo, Pereira e Barreto. Eles relatam terem chegado à rua e visto Fábio Oliveira Ferreira em “atividade suspeita, com um volume na cintura”. Quando tentaram o abordar, ele havia sacado a arma, momento em que Verardino efetuou três disparos de fuzil. Ainda assim, os agentes de segurança relataram que Fábio Oliveira Ferreira tentou se aproximar da arma, quando recebeu mais dois tiros do cabo Pereira, e assim foi “neutralizado”, como descrevem no B.O. O rapaz ainda foi enviado para o Pronto-Socorro de Vicente de Carvalho, mas não resistiu e faleceu.
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Desde o início, a chacina tem chamado atenção da opinião pública por conta do número de mortes, 18, com as duas ocorridas no dia 15 de agosto, e das denúncias de violações de direitos. Relatos ouvidos pela Alma Preta demonstram um desencontro entre a versão oficial dos policiais e dos moradores do bairro. De acordo com testemunhas, houve simulação de confrontos e execuções por parte da polícia. Os relatos motivaram ação de parlamentares progressistas, que cobraram explicações sobre a operação.
PM dá palestras pelo Brasil
Marcos Correa de Moraes Verardino tem sido uma espécie de porta-voz da PM paulista em palestras realizadas em cidades e outros estados para apresentar os métodos aprendidos e desenvolvidos ao longo da carreira.
Em julho de 2015, ele ministrou a apresentação “Doutrina Operacional nas Forças Especiais” para os policiais militares de Marília, interior de São Paulo. A proposta foi a de “qualificar os policiais ativos”, que atuam na região. “Em cada abordagem, ou prende-se um ladrão ou faz-se um amigo”, afirmou Verardino.
Depois da palestra em Marília, Verardino rodou pela região norte do país. Em Rondônia, em 2016, ele participou da aula inaugural do “Curso de Patrulhamento Tático Móvel da Polícia Militar do Estado de Rondônia”, com o objetivo de compartilhar “conhecimentos técnicos básicos necessários para operar nas missões especiais desempenhadas pela Companhia de Operações Especiais e Unidades Operacionais da capital e interior, principalmente durante o patrulhamento tático motorizado”. A apresentação de Verardino tinha como tema “O policial da Rota, a importância do patrulhamento tático para confiança da sociedade”.
A Polícia Militar do Tocantins convidou o agente de segurança da Rota para três atividades, todas no ano de 2018. A primeira na aula inaugural do curso da Força Tática do estado, para um grupo de 60 pessoas, com o objetivo de compartilhar a experiência em “policiamento tático” como comandante do pelotão da Rota por seis anos. A segunda, no ano seguinte, no 1º Seminário de Patrulhamento Tático do Tocantins, que teve mais de 330 profissionais, com o objetivo de alinhar boas práticas da atuação policial. Verardino abordou as estratégias e táticas utilizadas no combate ao crime organizado.
No fim de 2018, Verardino participou do 12º Curso de Força Tática da Polícia Militar do Estado do Tocantins. Formação realizada desde 2005 pela Polícia Militar do estado, com o objetivo de “capacitar” de modo operacional os agentes, “com aplicação de conhecimentos teóricos e práticos”. Verardino foi o responsável pela formação “Estratégia de Emprego e Doutrina de Atuação de Tropas de Patrulhamento Tático”.
Em julho de 2023, três semanas antes do início da operação no Guarujá, Verardino participou do Curso Operacional da Rotam, cujo lema foi “Aqui não cultuamos os fracos”. O encontro foi organizado pela Polícia Militar do Distrito Federal e teve a participação de 46 agentes de segurança. Verardino ministrou uma palestra sobre “táticas e técnicas de combate ao crime organizado” e falou da importância de conhecer o “inimigo” e o reconhecer seu “potencial”.
Demais envolvidos
O capitão Marcos Verardino não é o único participante da operação com um histórico de mortes na Polícia Militar. Reportagem publicada pela Alma Preta mostrou que o policial Renato Moreira Junior participou de outra operação 10 anos atrás, também no Guarujá, que resultou na morte de um homem. Júnior chegou a ser preso de maneira temporária por 30 dias. A vítima tinha o mesmo perfil dos alvos da Operação Escudo, homens, com tatuagens e passagens pelo sistema prisional.
A operação de uma década atrás também ocorreu após a morte de um sargento da PM na região, e as suspeitas de que o responsável, com o vulgo de “Sisi”, estava em uma comunidade conhecida como Pouca Farinha.
Operação Escudo
Ação policial coordenada desde o dia 28 de julho, como uma resposta à morte de Patrick Reis, policial da Rota, alvo de tiros no dia anterior, no Guarujá, a Operação Escudo mobilizou cerca de 600 agentes de segurança. A expectativa é de que a incursão na baixada santista dure todo o mês de agosto.
Nos primeiros seis dias da ação, 84 pessoas foram presas e quatro adolescentes foram apreendidos. A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP) também relata que 10 veículos roubados foram localizados e 21 armas foram apreendidas.
Procurada para se posicionar sobre o histórico de Marcos Correa de Moraes Verardino e Renato Moreira Júnior, a pasta não enviou qualquer comunicado até a publicação desta reportagem. Caso a SSP se manifeste, o texto será atualizado.