A lei orçamentária anual de 2021 não prevê recursos para a realização do Censo Demográfico feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “Será a manutenção do status quo da população negra na situação de violência e vulnerabilidade”. afirma a cientista social Juliana Silva, sobre a suspensão da pesquisa e os impactos da falta de dados para a população negra. O censo existe desde 1940 e acontece há cada dez anos no país.
Com custo avaliado em R$ 3,4 bilhões, a pesquisa de 2020 havia sido adiada para 2021. O governo federal aprovou o orçamento de R$71,7 milhões, valor que não contempla o custo da análise e que impacta na geração de políticas públicas e no desenvolvimento de programas sociais no país. “Precisamos de dados. Sem eles, toda política de desenvolvimento será criada na base do achismo”, alerta a cientista.
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Ex-presidentes do IBGE pediram a preservação do Censo em carta aberta de apelo enviada ao Congresso Nacional. “Nosso último censo ocorreu em 2010, e, sem ele, o Brasil se junta ao Haiti, Afeganistão, Congo, Líbia e outros estados falidos ou em guerra que estão há mais de 11 anos sem informação adequada para apoiar suas políticas econômicas e sociais”, diz um trecho do documento enviado na última semana.
O último levantamento, realizado em 2010, está defasado e, de acordo com a cientista, reflete um cenário muito diferente da situação da população negra em 2021, afetada de forma mais grave pela pandemia da Covid-19. “Sem o censo não temos fontes de dados oficiais que estabeleçam a real situação da população negra para mensurarmos as políticas já criadas e avaliá-las para melhorá-las, manter ou criar novas”, destaca Juliana.
A exemplo do processo de publicação das últimas décadas, a pesquisa seria realizada em 2021 e publicada em 2022. Juliana avalia que seria importante analisar os dados e entender quais medidas precisam ser tomadas para ajudar no desenvolvimento da população que mudou de uma década pra cá. “Em pequenas sondagens, vemos que os mais afetados são a população negra, seja pelo desemprego ou pela falta de acesso à saúde”, concui.