PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

‘Quem tem direito à dignidade?’: parlamentares apontam racismo na condução de MC Poze à prisão

Nas redes sociais, parlamentares destacaram que a atuação da Polícia Civil foi desumanizadora e distinta do tratamento concedido a investigados brancos
Marlon Brandon, conhecido como MC Poze do Rodo.

Marlon Brandon, conhecido como MC Poze do Rodo.

— Reprodução / Redes Sociais

29 de maio de 2025

A Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) da Polícia Civil do Rio de Janeiro prendeu, nesta quinta-feira (29), o cantor de funk Marlon Brandon, conhecido como MC Poze do Rodo. Sem oferecer resistência, ele foi conduzido algemado, sem camisa e descalço.

Em nota, a Polícia Civil informou que Poze é investigado por apologia ao crime e envolvimento com o Comando Vermelho (CV), e que a ação cumpriu um pedido de prisão temporária emitido pela Justiça.

Quer receber nossa newsletter?

Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!

Nas redes sociais, parlamentares negras destacaram a desproporcionalidade do tratamento policial dado ao artista. Para a deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), a abordagem foi “desumanizadora”.

“Quando PMs são presos por estuprar uma jovem dentro da viatura, a Justiça Militar absolve. Quando um juiz comete violência doméstica, é ‘punido’ com a aposentadoria. Esse tratamento que Poze do Rodo recebeu hoje não tem nada a ver com os crimes pelos quais ele é acusado”, afirmou a parlamentar. 

A vereadora e líder do PSOL na Câmara de Vereadores do Rio, Thais Ferreira, aponta que a atuação da polícia demonstra o tratamento do Estado aos jovens negros.

“MC Poze foi preso algemado, sem camisa, descalço, mesmo sem apresentar resistência ou perigo. A forma como ele foi tratado diz muito sobre o que o Estado reserva para corpos negros e favelados. Não se trata de inocência ou culpa, mas de dignidade — que tanta gente ainda cisma em arrancar à força dos nossos”, defendeu.

A deputada estadual Monica Seixas (PSOL-RJ) reforçou que no momento da prisão o MC não ofereceu nenhuma resistência. Mesmo assim, seus braços foram puxados para trás pelos policiais.

“MC Poze, um artista negro ainda que rico foi preso descalço, sem camisa, algemado e seus braços foram puxados pra trás mesmo sem ele esboçar nenhuma resistência. O que ele dizia é ‘meu braço está doendo pra caraca’. Contrasta com as cenas de como outros ricos em conflito com a lei são tratados”, destacou. 

Dois pesos, duas medidas

A deputada estadual Renata Souza (PSOL-RJ) recordou que, no dia 23 de outubro, o ex-deputado Roberto Jefferson, que é branco, foi conduzido amigavelmente para a delegacia mesmo após disparar cerca de 20 tiros contra a Polícia Federal.

“De um lado, o dia da prisão de Roberto Jefferson, responsável por disparar tiros contra a Polícia Federal. Do outro, MC Poze do Rodo, cantor de funk preso por fazer baile nas favelas do Rio de Janeiro. Quem tem direito à defesa, dignidade e à Justiça no Brasil?”, declarou. 

A vereadora Benny Briolly (PSOL) também lembrou que o contraventor Rogério de Andrade, apontado como o maior bicheiro do Rio de Janeiro, foi levado sem algemas de seu condomínio de luxo até a delegacia, em outubro do ano passado. 

A referida ação cumpriu a ordem de prisão preventiva da 1ª Vara Criminal do Tribunal do Júri, por envolvimento no assassinato Fernando Iggnácio.

“Essa comparação escancara o que a justiça finge não ver: no Brasil, a cor da pele e o CEP definem o tratamento que você vai receber da polícia. Qualquer pessoa que haja em desconformidade com a lei deve ser tratado pelo Estado da mesma forma”, defendeu a parlamentar.

Apoie jornalismo preto e livre!

O funcionamento da nossa redação e a produção de conteúdos dependem do apoio de pessoas que acreditam no nosso trabalho. Boa parte da nossa renda é da arrecadação mensal de financiamento coletivo.

Todo o dinheiro que entra é importante e nos ajuda a manter o pagamento da equipe e dos colaboradores em dia, a financiar os deslocamentos para as coberturas, a adquirir novos equipamentos e a sonhar com projetos maiores para um trabalho cada vez melhor.

O resultado final é um jornalismo preto, livre e de qualidade.

  • Verônica Serpa

    Graduanda de Jornalismo pela UNESP e caiçara do litoral norte de SP. Acredito na comunicação como forma de emancipação para populações tradicionais e marginalizadas. Apaixonada por fotografia, gastronomia e hip-hop.

Leia mais

PUBLICIDADE

Destaques

Cotidiano