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Povos de religiões de matriz africana interditam obra em território sagrado de Salvador

15 de junho de 2020

Mais de 250 metros quadrados de vegetação em torno da lagoa de Abaeté já tinham sido destruídos pelo governo baiano, sem licença prévia

Texto: Juca Guimarães I Edição: Nataly Simões I Imagem: Coletivo AbatéViva

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Um abaixo-assinado com mais de 10 mil assinaturas e um protesto dos povos de terreiros da Bahia conseguiram interromper uma obra realizada sem licença nas margens da Lagoa de Abaeté, em Itapuã, bairro de Salvador. O governo estadual desmatou uma área de 250 metros quadrados considerada como sagrada para as religiões de matriz africana. A localidade é um tradicional ponto turístico e histórico baiano.

Moradores do bairro e as principais lideranças dos terreiros no entorno da lagoa fizeram uma mobilização pela internet, um ato público no começo de junho e um abaixo-assinado que pedia a mudança do local de uma obra de saneamento básico.

“Não somos contra o progresso. Achamos importante a construção da plataforma elevatória de esgoto, porém não precisa ser tão próxima da lagoa e nem em nosso território sagrado”, diz a yalorixá mãe Jaciara, do Ilê Abassa Ogum.

No dia 5 de junho, uma inspeção da Secretaria Municipal de Urbanismo de Salvador interditou a obra por falta de licença para construção. O local desmatado está dentro de uma Área de Proteção Permanente (APP) e a empresa contratada pelo governo estadual para a obra foi multada.

“Não sabemos ainda se a obra será retomada. Isso nos preocupa bastante. O que queremos é a reparação da área destruída”, afirma Flávio Magalhães, do Ilê Abassa de Ogum e um dos organizadores da campanha #abaeteviva.

A lagoa do Abaeté é um patrimônio ambiental da região. Estudantes de escolas públicas de Itapuã têm aulas de preservação ambiental e sobre biodiversidade na lagoa. “É um patrimônio civilizatório milenar dos povos indígenas da região e dos povos africanos. Desenvolvi muitos trabalhos de educação inspirados na lagoa e ela é muito importante para as nossas gerações futuras”, recorda a educadora Nacimaria Luz.

O local também é conhecido pela prática de diversidade religiosa. Na lagoa acontecem rituais e cerimônias de batismo de grupos evangélicos, de umbanda e do candomblé.

O Alma Preta procurou a Secretaria de Desenvolvimento Urbano (Sedur) e questionou sobre as licenças ambientais e de construção na lagoa do Abaeté. A reportagem também perguntou sobre a interdição da obra iniciada em área de proteção permanente (APP). Até a publicação deste texto, o órgão não respondeu à reportagem.

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