O presidente da Fundação Cultural Palmares, Sergio Camargo, alegou falta de espaço na agenda ao recusar o convite de participação na audiência pública da Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados sobre a crise institucional da Fundação Cultural Palmares, nesta segunda-feira, dia 7.
Entre as falas dos convidados, a deputada Benedita da Silva (PT-RJ) relembrou que o presidente Camargo não atendeu ao convite da comissão. “Primeiro convidamos, depois nós convocamos”, disse a deputada, que fez o requerimento da audiência para avaliar o plano de gestão e os projetos da Fundação Palmares. Camargo foi convidado por ela e pelo deputado David Miranda (PSOL-RJ).
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Mesmo sem a presença de Sérgio Camargo, que deveria ser o primeiro a falar, a audiência foi pontuada por relatos sobre o esvaziamento de objetivos e descaracterização da Palmares.
“Ele está destruindo uma fundação pela qual ele nunca fez nada para que existisse”, comentou Benedita, que foi uma das articuladoras da criação da Fundação Palmares, em 1988.
Patricia Felix, conselheira tutelar do Rio de Janeiro, disse que Camargo desrespeita a luta das mulheres negras que estão linha de frente no combate ao racismo. “Eu entrei no conselho tutelar porque eu me cansei de ver mulheres negras com seus direitos desrespeitados. A única coisa que os negros têm são eles mesmos. A Fundação nasceu para prevalecer os direitos da negritude”, disse.
O ex-presidente da Palmares, entre 2013 e 2015, Hilton Cobra disse que, simbolicamente, é importante lutar pela saída de Sergio Camargo, mesmo que “depois seja nomeado um outro representante do fascismo para o lugar, mas é importante, agora, tirar ele de lá”, disse.
Cobra também ressaltou que mudar o logotipo da fundação ou retirar homenagens a personalidades negras, como Camargo tem feito, não são ações que vão aumentar o orçamento da fundação ou trazer qualquer avanço para a preservação da cultura afro-brasileira.
Por e-mail, a assessoria de comunicação da Fundação Cultural Palmares não deu detalhes sobre os compromissos que fizeram o presidente Camargo faltar na audiência pública.
Por volta das 14h40, com 30 minutos de audiência transmitida pela internet e o ex-presidente Cobra falando, Camargo escreveu no seu perfil na rede social Twitter: “Não me sento à mesa para dialogar com pretos RACISTAS! Benedita da Silva me chama de ‘capitão do mato a mando do Bolsonaro’. Vá procurar a sua turma!”
Não me sento à mesa para dialogar com pretos RACISTAS! Benedita da Silva me chama de “capitão do mato a mando do Bolsonaro”. Vá procurar sua turma!
Não me sento à mesa para dialogar com pretos RACISTAS! Benedita da Silva me chama de "capitão do mato a mando do Bolsonaro". Vá procurar sua turma!
NÃO EXISTE CRISE INSTITUCIONAL NA PALMARES! pic.twitter.com/EfKh7J9kom— Sérgio Camargo (@sergiodireita1) June 7, 2021
Em toda a audiência, que foi virtual por questões sanitárias, a deputada petista não disse a frase que Camargo atribuiu a ela sobre ser um “capitão do mato a mando do Bolsonaro”.
A deputada Erika Kokay (PT-DF) destacou a importância da Fundação Palmares na cultura e na diversidade brasileira, com seu acervo de livros, obras de artes e documentos históricos.
“Eu estou preocupada com o que está acontecendo com o acervo da Fundação que foi retirado, encaixotado e jogado em algum porão. Esse governo não reconhece nem a verdade e nem a história”, disse.