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TikTok: Criadora de conteúdo tem vídeos sobre caso de racismo excluídos

“Não é possível que as plataformas esperem que pessoas negras aceitem ser chamadas de macaco e não possam fazer ou falar nada”, conta Luma Mattos, que também recebeu a ameaça de ter a conta restringida

Colagem com a imagem de Luma Mattos e de um celular com o símbolo do TikTok. Sobre a imagem do celular há um símbolo de "bloqueado".

Foto: Colagem: Vinicius de Araujo/ Alma Preta

24 de outubro de 2022

No final de setembro, a professora e criadora de conteúdo Luma Mattos divulgou nas redes sociais que a plataforma TikTok excluiu dois vídeos publicados por ela em que contava sobre um caso de racismo que enfrentou. Além da exclusão dos vídeos, a plataforma também a ameaçou de ter a conta restringida. Até o momento, o TikTok não considerou as reclamações e recursos enviados pela criadora de conteúdo sobre o caso. 

Entenda o caso

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Luma Mattos conta que resolveu gravar uma publicação para o TikTok com o relato de um caso de racismo que sofreu no Instagram no dia 22 de setembro, após publicar um vídeo com dica de conteúdo de uma plataforma de educação política para o período eleitoral. Na publicação feita no Instagram, a professora recebeu o seguinte comentário racista de um usuário: “Cada mac4cada que eu vejo”. Ela conta que os comentários depois foram apagados possivelmente pelo próprio usuário.

Após o episódio, a professora conta que gravou um vídeo para o TikTok – plataforma em que reúne mais de 127 mil seguidores – relatando o episódio de racismo e denunciando o perfil do usuário envolvido. Ela conta que o vídeo ficou mais de 24 horas em revisão antes de ser publicado.

“Bolsonaristas começaram a denunciar em massa e a comentar no meu vídeo dizendo que iam denunciar e o vídeo foi removido. Eu entrei com recurso e o TikTok não somente negou o recurso como excluiu o meu vídeo. O Tiktok está ameaçando banir a minha conta por ter denunciado racismo”, relata a criadora de conteúdo em publicação no Instagram em que conta todo o caso. Segundo aviso enviado pelo TikTok para a professora, o conteúdo dela estava violando itens das Diretrizes da Comunidade, com violações como comportamento abusivo e ataques com base em atributos protegidos. 

Além da exclusão do vídeo, a plataforma de compartilhamento de vídeos avisou que a conta dela estava prestes a ser restringida com base nas violações.

Confira abaixo o vídeo em que Luma Mattos fala sobre o comentário racista recebido e a ocorrido com o TikTok ao tentar falar sobre o caso na plataforma:

De acordo com a professora, a atitude do TikTok sobre o seu conteúdo e a ameaça de banimento pode ser considerada uma ação racista da plataforma.

“As plataformas são extremamente coniventes com o racismo. As pessoas são extremamente condescendentes com o racismo. Eu acho impressionante que é mais fácil você ser racista do que você denunciar racismo, porque você tem que ficar revivendo a situação várias e várias vezes e ainda pode ser penalizada por ter sido chamada de macaca. Não é possível que as plataformas esperem que pessoas negras simplesmente aceitem ser chamadas de macaco e não possam fazer nada ou falar nada sobre”, destaca Luma Mattos.

O perfil do usuário racista permanece ativo

Luma Mattos conta que não chegou a fazer um boletim de ocorrência ou entrar com outras medidas legais cabíveis sobre o caso de racismo vivenciado no Instagram ou sobre a atitude que sofreu por parte do TikTok. Entretanto ela denunciou o perfil do homem no Instagram e nada foi feito. A conta dele ainda permanece ativa na plataforma.

A Alma Preta Jornalismo entrou em contato com a rede social Instagram com um pedido de posicionamento sobre o caso, além de questionamentos sobre as medidas cabíveis a serem tomadas em relação ao perfil envolvido e sobre as políticas da plataforma para denúncias de usuários e comentários racistas. O Instagram respondeu que não tolera discurso de ódio na rede social e que as Diretrizes da Comunidade proíbem conteúdo que ataque pessoas com base em características protegidas. 

“Isso inclui etnia, nacionalidade, religião ou orientação sexual, classe social, sexo, gênero, identidade de gênero, doença ou deficiência. Encorajamos as pessoas a denunciarem comportamento abusivo e/ou qualquer conteúdo que acreditem violar as nossas diretrizes”, disseram em nota. Além disso, listaram ferramentas da plataforma que ajudam as pessoas a gerenciarem quem pode interagir com elas no Instagram, como: bloquear, ocultar comentários e restringir uma conta. 

Posicionamento do TikTok

A criadora de conteúdo conta que, atualmente, o TikTok retirou o aviso sobre a restrição da conta, mas mantém os vídeos excluídos. Essas remoções passam a configurar em um histórico de violações que poderá levar ainda a uma restrição da conta futuramente, caso ela venha a receber mais uma suposta violação.

“O suporte aos criadores de conteúdo é péssimo. Tudo são algoritmos que fazem. A gente não consegue contato com pessoas de verdade. Medidas incorretas como o banimento dos meus vídeos por vezes são irreversíveis”, explica Luma a Alma Preta Jornalismo.

Com as incertezas geradas por uma possível restrição na conta, a professora precisou criar uma conta secundária que tem divulgado para que seus seguidores possam também acompanhar. Por lá, ela tem criado conteúdos esporadicamente.

A Alma Preta Jornalismo entrou em contato com o TikTok com um pedido de posicionamento sobre o ocorrido com a Luma Mattos e com questionamentos sobre como são as políticas de uso da plataforma para que um vídeo seja removido. O TikTok respondeu que não permite discurso de ódio, discriminação ou racismo e incentiva os usuários a denunciar caso vejam algo que possa ser ofensivo ou que viole as políticas. 

Também acrescentam que são removidos qualquer conteúdo – incluindo vídeos, áudios, lives, imagens, comentários, links ou outros textos – que viole algum item das Diretrizes da Comunidade. “Quando isso acontece, para assegurar a privacidade dos usuários, não comentamos os motivos e nem outras informações específicas. Nossas Diretrizes da Comunidade se aplicam a tudo e a todos no TikTok. Atuamos de forma proativo utilizando uma combinação de tecnologia e moderação humana, com o objetivo de intervir antes de recebermos denúncias de conteúdo potencialmente violador”. 

 “Atuamos para remover esse tipo de conteúdo da plataforma, conforme deixamos claro em nossas Diretrizes da Comunidade. O TikTok é uma comunidade com mais de um bilhão de criadores diversos, e a plataforma não seria o que é hoje sem a gama de vozes e experiências que nossos criadores trazem. Estamos constantemente trabalhando para manter um ambiente seguro em que todos possam se sentir acolhidos”, afirmam em nota. 

Leia também: ‘Fiquei triste demais’, diz adolescente alvo de ataques racistas no Tik Tok

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