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Um mês após motorista da Uber agredir jovem negro, nada foi feito

“A minha expectativa em relação à justiça brasileira é que ele pague pelo crime cometido”, diz vítima

 Texto: Letícia Fialho | Edição: Nadine Nascimento | Imagem: Reprodução 

 

 

14 de setembro de 2021

“Às vezes, penso em parar e não levar isso para frente diante do país em que vivemos. Mas eu quero levar essa vitória para casa. E, acima de tudo, mostrar que a gente consegue lutar pelos nossos direitos e pelo nosso espaço”, afirma o rapper Henrique Silva (17), vítima de agressões verbais e físicas por parte de um motorista da Uber. 

O caso do rapper e poeta, conhecido como Shockadelic, ocorreu há cerca de um mês, no Jardim Luso, Zona Sul de São Paulo, quando o jovem saía da casa da namorada e optou por solicitar um Uber. Durante o embarque, o motorista se recusou a seguir viagem para o bairro de Eldorado, em Diadema, e ordenou que o passageiro descesse do carro: “Então, sai, crioulo”. 

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A agressão verbal continuou quando Henrique desceu do carro e retornou para frente da casa da namorada e, Felipe, o motorista, seguiu dirigindo lentamente enquanto chamava o passageiro de “folgado”. Quando questionado do porquê de não seguir viagem, ele respondeu: “olha só para você, andando a pé, enquanto eu ando com o carro do ano”. Quando Henrique voltou a questionar a razão de todas as ofensas, o motorista desceu do carro e agrediu o jovem com pontapés e tentativa de enforcamento. 

Em sua avaliação no perfil do aplicativo, Felipe recebeu uma série de elogios. “As pessoas falam que ele é educado. Então por que comigo foi diferente?”, questiona o rapper, em entrevista de agosto à Alma Preta Jornalismo.  

Leia também: Adolescente rapper é agredido por motorista de aplicativo em São Paulo

Indignação e revolta

Segundo Henrique, tem sido difícil lidar com o episódio, principalmente, quando olha as fotos da agressão. “Me sinto abalado com tudo isso que rolou. A minha expectativa em relação à justiça brasileira é que ele pague pelo crime cometido. Porque não é justo ele ficar impune após as agressões. Essa sensibilização das pessoas ao meu redor, é porque esse caso não é isolado. Através do ocorrido, eu soube de outros casos, de pessoas que passaram por situações constrangedoras, assim como passei. Elas também querem ver a Uber e o motorista pagarem pelos erros cometidos”, afirma Henrique Silva, em entrevista à Alma Preta Jornalismo

Além do apoio que recebeu de seus familiares e dos da namorada, o jovem contou com a solidariedade de amigos e pessoas na internet que se aproximaram após a repercussão. Segundo ele, após o ocorrido, pessoas começaram a compartilhar o seu trabalho como poeta e rapper. Seus seguidores nas redes sociais também passaram a mencionar a empresa com questionamentos sobre o caso.

“O meu sentimento é de indignação e revolta. E essa situação foi muito vexatória, e não permito mais que ele passe por isso. Sou mãe solo, preta e periférica. Luto para criar meus filhos com dignidade. Até hoje penso que aquela situação poderia ter gerado algo muito mais grave. Isso está refletindo em mim, no meu físico, na minha saúde, eu não vou aceitar que situações como essa envolvendo meu filho continuem impune. Ele não merece ser discriminado só por ser preto, periférico e filho de mãe solteira. Estou muito abalada”, relata a mãe da vítima. 

Investigação do caso 

A Advocacia Criminalista Afonso de Oliveira, especialista em direitos humanos, acompanha o caso desde o início. O Inquérito Policial foi instaurado no 98 Distrito Policial de São Paulo. 

“Estamos acompanhando e iremos garantir todos os direitos e garantias fundamentais deste jovem de 17 anos, negro, estudante, trabalhador, menor de idade e construtor da arte contemporânea brasileira. Exigimos um posicionamento contundente do aplicativo Uber, inclusive, sobre a exclusão do motorista do seu quadro de profissionais”, afirma o criminalista Afonso Luís Fernandes de Oliveira que atua no caso.

Posicionamento

Alma Preta Jornalismo também entrou em contato com a Uber. Em nota, a assessoria de imprensa declarou que a companhia não tolera nenhum comportamento discriminatório e que o motorista foi banido da plataforma.

“Sabemos que o preconceito, infelizmente, permeia a nossa sociedade e que cabe a todos nós combatê-lo. Além disso, a empresa revisou o processo de atendimento na plataforma, a fim de facilitar as denúncias de racismo e acolher melhor o relato da vítima”, afirma Patrícia Lopes, assessora de imprensa da Uber.

Segundo a porta-voz, a empresa lançou, neste ano, uma campanha que convida usuários e motoristas parceiros para serem aliados no combate ao racismo: “A iniciativa tem o objetivo promover um conteúdo educativo dentro do próprio aplicativo e é parte de um compromisso global assumido pela empresa no ano passado com o objetivo de combater o racismo e criar produtos igualitários por meio da tecnologia”, explica.

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