Produção audiovisual de Karoline Maia foi suspensa por falta de recursos; com equipe de produção majoritariamente feminina e negra, filme faz correlação entre a ‘senzala’ e o ‘quarto da empregada’
Texto: Juca Guimarães I Edição: Nataly Simões I Imagem: Divulgação
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A correlação entre o quarto de empregada, na sociedade urbanizada moderna, e a senzala, do período escravocrata brasileiro, faz parte da estrutura central do filme “Aqui Não Entra Luz”. As filmagens da produção audiovisual foram suspensas por falta de recursos e a cineasta Karoline Maia criou uma campanha para arrecadar fundos e finalizar as gravações.
O filme é narrado em primeira pessoa e inclui relatos pessoais da cineasta no roteiro. A equipe de produção é formada majoritariamente por mulheres negras. “Venho trabalhando neste projeto desde 2016. Nós gravamos entrevistas em cinco estados. Eu traço um caminho da busca histórica, arquitetônica e afetiva de seis personagens que já viveram em quartos de empregadas”, conta Karoline.
Na área audiovisual desde 2013, a cineasta relata que em “Aqui Não Entra Luz” resgatou memórias de sua infância com a mãe, que é empregada doméstica e a levava para as casas onde trabalhava. Para escrever o roteiro, Karoline também realizou diversas pesquisas sobre as concepções de ‘quarto de empregada’ e as relações de trabalho e exploração. A professora Suzane Jardim fez a coordenação de pesquisa do filme. Ela conhecida pelo seu trabalho acadêmico sobre raça e encarceramento no Brasil.
O filme foi gravado em cinco estados brasileiros: Bahia, Maranhão, Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo. A decisão de criar uma campanha para arrecadar fundos para retomar às filmagens e concluir a obra foi impactada pelo caso do menino Miguel, de cinco anos, em Pernambuco. A criança caiu do nono andar de um prédio onde a mãe trabalhava como empregada doméstica.
“É um trabalho pouco reconhecido, mal remunerado, pouco respeitado socialmente e as pessoas que trabalham nele ainda têm vidas menos importantes que as outras. O caso do Miguel foi decisivo pra gente tomar coragem e lançar essa campanha. Não foi uma decisão fácil essa de criar uma vaquinha para finalizar um filme no meio de uma pandemia”, diz Karoline.
A expectativa da cineasta é de engajar a sociedade para atingir a meta da campanha que é de R$ 80 mil para a finalização da obra e mais R$ 50 mil para distribuir o filme. “É o momento de chamar as pessoas brancas que estão se incomodando com o racismo para financiar esse filme. É uma responsabilidade delas também. No Brasil, são mais de 6 milhões de trabalhadoras domésticas e é importante pensar sobre isso, porque as mulheres negras recorrem a este tipo de trabalho e como são tratadas”, afirma.
Até o momento, a campanha teve o apoio de 201 pessoas e cumpriu 30% da meta para a finalização do filme. As pessoas interessadas em contribuir podem doar valores a partir de R$ 10.
Confira o teaser do filme: