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Performances em São Paulo revelam tradição dos povos africanos Kongo

A apresentação oferece uma experiência imersiva, mesclando tecnologias audiovisuais contemporâneas com elementos de tradições ancestrais africanas, incluindo canto, percussão e dança
Apresentação da contação de histórias "Dingo-Dingo", que percorre tradições dos povos Kongo.

Foto: Divulgação

19 de agosto de 2024

A rica tradição das populações de Bantu Kongo, formada por um conjunto de povos que habitavam a África Central nas regiões que hoje compreendem Angola, Congo, Gabão e Cabinda, será celebrada em São Paulo com a temporada de apresentações da contação de histórias “Dingo-Dingo”. Até a sexta-feira (23), a cidade recebe apresentações que ocorrerão nos Centros Educacionais Unificados (CEUs), bibliotecas e escolas.

Com mais de 16 anos de estudo nas culturas Bantu, a idealizadora do projeto, Rose Mara Kielela, viveu durante mais de dois anos em Angola, onde teve um contato profundo com os costumes desta civilização. Foi dessa experiência que surgiu a inspiração para criar o projeto “Kindezi”, cujo nome é inspirado na arte Kongo de cuidar das crianças, “ascendendo sóis”.

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As inquietações despertadas pela proximidade com a cultura desses povos e a percepção de que pouco se fala sobre o tema nos ambientes educacionais do Brasil levaram Rose a destacar um problema significativo. Apesar de cerca de 75% das pessoas africanas escravizadas no país terem vindo de áreas Bantu e de uma porcentagem considerável da população brasileira se declarar preta, há uma percepção de apagamento dos dados culturais e históricos de uma etnia historicamente presente no país.

“Dingo-Dingo explora a Dikenga Dia Kongo, o ciclo da vida presente no cosmograma bakongo, abordando o conhecimento dos povos bantu sobre os ciclos da existência. É o entrelaço de mitos dos povos Ambundu e Kongo, processos históricos da diáspora africana, relações sociais contemporâneas e a etnomatemática dos povos Chockwe. Essa temporada de 45 dias promete enriquecer a programação artística de São Paulo, celebrando a diversidade e a riqueza da herança cultural africana ”, diz a idealizadora. 

A performance oferece uma experiência imersiva, mesclando tecnologias audiovisuais contemporâneas com elementos de tradições ancestrais africanas, incluindo canto, percussão e dança. Sob a direção de Rose Mara Kielela, que também assina o roteiro, a produção tem na atuação Palomaris Mathias, Dandara Pilar e a própria Rose Mara, além de uma equipe técnica especializada em direção musical, figurino, preparação corporal e vocal, e consultoria em culturas, filosofias e línguas Bantu.

A iniciativa coloca em prática a Lei 10.639, que garante o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana nas escolas, proporcionando às crianças uma compreensão profunda e respeitosa das contribuições culturais africanas. “Ao compartilhar os traços distintivos da cultura Bantu, estamos não apenas celebrando a riqueza de uma herança marginalizada, mas também reparando a narrativa histórica que negligenciou seus conhecimentos profundos e significativos”, pontua Rose. 

O projeto Kindezi, uma iniciativa inovadora de arte e educação, fundamentada na filosofia Kindezi, a arte Kongo de cuidar das crianças, como relatada e trazida ao Ocidente por K.K. Bunseki Fu Kiau. A abordagem educativa e artística visa trazer uma nova perspectiva sobre arte, educação e cultura, enfatizando a importância de pensar de forma reticular, um princípio central da cultura Bantu.

“O Kindezi não apenas apresenta uma visão única da arte e da educação, mas também busca corrigir uma injustiça histórica. Embora existam leis que exigem o ensino da história e cultura africana nas escolas brasileiras, muitas instituições ainda não abordam de forma abrangente os diversos lados dessa história. Portanto, o Kindezi surge como uma resposta a essa lacuna, trazendo ao debate o conhecimento rico e profundo da cultura Bantu, que tem sido historicamente marginalizado”, esclarece a idealizadora do projeto. 

As apresentações do projeto Kindezi são realizadas em Centros Educacionais Unificados (CEUs) e estão abertas ao público, assim como a biblioteca do projeto. Todas as apresentações são gratuitas e qualquer pessoa interessada pode participar, bastando comparecer no horário indicado. O intuito do projeto é despertar a consciência sobre a riqueza cultural Bantu e promover uma educação mais inclusiva e diversificada, que reconheça e valorize as contribuições históricas e culturais de uma etnia fundamental para a formação da identidade brasileira.

Agenda contação Dingo-dingo

19/08 – Seg – CEU Taipas – 10h e 14h

20/08 – Ter – EMEI Jardim da Conquista – 10h e 14h

21/08 – Qua – CEU Formosa – 10h e 14h

23/08 – Sex – EMEI Santos Dumont – 10h e 14h

  • Redação

    A Alma Preta é uma agência de notícias e comunicação especializada na temática étnico-racial no Brasil.

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