Baku – Representantes de povos originários e ativistas se reuniram nesta quarta-feira (13), no pavilhão da World Wildlife Fund (WWF), na Conferência do Clima, para anunciar a criação da Troika* dos Povos Indígenas.
A articulação pretende reunir povos indígenas de Brasil, Austrália e ilhas do Pacífico e é baseada na Troika das Presidências da COP, formada pelos presidentes da conferência anterior, da atual e da seguinte, as COPs 29 (Azerbaijão), 30 (Brasil) e 31 (Austrália), respectivamente.
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O objetivo da aliança intercontinental é garantir um diálogo global e que a perspectiva dos povos originários seja prioritária nas negociações climáticas. A iniciativa tem no horizonte a possibilidade de que representantes indígenas possam compor uma copresidência das próximas edições da conferência.
No evento de lançamento, o Brasil teve representação da ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, e de Sineia do Vale Wapichana, presidenta do Fórum Internacional dos Povos Indígenas em Mudanças Climáticas.
Além das brasileiras, compuseram o anúncio Maina Talia, ministro de Assuntos Internos, Mudança Climática e Meio Ambiente de Tuvalu, Daria Egereva, representante do Fórum Internacional dos Povos Indígenas em Mudanças Climáticas e Alopi Latukefu, membro do Centro Edmund Rice de Justiça e Educação Comunitária da Austrália.
“Eu vejo Troika Indígena como um espaço para fortalecer outros espaços que já existem, como Caucus Indígena*. A participação dos povos indígenas tem fortalecido as proposições que são levadas nesse processo de negociação e a Troika nasce desse processo de acúmulo de experiência”, afima Joenia Wapichana, presidenta da Funai e uma das presentes no evento.
Em entrevista para a Alma Preta, a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara ressaltou o potencial da iniciativa às vésperas da COP 30, que será sediada pelo Brasil.
“O movimento indígena agora também traz essa proposta inovadora e é muito importante o seguimento nas discussões, para monitorar as propostas apresentadas e também garantir a implementação dos acordos e das metas assumidas na COPs”, afirma.
A ministra também destacou que o número de indígenas em participações nas Conferências do Clima cresceu e vê um bom cenário para a próxima edição, em Belém. “Queremos ter a melhor participação indígena de todas as COPs”, afirma.
Por uma COP indígena
A região norte do Brasil, cenário da próxima edição da conferência, abriga 44,48% da população indígena do país, um total de 753 mil pessoas. Na esteira da troika anunciada nesta quarta, Guajajara pontua que há uma articulação para viabilizar credenciais especiais para garantir a presença dos povos indígenas na edição brasileira.
“Nós estamos articulando diferentes setores para garantir, pelo UNFCCC [Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima], o reconhecimento da participação indígena como uma categoria especial, assim como o Acordo de Paris reconheceu os indígenas com conhecimento tradicional e conhecimento próprio”, explica.
Para Joenia Wapichana, esse reconhecimento torna-se fundamental diante de uma articulação ao nível global, como a troika.
“Há um potencial muito grande em estratégias de enfrentamento da crise climática. A gente vê como é importante manter a demarcação das terras indígenas, porque a floresta em pé é uma das formas que o carbono é sequestrado. Ou seja, nós não podemos deixar de fora as proposições dos povos indígenas, que são os guardiões tanto da biodiversidade, mas também do carbono”, reflete.
*Troika – conjunto de três pessoas ou coisas; trinca, trio.
*Caucus Indígena — reúne mais de 500 representantes indígenas e de comunidades tradicionais do mundo para garantir participação desses atores em negociações internacionais.