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Vídeo é tirado de contexto para dizer que trechos da bíblia serão banidos de redes sociais

Vídeo é tirado de contexto para dizer que trechos da bíblia serão banidos de redes sociais.

Vídeo é tirado de contexto para dizer que trechos da bíblia serão banidos de redes sociais.

— Reprodução/Redes sociais

20 de fevereiro de 2025

Post retira de contexto trecho de um vídeo antigo em que a jornalista Daniela Lima, então âncora na CNN Brasil, comentava uma postagem publicada pelo ex-deputado federal Deltan Dallagnol. A edição do vídeo faz parecer que era da jornalista e não do deputado a alegação de que trechos da bíblia serão proibidos porque podem ser interpretados como discurso de ódio.

Conteúdo investigadoPost com vídeo da jornalista Daniela Lima, no programa CNN 360º, dizendo que trechos da bíblia serão proibidos porque podem ser interpretados como discurso de ódio. Sobre a imagem, é aplicado o texto “Exemplo de discurso e pessoa recrutada pela USAID para propagar mentiras e defender a censura da direita no Brasil”.

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Onde foi publicado: Instagram, X e Facebook.

Conclusão do Comprova: É enganoso um post nas redes sociais que retira de contexto o trecho de um vídeo com comentário feito pela jornalista Daniela Lima para atribuir a ela uma fala que, na verdade, é do ex-deputado federal Deltan Dallagnol, no contexto da discussão do Projeto de Lei 2630/2020, o PL das Fakes News.

O trecho em questão foi retirado de uma fala de Daniela no programa CNN 360° veiculado no dia 1º de maio de 2023. No vídeo, a partir dos 58 minutos e 28 segundos, ela comenta sobre um pronunciamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a favor do fim da desinformação. Na sequência, a jornalista discorre sobre a pressão das big techs e dos setores conservadores do Congresso Nacional contra o Projeto de Lei, que atualmente está travado no legislativo, e sobre a desinformação que estava sendo propagada a fim de posicionar critãos contra o texto.

A partir de uma hora, dois minutos e 22 segundos, Daniela expõe a pressão dos parlamentares evangélicos para o não andamento do projeto e diz que vai citar um político que pautou uma grande discussão na semana anterior. Então, emenda: “Ele disse: trechos da bíblia serão proibidos de circular porque podem ser interpretados como discurso de ódio. Trechos que falam contra a população LGBTQIA+. E se você repetir, na rua, o que ele tá querendo que você possa dizer na internet, você pode ser indiciado por homofobia. Que prega a submissão da mulher ao seu marido. Oi? Século 21. Eu pago as contas da minha casa.” Na época, a fala de Dallagnol gerou repercussão e chegou a ser desmentida pelo Comprova.

Nesta semana, o vídeo voltou a circular nas redes sociais do verador Carlos Bolsonaro (PL-RJ).. Na publicação, ele escreve que a fala da jornalista é “um exemplo de discurso e pessoa recrutada pelo USAID [Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional] para propagar mentiras e defender a censura da direita no Brasil”.

Recentemente, a USAID, responsável por 40% dos programas de ajuda humanitária do mundo, tem sido alvo de ataques do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e do bilionário Elon Musk. No Brasil, a Agência também tem sido alvo de desinformação.

O Comprova entrou em contato com o gabinete do vereador Carlos Bolsonaro por e-mail, mas até a publicação deste texto, não houve resposta.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Carlos Bolsonaro tem 3,2 milhões de seguidores no Instagram e a publicação em questão já possuía 9,7 mil comentários até o dia 12 de fevereiro. No Facebook, o post acumula 1,2 mil compartilhamentos. No X, o vídeo alcançou mais de 100 mil visualizações e 6 mil curtidas.

Fontes que consultamos: O Comprova consultou o vídeo completo do programa CNN 360º veiculado no dia 1º de maio de 2023 e disponível no YouTube. Além disso, buscou as versões dos textos do PL 2630/2020 a fim de averiguar o que estava descrito na proposta sobre manifestações religiosas.

Desinformação propagada por ex-deputado

Em abril de 2023, a informação de que trechos da bíblia seriam banidos das redes sociais começou a circular na internet por meio de publicações do então deputado federal Deltan Dallagnol. No X, Facebook e Telegram, a mensagem ganhou repercussão diante do debate sobre o PL 2630/2020.

Dallagnol alegava que, caso aprovado, o PL das Fake News seria responsável por censurar a fé. Em posts alarmistas, ele convocava cristãos a impedir a votação do projeto na Câmara dos Deputados. Mas na realidade o texto deixava claro que manifestações religiosas não seriam impactadas pela legislação.

O artigo 6º do texto inicial previa que não seriam restritas manifestações artísticas, intelectuais ou de conteúdo satírico, religioso, político, ficcional ou literário. A última versão do PL, entregue pelo relator Orlando Silva (PCdoB-SP) ainda no mês de abril, também não citava a proibição de trechos bíblicos.

À época, o relator chegou a anunciar mudanças no texto para deixar ainda mais explícito que o PL não tinha a intenção de vedar citações da bíblia. Nas redes sociais, Orlando Silva publicou um vídeo gravado com a presença do deputado Cezinha da Madureira (PSD-SP), ex-coordenador da Frente Parlamentar Evangélica, para esclarecer que o projeto não pretendia censurar a prática religiosa.

Um ano depois, em abril de 2024, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), anunciou o engavetamento do PL 2630/2020. Na ocasião, ele também divulgou que seria criado um grupo de trabalho para debater um novo projeto de regulamentação das redes sociais no Brasil.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Estadão já verificou que houve manipulação no vídeo em que a jornalista Daniela Lima aparece comentando sobre o PL das Fake News. O Comprova desmentiu o boato de que o Projeto de Lei iria proibir versículos bíblicos nas redes sociais e também mostrou que é falsa uma imagem que circula pela internet do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, com o boné da Agência.

Notas da comunidade: Até a publicação desta verificação, o X não havia acrescentado notas da comunidade à postagem em questão.

Texto publicado originalmente no Projeto Comprova, do qual a Alma Preta faz parte.

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  • O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhados nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.

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