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‘O frentista que virou artista’: conheça a história do pintor baiano com obras expostas no Louvre

Há mais de 20 anos, Eduardo Lima largou o emprego em um posto de gasolina em Capim Grosso, no centro-norte da Bahia, para viver da arte e hoje conta com obras espalhadas por mais de 25 países
Imagem mostra obras de Eduardo Lima, todas coloridas, e uma foto do artista, que é um homem negro, segurando seus quadros.

Foto: Montagem por Dora Lia/Alma Preta com obras de Eduardo Lima e foto de arquivo pessoal

27 de outubro de 2023

Natural do sertão de Capim Grosso, centro-norte da Bahia, Eduardo Lima resolveu se demitir do emprego para apostar no sonho de ser pintor até que viu a sua vida ser transformada pela arte.

Com obras que retratam as cores e a estética nordestina, o artista plástico já conta com pinturas espalhadas por mais de 25 países e agora celebra a sua chegada no maior museu de arte do mundo: o Museu do Louvre, em Paris, capital da França, onde também estão famosos quadros como “A Mona Lisa”, a escultura grega “Vênus de Milo” e a “Grande esfinge de Tanis”.

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Com mais de 110 mil seguidores no Instagram, o pintor baiano compartilha as suas produções e história de vida. Na sexta-feira (20), ele divulgou um vídeo em que aparece emocionado ao ver seus quadros exibidos no Louvre, onde participa de uma exposição que reúne obras de artistas de diferentes nacionalidades.

Representando a Bahia, Lima apresenta o quadro “Falando ao Coração” e “Ouvindo ao Coração”, obra que retrata brincadeiras infantis e lúdicas, como o “telefone sem fio”. À Alma Preta, o artista plástico conta que se emocionou ao relembrar da sua trajetória.

“Quando eu pisei no Louvre esse filme voltou tudo na minha cabeça: da minha primeira tela, de quando eu pedi conta [do trabalho como frentista], das dificuldades que eu tive, das negatividades que apareciam na minha frente. Passou um filme na minha cabeça e eu não aguentei. Foi emoção total”, conta.

Como homem preto e nordestino, o pintor diz que enfrentou dificuldades no início da carreira. “Um dos motivos que fez com que eu saísse do posto para tentar carreira como artista foi o fato de ser preto e, de certa forma, sentir diminuído e isso eu coloquei como meta na minha vida, que eu sou mais do que isso e que eu tenho mais gás do que as pessoas imaginam”, relembra.

História na arte

Autodidata, foi aos oito anos de idade que Lima passou a se interessar pela arte. Filho de uma cozinheira e um oleiro, ele acompanhava o trabalho do pai e ficou encantado ao ver o barro se transformar em esculturas, tijolos e telhas.

Na escola, as aulas de arte o ajudaram a aperfeiçoar e dar forma ao seu gosto pelo desenho e pela pintura. “Enquanto meus amigos e amigas estavam brincando de bola, de peão, eu gostava mesmo era de desenhar”, pontua.

Somente aos 20 anos, quando trabalhava como frentista, Lima resolveu pintar a sua primeira tela. Tímido, resolveu não divulgar o seu trabalho, mas foi a esposa e uma das suas grandes incentivadoras, Cida Lima, que o ajudou e colocou uma de suas obras na pequena loja que ela tinha e com pouco tempo ele passou a se tornar conhecido na região.

Após sair do emprego em que estava há quase uma década, o pintor pegou o dinheiro que recebeu e comprou um carro para vender seus quadros e participar de exposições e feiras de arte pela Bahia. Atualmente ele e a família vivem na cidade de Barreiras, no extremo oeste baiano, onde o artista tem o próprio ateliê.

Eduardo Lima e a esposa Cida. Foto: Arquivo Pessoal

Arte como transformação

Cores vibrantes e elementos que remetem à cultura do sertão, as obras de Lima retratam o cotidiano e a leveza do povo nordestino.

Além de pintar quadros com representação de importantes nomes do Nordeste, como o cantor Gilberto Gil, e os cangaceiros Lampião e Maria Bonita, o artista também já recriou pinturas clássicas, como os quadros “Abaporu”, de Tarsila do Amaral; “A noite estrelada”, de Vincent van Gogh; o quadro “O grito”, de Edvard Munch, entre outros.

Segundo o artista plástico, a ideia de colocar a estética nordestina e com cores mais vivas nas obras teve como objetivo aproximar e tornar acessível a pintura para o público infantil.

“A ideia inicial era quebrar esse impacto visual porque eu já ouvi pessoas falarem que o fato da obra ser muito escura causava uma certa barreira, algumas pessoas falavam que não visitavam o museu. Ouvindo isso, eu pensei em trazer para a minha temática e assim eu consigo ter o acesso mais fácil para as crianças”, explica.

Eduardo Lima também realiza ações sociais em escolas, onde fala sobre a importância da arte, especialmente para os jovens nordestinos.

“Tudo o que eu quero é que a minha história sirva de exemplo de que é possível viver de arte, é possível se sobressair fazendo o que é certo. Se você fizer o que é certo, certamente você vai colher flores lá na frente. O importante é que esses jovens estejam inseridos em contexto artístico. A arte transforma vidas e ela mudou a minha vida”, avalia.

As obras do pintor também estão disponíveis de forma virtual e em diferentes formatos, como em canecas, cadernos, sandálias e camisetas. Para o futuro, Lima planeja produzir murais por todo o Brasil.

“Eu quero espalhar essas obras pelo Brasil e, quem sabe, pelo mundo e quero assinalar: ‘Eduardo Lima, menino preto, garoto do sertão, que chegou aqui’.”.

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  • Dindara Paz

    Baiana, jornalista e graduanda no bacharelado em Estudos de Gênero e Diversidade (UFBA). Me interesso por temáticas raciais, de gênero, justiça, comportamento e curiosidades. Curto séries documentais, livros de 'true crime' e música.

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