A mobilização nacional do 13 de maio contra o racismo e o genocídio do povo negro, foi marcada por emoção e um sentimento de fortalecimento da luta antirracista em diversas cidades brasileiras. Gritos dos manifestantes, convocados pelo movimento negro, colocaram na centralidade do protesto as questões de combate à crise sanitária da pandemia, alinhados aos desdobramentos recentes da CPI da Covid-19, que caminha para provar que o governo Bolsonaro falhou no plano estratégico e, deliberadamente, decretou a morte das pessoas pela doença ou pela fome.
Em Brasília, no Distrito Federal, o ato foi em frente à sede do STF (Supremo Tribunal Federal), na praça dos Três Poderes. Os manifestantes acenderam velas e colocaram cruzes manchadas de tinta vermelha simbolizando o sangue. O ato cobrou o cumprimento da ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental) número 635, conhecida como a ADPF das Favelas, que restringe operações policiais no Rio de Janeiro, durante a pandemia.
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Em Salvador, na Bahia, a organização do ato distribuiu máscaras de proteção individual , que também tomou as devidas precauções do distanciamento social. Lideranças históricas da luta do movimento negro e a juventude se uniram no protesto que teve poesias e intervenções percussivas.
Na capital mineira, Belo Horizonte, o protesto começou na praça Afonso Arinos e foi até a praça Sete, com a participação massiva de jovens. Em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, o ato também superou as expectativas por conta da presença em massa de jovens. Na capital gaúcha, a passeata foi da Esquina Democrática, tradicional ponto de manifestações populares, até o largo Zumbi dos Palmares.
Já na capital do Rio de Janeiro, o ato saiu da Candelária até a Cinelândia com as pessoas pedindo o fim da violência policial. A manifestação reuniu uma pluralidade de vozes do campo progressistas e lembrou as vítimas da Chacina do Jacarezinho. A polícia tentou impedir a saída do ato, pois o ofício do pedido de liberação não previa o deslocamento. Parlamentares presentes contornaram a situação.
Em Campinas, no interior de São Paulo, o protesto aconteceu no Largo do Rosário, antigo cemitério de pessoas escravizadas. A cidade foi a última a abolir a escravidão no país. Além da chacina do Jacarezinho, no Rio, foram lembrados casos locais de violência, como a morte do garoto Jordy, de 15 anos, assassinado pela Guarda Municipal em abril de 2020.
Foto: Reprodução/Redes sociais
Ato em São Paulo
Mesmo com o frio de 17° graus na avenida Paulista, que fica em uma região elevada e mais fria da capital paulista, o ato reuniu uma multidão de pelo menos 4 mil pessoas. “Já matam a gente dentro de casa, então não tem como não vir para a rua protestar contra o genocídio da população negra”, disse o empresário, cantor e compositor Evandro Fióti, que participou do ato ao lado do irmão, Leandro Roque, o rapper Emicida.
Desde a concentração, em frente ao MASP (Museu de Arte Moderna de São Paulo), até a dispersão na Praça Roosevelt, no Centro, era notável a participação de jovens, pessoas de meia idade e idosos, brancos e negros.
Outro destaque foi a presença de militantes históricos do movimento negro e pessoas que estiveram no ato do dia 8 de maio, na Paulista, contra a Chacina do Jacarezinho, na capital vizinha. “Não foi uma operação, foi uma chacina que atingiu toda a população negra. Não temos direitos e nunca vivemos realmente uma abolição da escravidão. Os corpos negros ainda são vistos como descartáveis na sociedade, por isso achei importante vir participar”, relatou a recepcionista Ana Carolina Serapião, em entrevista à Alma Preta Jornalismo.
A pluralidade do ato é um marcador importante do amadurecimento da luta antirracista. O artista plástico João Belmonte, o TodyOne, criador do projeto Geloteca, que facilita o acesso e incentiva a leitura na paisagem urbana usando carcaças de geladeiras como minibibliotecas, disse que o movimento negro está cada vez mais forte.
“É uma luta que une gerações. Temos grandes referências na briga pelos direitos dos negros, que estão aqui hoje protestando junto como os mais jovens. É um grande orgulho estar na rua, por exemplo, com o Miltão [Milton Barbosa] e também poder ouvir as palavras da Lucia Regina”, disse o artista, que se refere a dois dos fundadores do MNU (Movimento Negro Unificado), em 1978.
Os atos foram organizados por organizações representantes da Coalizão Negra por Direitos. A articulação que reúne centenas de entidades do movimento negro também promove uma campanha de arrecadação de fundos para garantir comida para mais de 200 mil famílias, em todo país, em situação de fome por causa da pandemia.