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Homem preso e torturado por PMs responderá a processo em liberdade

Câmeras acopladas nos uniformes dos policiais militares mostram homem ser agredido e amarrado em pau de arara

Texto: Pedro Borges | Edição: Nataly Simões | Foto: Reprodução

Imagem mostra homem negro amarrado em pau de arara.

Foto: Foto: Reprodução

28 de agosto de 2023

A relatora Jucimara Bueno acatou o pedido de habeas corpus da Defensoria Pública de São Paulo e concedeu na sexta-feira (25) alvará de soltura para Roberto*, homem negro de 38 anos agredido e amarrado por policiais militares em posição de pau de arara.

De acordo com a magistrada, “a despeito da gravidade dos crimes supostamente cometidos, da reincidência do paciente, do fato de ele estar em cumprimento de pena, em regime aberto pela prática de crime de roubo, inviável a manutenção do cárcere. Nenhum delito, por mais grave que seja, justifica a prática de outro, em especial pelos agentes investidos pelo estado para preservarem a ordem pública”.

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Durante o texto, Jucimara Bueno recordou que as imagens das câmeras da farda dos policiais não eram do conhecimento da juíza Gabriela Bertoli na audiência de custódia. Apesar disso, Roberto relatou ter sido agredido e torturado pelos policiais militares, o que não impediu Gabriela de pedir prisão preventiva. Roberto agora responderá aos crimes de furto e roubo em liberdade.

Câmeras em uniformes de PMs flagraram tortura

Ao ouvir de um homem negro, de 38 anos, durante uma audiência de custódia, que ele havia sido amarrado por cordas por policiais militares, depois de algemado, agredido e colocado em posição de pau de arara, no dia 19 de julho de 2023, a juíza Gabriela Bertoli decretou a prisão preventiva deste homem.

Imagens feitas a partir das câmeras acopladas nos uniforme dos policiais militares mostram Roberto sendo retirado de uma viatura, jogado ao chão e tendo as mãos algemadas e os pés amarrados. O caso foi registrado no 30º Distrito Policial, localizado no Tatuapé, na zona leste de São Paulo.

Na audiência de custódia, do dia 20 do mês passado, a juíza perguntou: “O que eles fizeram com o senhor?”, quando Roberto respondeu que “ele já chegaram já dando soco, quebrando eu” e sinalizou que “Algema assim, com as pernas junto com as mãos, de ponta cabeça, pau de arara que eles falam, né?”. Diante das informações, a Defensoria Pública do Estado de São Paulo pediu o relaxamento da prisão preventiva.

A juíza Gabriela Bertoli determinou a prisão pelo fato de Roberto ter antecedentes criminais e de estar em cumprimento de pena em regime aberto. Ela também sinalizou, ao longo da sentença, o fato de o homem ter ofendido os policiais militares durante a abordagem. Um dos PMs envolvidos na ocorrência diz que teve o dedo machucado por Roberto quando reagiu à abordagem.

As imagens das câmeras da farda dos policiais foram acessadas depois de pedido do Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria Pública. Com base nas imagens, o órgão protocolou um pedido de Habeas Corpus para Roberto e pediu que a Corregedoria e a Ouvidoria das Polícias investiguem o caso.

Entenda o caso

Os policiais militares foram acionados para averiguar uma suspeita de roubo, por volta das 7h10 da manhã, na Rua Cantagalo, no bairro do Tatuapé. Eles se depararam com uma vítima de roubo, que relatou ter perdido, mediante ameaça, uma bolsa com pertences. Os policiais chegaram a patrulhar a região, sem sucesso, mas receberam outro comunicado da mesma vítima, sobre o paradeiro da pessoa que havia cometido o roubo.

Por volta das 12h20, os policiais localizaram Roberto, que havia furtado três barras de chocolate do supermercado Pão de Açúcar. A vítima do roubo é funcionária da rede de supermercados e presenciou a tentativa de furto de Roberto na parte da tarde.

No Boletim de Ocorrência, os policiais relataram terem sido ofendidos por Roberto depois de darem voz de prisão. Eles não mencionam no documento qualquer agressão que fizeram contra Roberto.

Histórico de Gabriela Bertoli

No dia 7 de junho, há 2 meses, a juíza Gabriela Bertoli também pediu a prisão preventiva de um homem negro amarrado e carregado por policiais militares. Na época, ela alegou não ter tido acesso às imagens. Neste caso, Roberto* relatou ter sido agredido e vítima de violência por parte dos agentes de segurança pública.

A Alma Preta fez um compilado com casos da juíza Gabriela Bertoli contra pessoas negras. Ela já pediu a prisão preventiva de uma mulher por furtar livros, de um rapaz acusado de participar de um sequestro, que depois foi inocentado, e de pedir a prisão dos manifestantes que incendiaram a estátua de Borba Gato.

* Nome fictício usado para preservar a identidade da pessoa citada.

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