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Professor planta baobás em Brasília e fala sobre ancestralidade em escolas

Com o projeto, o docente André Lúcio Bento ensina estudantes de escolas públicas sobre a história da diáspora africana

Texto: Thaís Rodrigues | Edição: Nadine Nascimento | Imagem: André Bento/Divulgaçao

Professor André Bento planta baobás no DF

24 de novembro de 2021

Um professor tem plantado a semente da ancestralidade negra na capital do Brasil. André Lúcio Bento, 46, docente da Secretaria de Educação do Distrito Federal, cultiva, no solo do planalto central, mudas de baobás. O projeto reúne professores e estudantes das escolas públicas para um aprofundamento na história dos povos africanos no país.

O projeto, que começou em 2019, com a catalogação das árvores presentes no Distrito Federal, assume agora, uma fase pedagógica. André Bento visita diariamente várias escolas da cidade para falar sobre a história dos povos negros por meio das plantas. Agora, com a flexibilização das medidas de segurança contra a Covid-19, o professor faz palestras e narra todo o processo de escravização durante suas intervenções. 

“Eu comecei apenas catalogando, plantei duas mudas no meu ambiente de trabalho, mas descobri que em várias partes do DF existiam baobás. Então, eu passei a mapeá-los e a plantar também”, explica.  

Hoje, 19 baobás já foram plantados pelo projeto, um dos mais marcantes para ele está no Quilombo Mesquita, localizado na Cidade Ocidental, município do Goiás a cerca de 50 km de Brasília. De acordo com o especialista, a árvore mais antiga do DF data do nano de 1996, e está situada na Asa Norte, em frente à sede da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). 

“O objetivo é contribuir para a compreensão dessas árvores na condição de elementos centrais em termos culturais, sociais e religiosos. E como marcas da diáspora africana e de um possível mundo com mais igualdade nas relações étnicas” diz.

Apesar da importância histórico-cultural, o projeto independente enfrenta, também, o racismo. Algumas plantas foram quebradas ou serradas antes do seu amadurecimento. André Bento acredita que a ação de vandalismo acontece por conta da intolerância religiosa contra as crenças de matrizes africanas. “Duas mudas, que estavam evoluindo bem, foram serradas e quebradas. Quando as pessoas sabem que essa é uma planta que remete ao candomblé e outras religiões, há uma forte rejeição também. Então, têm aquelas pessoas que protejem, molham, fazem cercas e têm aquelas que vandalizam, infelizmente”. 

Agora, o professor pretende entrar com o pedido de tombamento dos baobás plantados em Brasília. A ideia é preservar de forma legal esse patrimônio imateral. “Plantar baobás não interfere na flora nativa, pois a planta não se prolifera indiscriminadamente. É um benefício cultural para a população”, ressalta o docente. 

O baobá

O baobá é uma árvore originária do continente africano, vinculada a medicina, culinária e religiosidade dos povos. Bento, que é doutor em linguística pela Universidade de Brasília (UnB) e especialista em cultura afro-brasileira e africana pela Universidade Federal de Goiás (UFG), conta que a importância do baobá pode ser dividida em três partes principais. Na culinária, a sua fruta e folhas são muito nutritivas, rica em proteínas e vitaminas A e C, sendo utilizada na fabricação de sucos, mingau, farinha e iogurte, por exemplo. Na medicina, têm propriedades antiinflamatórias, analgésicas e age contra diabetes mellitus e doenças cutâneas. Além de ser uma das plantas cultuadas como uma divindade em algumas culturas.

“É aos pés do baobá que os mais jovens e as crianças se reúnem para ouvir os ensinamentos dos mais velhos. As trocas de saberes dos mestres griôs significa a permanência da ancestralidade dos povos africanos. Em algumas culturas, ele é cultuado como um orixá”, afirma o docente.

Segundo o professor, a árvore mais antiga no Brasil tem, ao menos, 400 anos, o que significa que suas sementes foram trazidas pelos escravizados, no momento da colonização. Para ele, é muito significativo existir e plantar baobás no Brasil, que é o país com população mais negra fora das Áfricas. “É uma planta de conexão com nossos ancestrais. Por meio dela, podemos contar a história de resistência do nosso povo e manter a tradição viva”, diz. 

Livro infantil

André Bento também é escritor e, recentemente, ele lançou o livro infantil “Tamara e Tamarindo na terra terra das coisas e pessoas doces”. A tamara e o tamarindo, frutos também de origem africana, se tornam personagens de um mundo mágico em uma terra onde tudo parece ser doce.

Na fantasia, a Tamara se pergunta se a vida é sempre doce. Entao, surge o Tamarindo que é um fruto azedo, provando o contrário. O texto trabalha a diversidade e traz personagens negros que, segundo o autor, ainda tem poucas referências positivas na literatura. A obra foi lançada em setembro 2021, pela editora Telha, e pode ser adquirida por R$ 40,00 pelo Instagram do professor

Leia também: Editoras independentes aceleram o crescimento de publicações de pessoas negras

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