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Primo de Damares Alves volta a atacar acampamento do MST, aponta denúncia

Famílias são alvo de ataques há mais de 15 anos na área em conflito no Pará; Marcos Bengtson responde em liberdade por morte de trabalhador rural

Texto: Fernando Assunção | Edição: Nataly Simões | Foto: Reprodução/Agência Brasil

Montagem mostra Marcos Bengtson, proprietário da fazendo palco de conflitos com o MST, e a senadora Damares Alves. Ele aparece sorrindo e ela falando.

Foto: Foto: Reprodução/Agência Brasil

18 de setembro de 2023

O acampamento Quintino Lira, em Santa Luzia, nordeste do Pará, foi alvo da ação de grileiros, que destruíram equipamentos utilizados na produção familiar, como casas de forno e roças. Segundo o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), os ataques foram comandados pelo fazendeiro Marcos Bengtson, primo da senadora e ex-ministra Damares Alves (Republicanos) e filho do ex-deputado federal Josué Bengtson, pastor e líder da Igreja do Evangelho Quadrangular.

Os relatos apontam que essa não é a primeira vez que o acampamento do MST, localizado na fazenda Cambará, administrada por Marcos Bengtson e de propriedade de Josué, é alvo de ameaças e intimidações. A fazenda é reivindicada para reforma agrária desde 2007 por se tratar de terra pública grilada, como afirma o movimento, que pede a desapropriação da área em conflito ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e ao Instituto de Terras do Pará (Iterpa).Vista area do acampamento Quintino Lira. Foto: Divulgação/Tiao OliveiraVista area do acampamento Quintino Lira | Foto: Divulgação/Tiao Oliveira

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Os últimos ataques foram denunciados ao secretário de Igualdade Racial e de Direitos Humanos do Pará, Jarbas Vasconcelos, pela Sociedade Paraense de Defesa de Direitos Humanos (SDDH). Também foi acionada a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Pará. “A expectativa é de que a justiça possa ser feita tanto para que as famílias tenham o direito reconhecido para o assentamento das mesmas, quanto para que haja a punição dos criminosos e proteção da comunidade vitimada”, destaca o MST.

Procurado pela Alma Preta, o Incra disse um laudo elaborado por seus técnicos indicaram que a área da Fazenda Cambará apresenta “condições favoráveis” para um projeto de reforma agrária, mas que os processos de obtenção de terras “foram paralisados nos últimos anos”. Segundo a autarquia, os trabalhos foram retomados e devem ser concluídos até o fim de 2023 para assentar cerca de 130 famílias de trabalhadores rurais.

Marcos Bengtson responde em liberdade por assassinato de trabalhador rural

Marcos Bengtson é acusado, desde 2010, pelo assassinato do agricultor José Valmeristo Soares, conhecido como Caribé, morto na fazenda de Santa Luzia. A morte foi precedida de sessões de tortura. Um outro trabalhador rural, João Batista Galdino, conseguiu escapar da emboscada. À época, o filho de Josué chegou a ser preso, mas, pouco tempo depois, deixou a prisão por determinação do Tribunal de Justiça do Pará. Treze anos após o crime, o réu aguarda o julgamento em liberdade.

Em 2021, o acampamento Quintino Lira e comunidades próximas sofreram com a pulverização aérea de agrotóxicos, alvo de denúncias junto às secretarias de Saúde e Meio Ambiente de Santa Luzia e à Delegacia de Conflitos Agrários (Deca). Reportagem do site Brasil de Fato, de 2019, aponta, ainda, que, em 2015, uma dupla de jovens da localidade teria sido atacada a tiros e coronhadas, enquanto que um ano antes, em 2014, Bengtson teria destruído as demarcações realizadas pelo Incra na área em disputa.

Diante do histórico de violências sofridas pelas famílias acampadas, o MST denuncia que a demora dos órgãos públicos em solucionar o problema perpetua a violência contra as comunidades.

Escândalos na família Bengtson e declarações anti-cotas

A família Bengtson está envolvida em diversos escândalos e crimes. Em 2018, o então deputado federal pelo PTB, Josué Bengtson, foi condenado à perda do mandato por enriquecimento ilícito em esquema de desvio de recursos da saúde no Pará, no crime que ficou conhecido como “Máfia das Ambulâncias”. O líder religioso é tio de Damares Alves, denunciada pelo Ministério Público Federal por propagar informações falsas sobre o Arquipélago do Marajó. Em maio deste ano, um avião pertencente à Igreja do Evangelho Quadrangular, onde Josué é pastor fundador e executivo, foi apreendido em Belém pela Polícia Federal com 290 quilos de maconha.

Em 2020, durante uma pregação religiosa na capital paraense, o pastor Josué Bengtson atacou as cotas raciais em universidades. Ele afirmou que “não entraria em um avião em que um piloto fosse cotista”. “É por isso que de vez em quando cai um avião. Em 99% das vezes, a culpa é do piloto. Ele errou alguma coisa”, afirmou.

Em seguida, o tio da ex-ministra do governo Bolsonaro usou o exemplo de médicos, perguntando aos presentes se eles se deixariam operar por um médico que entrou na universidade por cota. “A meritocracia é que tem que funcionar. É o esforço”, disse.

A reportagem procurou a família Bengtson em busca de um posicionamento acerca da denúncia feita pelo MST. A reportagem também perguntou para a Secretaria de Estado de Igualdade Racial e Direitos Humanos (Seirdh) quais as providências tomadas para combate os conflitos na região. Não houve resposta. Caso alguma das partes se posicione, o texto será atualizado.

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